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A curta vida da câmera do pântano

A câmera do pântano

Em uma de minhas primeiras colaborações aqui no Blog Por Trás das Câmeras, em novembro de 2015, contei um pouco sobre A câmera do pântano. Na ocasião, mencionei que tinha assunto para uma futura postagem, então chegou a hora de compartilhar um pouco mais (mas sugiro que você leia a primeira parte da história antes de continuar!).

A “câmera do pântano” foi um equipamento desenvolvido exclusivamente para o fotógrafo Joel Sartore* pela equipe técnica da National Geographic, quando trabalhamos juntos no Pantanal, em 2003.

Inspirado por ele, fiz uma série de fotos com minha primeira câmera digital (uma Canon PowerShot G3 de 4 megapixels), inclusive a imagem que ilustra esta postagem – e que nunca havia sido publicada por mim.

Certa tarde de sexta-feira, à beira da Rodovia Transpantaneira (MT), encontramos um bando de cabeças-secas (uma espécie de cegonha pantaneira) bastante promissor em termos fotográficos. Lá fomos nós montar o equipamento no brejo, menos de 10 centímetros acima da lâmina d’água.

Instalamos toda a tralha necessária, lembrando que em 2003 ainda eram raros recursos como câmeras digitais, disparadores remotos sem fio e sistemas para observar à distância as imagens que a câmera estava captando.

Nos afastamos e ficamos monitorando de longe o movimento das aves, com Joel fotografando criteriosamente para economizar o rolo de filme. Foi então que um cabeça-seca começou a chegar mais perto, e mais, e mais (e Joel disparando fotos freneticamente), até que percebemos um movimento brusco e a tela ficou preta.

Corremos para ver o que tinha acontecido. A câmera era coberta por um tecido camuflado para não espantar os bichos, e um peixe cascudo que fugia daquele cabeça-seca se escondeu nesta camuflagem. A ave não teve dúvida: começou a puxar o tecido para pegar o cascudo, até que todo o equipamento veio abaixo. Era o fim da curta vida da câmera do pântano…

Naquele momento, a preocupação de Joel nem era com a câmera, já que tínhamos várias outras de reserva, mas sim com o rolo de filme que estava dentro dela, pois segundo ele “as fotos estavam sensacionais”!

Resgatamos o equipamento da água barrenta e em seguida Joel sacou de sua mochila o telefone via satélite que carregávamos para emergências. Não foi fácil explicar por telefone para o pessoal da sede da National Geographic, em Washington, o que estava acontecendo…

Assunto esclarecido, eles nos pediram um tempo para ligarem na Fuji (fabricante do filme), em Tóquio, pedindo orientação. Aguardamos ansiosamente até que, minutos depois, tivemos a resposta: “Coloquem o rolo de filme molhado dentro de um saquinho plástico lacrado, com um pedaço de algodão com água, para manter a umidade. Despachem imediatamente para o laboratório da Fuji no Japão pela forma mais rápida possível!”.

Então percebemos que o conceito de “forma mais rápida possível” é bastante elástico, quando comparamos alguém que está no centro de Washington com nós dois, no meio do Pantanalzão.

Seguiu-se uma verdadeira operação de resgate, como se houvesse alguém seriamente ferido no nosso grupo. Estávamos no limite de horário comercial antes do fim de semana e precisávamos agir rápido. A muito custo conseguimos o contato em Cuiabá – a cidade grande mais próxima – da única empresa de transporte que poderia despachar nossa encomenda até o Japão. Pedimos para nos aguardarem até o limite do expediente, pois tínhamos uma encomenda de máxima urgência.

Chegamos na sede da transportadora menos de cinco minutos antes do horário de fechamento. Nosso rolo de filme foi despachado, recuperado pela equipe da Fuji e uma das fotos nele acabou sendo selecionada para a matéria da National Geographic, publicada em agosto de 2005. Final feliz para a “câmera do pântano”! ?

*Joel Sartore é um dos mais renomados fotojornalistas do mundo. Entre seus projetos está a A Arca de Noé da extinção: um arquivo digital de animais ameaçados de desaparecer.

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