A lente pra bicho

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“Qual sua lente pra bicho?”.

Essa é uma pergunta que ouço com certa frequência. E que, eu mesmo, já fiz várias vezes a outros fotógrafos, quando ainda dava os primeiros passos na fotografia de animais.

Mas antes de avançar nesse assunto, preciso dizer que tenho uma certa antipatia pela palavra paradigma. Ela entrou de forma intensa na minha vida quando trabalhei em uma grande empresa. “Quebrar paradigmas” era a palavra de ordem. Ironicamente, mal conseguíamos perceber que esse comportamento padrão de quebrar paradigmas era, justamente, nosso maior paradigma. Acho que vem daí minha antipatia. Sempre fui avesso aos padrões, e acho que isso acabou tornando minha vida mais emocionante (para o bem e para o mal!).

Mas, de fato, é comum a gente ser moldado por paradigmas sem nem perceber. Quando comecei a considerar me jogar de vez na fotografia de vida silvestre, decidi que deveria ter uma “lente pra bicho”. E quem transita pela fotografia, sabe que isso implica em aumentar consideravelmente o peso da mochila e reduzir, numa intensidade ainda maior, o saldo bancário. Ou seja, as teleobjetivas são pesadas e caras!

E assim, depois de economizar enlouquecidamente durante um bom tempo, comecei a viver feliz mais esse paradigma: o de usar uma grande, pesada e cara teleobjetiva para fotografar bichos. Tudo ia bem, até o dia em que li um artigo sobre o famoso fotojornalista húngaro Robert Capa (aquele que fez os incríveis registros do Desembarque da Normandia, na Segunda Guerra Mundial). E, nesse artigo, havia uma citação dele que me tocou profundamente: “Se a foto não está suficientemente boa, é porque você não se aproximou o suficiente”.

Depois disso, passei a buscar, sempre que possível, esse novo ingrediente na minha fotografia: a proximidade. E comecei a gostar muito do resultado! A perspectiva muda, a sensação de ser parte da imagem aumenta. O problema é que não é tão trivial usar esse princípio em fotografia de animais. Eles quase nunca ficam muito felizes com toda essa pouca distância do fotógrafo. Mas quando a coisa funciona bem, dá para conseguir imagens bem interessantes.

A foto deste post foi possível pelo razoável convívio que os atobás-grandes têm com os pesquisadores do Instituto Baleia Jubarte (IBJ), que fazem observação de baleias no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, a partir do Ponto Fixo, na Ilha Santa Bárbara. Aproveitei a tranquilidade desse filhotão para, literalmente, me arrastar até ele (processo que levou vários minutos e que foi registrado pela querida Dani Abras, pesquisadora do IBJ, como você pode ver no final deste post) e, lentamente, consegui aproximar a câmera sem que ele se incomodasse. Assim, pude fazer essa foto usando uma super grande-angular, de forma que o bicho ocupasse uma porção legal da composição, ao mesmo tempo que deu para mostrar o contexto do pôr do sol.

Agora, depois de (mesmo com toda minha antipatia pela expressão) “quebrar mais esse paradigma”, se alguém me pergunta qual é minha lente para bicho, já posso responder: qualquer uma!

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE
A segurança e o bem estar do fotógrafo e do assunto fotografado vêm sempre em primeiro lugar! Este texto não tem intenção, de forma alguma, de estimular aproximações inadvertidas de animais silvestres. A ideia aqui é que, quando há possibilidade de fazer isso, dentro de limites adequados de segurança, conhecimento e ética, o resultado fotográfico pode ser interessante.

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Agora, eis as informações técnicas da imagem escolhida:
– Câmera Nikon D810 (modo Live View)
– Objetiva Nikon AFS 14-24mm f/2.8 @ 14mm
– Velocidade 1/100s
– Abertura f/4
– ISO 1600.

2 comentários em “A lente pra bicho

  • 24 de julho de 2016 em 5:10 PM
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    Bem interessante e bela imagem.O comentário final sobre aproximação dos animais é bem pertinente principalmente em épocas de acasalamento,nidificação ou alimentação .

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    • 2 de agosto de 2016 em 11:28 PM
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      Obrigado pelo comentário, Roberto! Pois é, achei importante ressaltar que não é sempre que dá para ter esse comportamento com os bichos. Aliás, são raras as situações onde isso é possível. Abraço!

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Marcos Amend

A natureza sempre foi uma paixão para Marcos Amend que, ainda adolescente, passou a observá-la também pelas lentes de uma máquina fotográfica. Assim, aliando o talento fotográfico à conservação do meio ambiente, há 25 anos viaja do Norte ao Sul do Brasil e pelos cantos mais remotos do mundo. Colabora com livros, revistas e bancos de imagens e realiza expedições, cursos e workshops de fotografia outdoor.