A moeda da natureza machista

obra que fala sobre o comportamento machista

Se até a lua resolveu se por, é sinal que os tempos são de escuridão mesmo. Tomo o grafite “A Morte da Dona da Lua”, de Mag Magrela para tentar extravazar esse sentimento de impotência que toma conta de mim. A luta pelo ar para respirar e essa contra a cultura do estupro tornam-se a mesma. Não me deixe achar que até a lua virou moeda de troca, que o corpo de mulheres é depósito dessa moeda corrente que é o machismo.

Não pergunte mais, por favor, que roupa cada garota que é estuprada a cada onze minutos no Brasil estava usando ao ser estuprada. Tenha vergonha desse pensamento. De uma vez por todas: bestas humanas estupram com burca.

Em vez de fazer essa pergunta, melhor questionar quantas crianças foram sexualizadas prematuramente, assistindo a propagandas de bebida e programas de auditório que mostram mulheres como um pedaço de carne. Programas, pais e professores que reproduzem a cultura machista e ensinam, com atitudes implícitas, meninos e meninas a achar que só tem valor o corpo que pode ser desejado 24 horas por dia. Crianças e adolescentes que nem tem muita noção do perigo que correm ao trombar com seres abjetos. Portanto, você que tem medo e não passa perto de um batalhão de shortinho, por favor, não culpe quem passa. O  errado é o jugo que maltrata. É sentir a opressão e o medo.

Chega de repetir que a natureza masculina é mais violenta como argumento para amenizar a atitude dominadora de um homem. Vivemos por acaso nos tempos da caverna? Somos ou não seres que evoluímos? Que entendemos, que sabemos, que somos experts, que manjamos de tudo…

obra que fala sobre o comportamento machista

Ela manja dos Paranauê” diz Mag, nos avisando que as mulheres tiram força da dor para lutar. Paranauê vem de um cântico de roda de capoeira. A palavra faz uma alusão à liberdade que os escravos encontraram além do Rio Paraná. A expressão virou meme na internet e é usada para dizer que alguém é fera no que faz. Paraná, em tupi, quer dizer semelhante ao mar, ao rio. Auê é uma saudação. Mas as águas não são limpas, nem tranquilas e a saudação está mais para lamento ou grito.

obra que fala sobre o comportamento machista

E em terra firme o “Terremoto” nos assola. As mulheres se enchem de farpas para poder sobreviver, cercadas pela violência e abuso, machucadas pelo silêncio cortante da impunidade.

Esfaceladas pelo “Ralador” que fragmenta identidades, minimiza dores e transforma em pó as esperanças, as mulheres de Mag falam a todos nós, ou, pelo menos, deveriam… Deveriam ser ouvidas. Devemos conversar com elas. Fazer cada um seu mea culpa por essa ou aquela atitude arraigadamente machista.

obra que fala sobre o comportamento machista

Atitudes que são “Choques de Água Fria” no corpo e na alma de tantas mulheres. Que transformam mulheres em pedras de gelo rachadas. E se o aquecimento global pudesse ser canalizado para esquentar o coração partido em tantos pedaços? Se cada pedaço pudesse ser amalgamado ao outro ao ser feita justiça “Depois do Roubo do Arco-Íris”.   Aliás, o arco-íris nem poderia ter sido roubado.

obra que fala sobre o comportamento machista

obra que fala sobre o comportamento machista

“Roubo do Arco Íris”

Exposição “Não trago seu amor de volta”
Data
: até 4/6
Horário: 11h às 19h30
Local: King Cap Sp
Endereço: Rua Fidalga, 23, Vila Madalena, São Paulo

Fotos: divulgação 

2 comentários em “A moeda da natureza machista

  • 5 de junho de 2016 em 3:08 PM
    Permalink

    ok Karen discutimos isso, e me mostrei conservadora. Vamos ampliar e dizer: desço do ônibus, rua escura, mas escolho a rua clara para ir as duas quadras até em casa, ou a que tem trânsito e podem me ver, para o caso de um bandido aparecer… é só uma questão de tomar mais cuidado, preservar-se quando necessário, porque o velho ditado ‘o seguro morreu de velho’, não é apenas sabedoria popular, é sinal de consciência de si mesmo e dos outros. Não temos como controlar os insanos, mas podemos aparar a s arestas de nós mesmos. Isso para qualquer caso, não somente de estupro.

    Resposta
  • 5 de junho de 2016 em 3:42 PM
    Permalink

    talvez esse artigo para pensarmos que há vários tipos de vítimas: https://jus.com.br/artigos/49457/a-vitima-no-contexto-da-criminologia-contemporanea?utm_source=boletim-diario&utm_medium=newsletter&utm_content=titulo&utm_campaign=boletim-diario_2016-06-05

    considerando que essa menina carioca não teria dado queixa, se outros (mulheres) não o fizessem, porque viram seu video exposto, digamos que ela se arriscou, mas não concorreu para o crime. Tanto é que está no programa de proteção a testemunhas!

    Resposta

Deixe uma resposta

Karen Monteiro

Com arte, tá tudo bem. Se as exposições, peças de teatro, shows, filmes, livros servirem de gancho para falar de questões sociais e ambientais, tanto melhor. Jornalista, tradutora, cronista e assessora de imprensa, já colaborou com reportagens para grandes jornais, revistas e TVs.