A cada 6 segundos o planeta perdeu um campo de futebol de floresta tropical em 2019: Brasil está no topo do ranking

A cada 6 segundos o planeta perdeu um campo de futebol de floresta tropical em 2019: Brasil está no topo do ranking

Ano a ano as mesmas notícias se repetem. Infelizmente. Em 2019, noticiamos aqui que o planeta tinha perdido 12 milhões de hectares de florestas tropicais no ano anterior e o Brasil havia sido o país com o maior índice de desmatamento. As informações faziam parte de um estudo, com dados da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, publicado pelo Global Forest Watch, uma iniciativa do World Resources Institute (WRI).

Agora um novo levantamento acaba de ser divulgado com o cenário registrado em 2019. Os números continuam a ser alarmantes e o Brasil mantem-se no topo desse ranking vergonhoso.

De acordo com o mais recente relatório do Global Forest Watch, os trópicos perderam 11,9 milhões de hectares de cobertura arbórea no ano passado.

“Quase um terço dessa perda, 3,8 milhões de hectares, ocorreu dentro de florestas primárias tropicais úmidas, áreas de floresta tropical madura que são especialmente importantes para a biodiversidade e o armazenamento de carbono. É o equivalente a perder um campo de futebol de floresta primária a cada 6 segundos durante todo o ano”, explicam os pesquisadores envolvidos no estudo.

O monitoramento aponta que a perda de floresta primária em 2019 foi 2,8% maior do que no período anterior e segue uma tendência de crescimento anual. Essa foi a terceira maior alta desde a virada do século, com exceção dos anos 2016 e 2017, quando houve o registro recorde de queimadas.

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Assim como em 2018, o Brasil aparece em 1o lugar na lista de países que tiveram maior perda de florestas. A destruição chegou a mais de 1,3 milhão de hectares, mesmo número observado no último levantamento. Nosso país é responsável, sozinho, por um terço da devastação de florestas tropicais primárias do mundo.

Na sequência aparecem no ranking, mas com números bem menores, a República Democrática do Congo (475 mil hectares), Indonésia (324 mil hectares), Bolívia (290 mil hectares) e Peru (162 mil hectares) – confira lista completa mais abaixo.

“A Amazônia brasileira enfrentou incêndios excepcionalmente altos em agosto de 2019, mas muitos deles ocorreram em áreas já desmatadas, enquanto os agricultores preparavam terras para a agricultura e pastagens de gado”, afirma o relatório, que aponta ainda perdas preocupantes em terras indígenas no estado do Pará.

“No território indígena de Trincheira/Bacajá, o desmatamento como resultado da apropriação ilegal de terras acelerou em 2019. A mineração ameaça florestas em outros territórios, como Munduruku e Kayapó. Enquanto isso, o governo brasileiro propôs uma nova legislação em fevereiro que permitiria a mineração comercial e a extração de petróleo e gás em territórios indígenas”, denunciam os pesquisadores.

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Há bons exemplos

As autoras do estudo do Global Forest Watch ressaltam, entretanto, que existem países que conseguiram reduzir suas taxas de desmatamento. Dois exemplos citados são Indonésia e Colômbia.

Em 2018, a Indonésia já tinha apresentado o mais baixo nível de perda florestal primária desde 2003, graças a programas de conservação ambiental implementados pelo governo local, que incluem, uma maior fiscalização para impedir queimadas e limpezas de terras, e uma moratória florestal, agora permanente, sobre o desmatamento para plantações e extração de óleo de palma.

No ano passado, o país asiático teve nova queda na perda florestal, de 5%, e com isso, registra os níveis mais baixos desde o começo do século.

A cada 6 segundos o planeta perdeu um campo de futebol de floresta tropical em 2019: Brasil está no topo do ranking

No caso da Colômbia, acredita-se que o empenho governamental também tenha tido bons resultados, acarretando no declínio do desmatamento. O presidente Iván Duque Márquez anunciou planos para conter a destruição da Floresta Amazônica e parques nacionais, com auxílio de forças militares e policiais, e fazer o replantio de áreas desmatadas.

Todavia, com a recessão causada pela pandemia do novo coronavírus, surge um desafio ainda maior para evitar o desmatamento.

“Em vez de sacrificar as florestas em busca de recuperação econômica, o que só acarretará complicações futuras para a saúde e os meios de subsistência de milhões de pessoas no mundo todo, os governos podem fazer melhor. Investir na restauração e na boa administração das florestas criará empregos, contribuirá para economias mais sustentáveis e protegerá os ecossistemas florestais de que o mundo precisa”, afirmam Mikaela Weisse e Liz Goldman, autoras do relatório.

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Foto: reprodução Facebook Global Forest Watch

2 comentários em “A cada 6 segundos o planeta perdeu um campo de futebol de floresta tropical em 2019: Brasil está no topo do ranking

  • 4 de junho de 2020 em 9:50 AM
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    Pena que a gente fique sabendo do estrago DEPOIS da desgraça consumada. Após a casa arrombada, colocar trancas é apenas um paliativo que não trara as riquezas de volta. Já era pra governantes sacarem o problema, agilizando a
    fiscalização e punindo exemplarmente os ladrões das florestas, mercenários da Pátria, inimigos da Natureza e adversários da vida. Se autoridades constituídas não punem, tá mais do que na cara, a razão: ou não querem ou são coniventes. Chorar pelo leite derramado, a gente tá careca de chorar essa choradeira que se ouve até do outro lado do mundo. Bom que quem nao tivesse competência nao se estabelecesse, mas é justo o contrário que a gente vê diariamente quando acorda. Onde a saída, se é que não a obstruíram também?

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  • 25 de novembro de 2021 em 4:18 PM
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    SE FIZER UM RETROCESSO DE 2019 ATÉ 15 ANOS ATRÁS SABEREMOS DE QUEM É A CULPA E A CONIVÊNCIA DE QUEM NUNCA DENUNCIOU NOS GOVERNOS ANTERIORES. AGORA SÓ FALTA DIZER QUE A CULPA É DO BOLSONARO PRA COMPLETAR A MATÉRIA. ETA ESQUERDA MALDITA.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.