No último final de semana, Jair Bolsonaro desembarcou, acompanhado de uma grande comitiva em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A visita do presidente brasileiro ocorre durante a realização da Expo Dubai 2020 (adiada para este ano por causa da pandemia da covid). Em sua agenda estão vários encontros para tentar atrair novos investimentos para o nosso país e para tal, é necessário passar a imagem de um Brasil bem diferente do real, ou seja, onde não há inflação, problemas sociais e nem desmatamento.
Foi exatamente esse o discurso que Bolsonaro fez nesta segunda (15/11) durante a abertura do “Fórum Invest in Brasil”, um evento com investidores locais. “Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem, um passeio pela Amazônia é algo fantástico. Até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo“, afirmou. “A Amazônia é um patrimônio. A Amazônia é brasileira. E vocês, lá, comprovarão isso e trarão realmente a imagem que condiz com a realidade”.
Esta não é a primeira vez que o presidente brasileiro repete esse mantra. Em setembro do ano passado, em sua fala na Conferência das Nações Unidas, também usou esse argumento. E ainda afirmou que as queimadas que lá acontecem são causadas por índios e caboclos, “que queimam seus roçados”.
Como diversos especialistas em clima e na Amazônia já explicaram antes, a floresta é como uma “bolha”. “Se as árvores estiverem intactas, elas mantêm a umidade sob o dossel florestal. Entretanto, a extração de madeira, a construção de estradas, o desmatamento e os incêndios podem estourar essa bolha de umidade. Você abre a copa das árvores, certo? É como um monte de buracos na bolha, então a umidade escapa mais facilmente e a floresta se torna mais seca”, diz Ernesto Alvarado, professor de Ciências do Fogo em Terras Selvagens da Universidade de Washington.
Em Dubai, Bolsonaro também afirmou que os “ataques que a Amazônia sofre não são justos”. Segundo ele, mais de 90% de sua área está preservada e “exatamente igual como quando o Brasil foi descoberto em 1.500”.
Vale lembrar que nos últimos 36 anos, a Amazônia perdeu 74,6 milhões de hectares de vegetação, uma área correspondente ao território do Chile. E apenas no mês de setembro de 2021, a floresta teve destruída uma área equivalente a 4 mil campos de futebol, por dia! No total, a devastação chegou a 1.224 km² (leia mais aqui).
A foto usada na montagem que abre este post e que aparece abaixo retrata um momento dessa destruição na Amazônia. Ela foi um dos destaques da edição de 2020 do concurso Wildlife Photographer of the Year. O registro, feito pelo fotógrafo britânico Charlie Hamilton James, no Maranhão, em 2019, é somente um dos muitos realizados, infelizmente, nos últimos anos.
Se não bastasse o discurso completamente desconexo da realidade, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ainda afirmou em Dubai que o Brasil está em busca de “petrodólares”, justamente no momento em que países do mundo todo reconheceram ao final da Conferência das Nações Unidas para o Clima, a COP26, em Glasgow, que é urgente a redução do uso de combustíveis fósseis.
Simplesmente lamentável. Mais uma vez o Brasil, com o atual governo, indo na direção contrária da maioria das nações. Apesar dos brasileiros terem sempre contado com uma matriz energética limpa, baseada na produção hidrelétrica, devido ao aquecimento global e também, ao desmatamento crescente da Amazônia, o país tem enfrentado longos períodos de estiagem e seca, que já causam graves impactos sobre a geração de energia. O resultado fica claro na conta de luz da população.
Sem a floresta de pé, não há chuvas e sem chuva a produção de energia no Brasil fica comprometida. A equação é simples e fundamentada em fatos reais, não num cenário fantasioso criado para engambelar investidores estrangeiros.
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Montagem: foto Bolsonaro – Alan Santos/PR/Fotos Públicas e incêndio Amazônia/Charlie Hamilton James/Wildlife Photographer of the Year
MISERICÓRDIA!!!