A restauração florestal e a economia do futuro do planeta

O ano de 2021 marca o início da década da restauração dos ecossistemas, declarada pela ONU. A mobilização tem como objetivo aumentar esforços para restaurar ecossistemas degradados, propondo medidas para combate à crise climática, hídrica, alimentar e perda da biodiversidade.

No atual cenário brasileiro, a movimentação do governo federal em relação à proteção e restauração de nossos biomas tem deixado a desejar enormemente, com muitas ‘boiadas’ passando e desmonte da estrutura gerencial e fiscalizatória da área ambiental.

Dados preliminares divulgados pelo Observatório da Restauração e Reflorestamento, o Brasil – que tem como meta junto ao Acordo de Paris restaurar 12 milhões de hectares de áreas desmatadas até 2030 -, só restaurou até o momento 0,55% deste total com árvores nativas.

Apesar disso, iniciativas de estados, municípios, sociedade civil e iniciativa privada podem ajudar a avançar nessa conta.

Projetos e programas como Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, Conservador da Mantiqueira e Programa Reflorestar têm demonstrado a força que a atuação conjunta entre essas diversas instâncias traz para avançar na restauração. 

Os exemplos que citei estão localizados na Mata Atlântica por ser ela o bioma mais degradado do território brasileiro.

Iniciativa privada

Recentemente, o Mercado Livre, líder em tecnologia para e-commerce e serviços financeiros na América Latina, anunciou o início de um trabalho, em parceria com a TNC – The Nature Conservancy e o IPE – Instituto de Pesquisas Ecológicas para reflorestar áreas na região da Mantiqueira e do Portal do Paranapanema.

Chamado Regenera América, o projeto pretende recuperar 3 mil hectares de vegetação em seu primeiro ano, investindo R$ 45 milhões.

Os projetos têm foco, além do plantio de árvores, na regeneração de corredores biológicos (Corridors For Life, em parceria com o IPE) e na proteção de bacias hidrográficas (Conservador da Mantiqueira, em parceria com a TNC).

“Estamos investindo um valor proporcional à pegada de carbono da empresa, referente ao ano de 2020, para apoiar diretamente projetos de conservação e regeneração, que são cientificamente eficazes no combate às mudanças do clima e irão gerar novos créditos de carbono“, afirma Pedro Arnt, CEO do Mercado Livre.

“Queremos contribuir com o desenvolvimento deste mercado, além de ajudar a preservar serviços ecossistêmicos vitais para as pessoas e as empresas, como a água que abastece milhões na região em que operamos.”

No projeto Conservador da Mantiqueira, a iniciativa promoverá a restauração de 2.700 hectares, localizados em pequenas e médias propriedades da Serra da Mantiqueira.

No caso do Corridors For Life, serão criados corredores florestais entre áreas remanescentes de mata nativa por meio do plantio de árvores em áreas degradadas, restaurando cerca de 300 hectares e permitindo o trânsito de animais entre essas áreas.

O Regenera América contará também com apoio da Pachama, startup que utiliza satélite e inteligência artificial na proteção e gestão de ecossistemas, para monitorar os projetos.

E pretende, em médio e longo prazos, expandir a atuação para outros biomas da América Latina, sua área de atuação.

Economia verde

A restauração de ecossistemas tem potencial para criar e movimentar toda uma cadeia produtiva que inclui coleta de sementes, produção de mudas, plantio e manutenção das árvores, elos mais diretamente envolvidos nos processos.

Mas há também potencial para atividades agroflorestais, e tudo isso pode movimentar e dinamizar economias locais, gerando renda e desenvolvimento para as regiões em que são implementadas as ações.

De acordo com o Relatório temático sobre restauração de paisagens e ecossistemas, estima-se a criação de 200 empregos diretos a cada mil hectares em restauração com intervenção humana.

No caso do Regenera América, o envolvimento de comunidades de agricultores nos processos de restauração é colocado como ponto central, buscando implementar e incentivar sistemas agroflorestais e plantação de árvores com sementes comercializáveis.

Os proprietários locais receberão também parte dos créditos de carbono gerados, que podem ser vendidos e reinvestidos em seus empreendimentos.

Produtos da região da Mantiqueira – Foto: Carlos Hansen

Levantamento da TNC Brasil, publicado em 2018, destaca uma estimativa de custo médio de restauração da vegetação nativa no Brasil entre R$ 5,7 mil e R$ 30,8 mil por hectare, a depender do bioma e das condições mais ou menos favoráveis.

Muitas vezes, o custo da restauração pode ser alto para pequenos e médios produtores. Arranjos que envolvam sociedade civil, iniciativa privada e, muitas vezes, governos locais, contribuem para que esses produtores cumpram as obrigações estabelecidas no Código Florestal Brasileiro, recompondo Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais em suas propriedades.

O Código Florestal também prevê incentivos fiscais para conservação, adoção de tecnologias e boas práticas, mas é preciso regulamentar esses mecanismos.

É importante mencionar os chamados co-benefícios da restauração florestal, que incluem proteção de nascentes e do solo, garantia de oferta de água, mitigação e adaptação à emergência climática, controle de microclimas, segurança alimentar, além de geração de emprego e renda e promoção da economia florestal.

É a economia do futuro do planeta.

Edição: Mônica Nunes

Foto: Robert Clark, Divulgação TNC

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.