A natureza mostra sua força e poder de recuperação no Pantanal, meses após incêndios destruírem vegetação

A natureza mostra sua força e poder de recuperação no Pantanal, meses após incêndios destruírem vegetação

Temperaturas acima da média, poucas chuvas, umidade baixa e consequentemente, a vegetação muito seca, foram o estopim para uma série de incêndios florestais que se propagaram pelos principais biomas brasileiros no segundo semestre do ano passado. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia apresentaram aumento nos focos de incêndio em 2019.

E foi no Pantanal que os números se mostraram mais alarmantes. O crescimento das queimadas na região chegou a 493%, seis vezes maior do que em 2018.

Mas meses depois, a natureza volta a mostrar toda sua exuberância e seu poder único de recuperação. Quem nos conta sobre esta história incrível é Mario Haberfeld, fundador e presidente da Associação Onçafari, projeto que alia ecoturismo e educação ambiental à conservação e coleta de dados científicos, no Refúgio Ecológico Caiman, uma área de quase 53 mil hectares no Pantanal.

Como ocorre normalmente a estação dos incêndios/queimadas no Pantanal?
É comum ter incêndios no Pantanal, mas eles são controlados. Há nove anos que atuamos no Refúgio Caiman e vemos, um ano sim, um ano não, incêndios pequenos, em que os próprios fazendeiros se mobilizam e conseguem apagar o fogo.

Em 2019 o fogo foi atípico? Por que? Qual foi o impacto?
Sim, 2019 foi muito atípico. O fogo foi gigantesco e cerca de 60% da vegetação aqui da propriedade, do Refúgio Caiman, foi queimada. O impacto foi grande: durante um mês a operação de turismo foi fechada e dezenas de animais morreram. Foi um esforço gigantesco de todo mundo para controlar o fogo – bombeiros, pessoal do exército e voluntários.

A natureza mostra sua força e poder de recuperação no Pantanal, meses após incêndios destruírem vegetação

Combate ao incêndio no ano passado

Havia temor de que a vida selvagem e a flora não se recuperassem?
Não, temor não. Sabemos que muitos animais fogem e alguns ocupam áreas que outros deixaram de ocupar. Mas até hoje ainda não sabemos o real impacto dos incêndios do ano passado. Estamos realizando alguns estudos. Achamos que não perdemos nenhuma onça-pintada (são mais de 130 indivíduos identificados na região), mas foi muito triste ver bichos queimados.

Quando vocês começaram a perceber a recuperação da natureza?
Dois ou três meses depois dos incêndios começaram a vir as chuvas e aí a vegetação se recuperou numa velocidade impressionante! Levei alguns amigos para o Pantanal em dezembro e se não fosse pelas fotos, seria difícil perceber que pegou fogo.

A natureza mostra sua força e poder de recuperação no Pantanal, meses após incêndios destruírem vegetação

Imagem aérea da destruição provocada pelo fogo

Que lições vocês tiverem com o que aconteceu em 2019?
Nós, no Caiman, e a região como um todo, estamos nos preparando melhor para eventuais incêndios que ocorram no futuro. Fizemos campanhas de financiamento coletivo e tivemos apoio de financiadores para poder construir mais poços artesianos e lagos, tantos para ajudar os bichos a terem mais reserva de água, como para no caso de incêndios, ter mais fonte de água espalhada pela fazenda.

A natureza mostra sua força e poder de recuperação no Pantanal, meses após incêndios destruírem vegetação

Felizmente, a população local de onças-pintadas sobreviveu aos incêndios

O que pode ser feito para que os incêndios não tomem as proporções do ano passado?
Difícil falar o que pode ser feito. Acho que com a mudança no clima do planeta, esse tipo de evento será cada vez mais comum, como por exemplo, os furacões no Hemisfério Norte e as enchentes em São Paulo. Infelizmente, parece que a humanidade “passou do ponto” de cuidar da natureza e cada vez mais irá sofrer com isso. Especificamente sobre os incêndios no Pantanal, está sendo feito um estudo grande para minimizá-los. Algumas das medidas seria realizar queimadas preventivas.

O antes e o depois: a impressionante recuperação da vegetação do Pantanal

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Fotos: divulgação Onçafari

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.