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A benção, Xingu!

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A Canoada Bye Bye, Xingu!
 é uma iniciativa promovida pela Escola Schumacher Brasil e pelo Instituto Socioambiental. Quando você lê o nome desse projeto, o que sente? O que pensa? Eu adoraria saber.

Eu, particularmente, me deparo com dois sentimentos. O primeiro é que esta é uma iniciativa maravilhosa. Levar as pessoas para a Amazônia, assim como faço com meu projeto Reconexão Amazônia, é sempre uma aventura sem volta porque nunca mais seremos os mesmos. A floresta mexe muito com a gente. O outro sentimento que me vem é…”eu jamais falaria bye bye ao Xingu!”.

Tenho falado sobre a necessidade de trabalharmos novas abordagens sobre a Amazônia e de realizarmos um esforço conjunto para informar e, ao mesmo tempo, sensibilizar as pessoas. As instituições que citei são respeitadas pelos seus feitos e, com certeza, têm potencial para mobilizar e fazer acontecer.

A viagem tem um propósito bem bom: mostrar a beleza do Rio Xingu, no Pará, a sabedoria do povo da floresta e os impactos, as cicatrizes profundas de um dos maiores absurdos que o governo Dilma promoveu contra a Amazônia: a hidrelétrica de Belo Monte.

Em 2010, trabalhei na comunicação da ONG Amazon Watch justamente na campanha contra a construção desta usina. Fui a comunidades ribeirinhas que, hoje, estão submersas. Participei de reuniões com movimentos locais, indígenas, ribeirinhos, Funai, Ibama, Eletronorte. Fiquei muito mal ao saber, bem de perto, quais eram as irregularidades que envolviam este processo, a falta de caráter de pessoas que, tecnicamente, deveriam trabalhar para assegurar os direitos destes povos e da natureza em detrimento de empresas e governo e não o contrário. Vi o desespero daquela gente prestes a perder casa, cultura, sobrevivência, tradição, comunidade.

Diante do estrago provocado pela construção da usina e voltando à questão que levantei aqui sobre o Bye Bye, Xingu, eu daria um nome diferente para esta expedição, pois o bye bye pode vir a provocar um sentimento de tristeza nas pessoas, como provoca em mim. Ele pode potencializar na mente subconsciente de muitos o adeus que NÃO queremos dar. Eu não quero dar adeus ao Xingu. Aprendi com o admirável povo xinguano que jamais podemos desistir.

Como afirma Theodore Rozak, o pai da ecopsicologia, o movimento ambientalista deve agir para provocar curiosidade e impacto positivo, pois as pessoas agirão em benefício do planeta ao sentirem-se positivamente inspiradas para isso.

Quem vai a esta expedição não vai para dar adeus ao Xingu. Vai para cumprimentá-lo, para agradece-lo, para se fortalecer e se conhecer em suas águas, para doar pensamentos e sentimentos de gratidão e respeito a ele, à floresta e ao povo que nela vive. Vai para dizer sonoro “oi” para a Amazônia para – garanto –, jamais dizer “tchau”, porque a floresta nunca mais sairá do coração dessas pessoas.

A bênção, Xingu!

Foto: Divulgação/ISA

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Marcelo Salazar
7 anos atrás

Querida Karina e demais jornalistas que ainda não tiveram a oportunidade de conhecer o Xingu ou vieram alguma vez mas faz tempo que não pisam por aqui:

Venham pra cá agora! Venham viver e ver o que está se passando com a construção de Belo Monte.

Sinto muito mesmo em lhes dizer, mas o Xingu que existia, não existe mais na Volta Grande do Xingu, fizeram dois paredões, desviaram suas águas, mataram seus peixes, estão trabalhando duro para matar culturalmente os povos do Xingu… o Xingu que está tomando o lugar da Volta Grande é outro, diferente, com belezas de tirar o fôlego, mas com dores difíceis de assimilar… O ponto de partida para o Bye Bye Xingu foi dos índios Juruna que queriam fazer uma festa para dizer adeus ao Xingu … a Canoada surgiu como uma dos momentos dessa despedida. O adeus também instiga e instigou cada um dos participantes dos 3 grupos que vieram para essa expedição. O Adeus não necessáriamente tem uma pegada negativa em todos os seus aspectos… os povos estão brigando para sobrevivier, para reinventar seus mundos, para buscar o novo, novas parcerias pois não mais podem viver como viviam… tem uma barragem na cabeça deles!

Venham para o Xingu agora e talvez o nome da Canoada seja a última coisa que vai lhes incomodar depois da passagem por aqui.

Abraços,

Marcelo Salazar, do Instituto Socioambiental, um dos organizadores da Canoada junto com a AYMIX, associação dos índios Juruna da Aldeia Miratu.

Karina Miotto
7 anos atrás

Querido Marcelo, obrigada por escrever!
Sem dúvida os impactos de uma viagem como essa são eternos, independentemente do nome da canoada. No entanto, o nome da expedição claramente reforça na mente das pessoas que nunca pisaram na Amazônia ou na região do Xingu o triste “adeus” fácil de ser superficialmente compreendido e até reforçado. Não, não queremos que o Xingu desapareça para sempre – “Xingu Vivo Para Sempre”, aprendi isso por estas terras. O adeus dos indígenas é compreendido com profundidade por eles. Certamente usam esse “adeus” de maneira sagrada, respeitosa, emotiva, diferente da maioria de nós. A compreendão deles é diferente da nossa porque eles conhecem a alma do Xingu. De qualquer forma, nós que trabalhamos com comunicação, ativismo, mobilização, educação, devemos com urgência pensar em abordagens mais positivas para a Amazônia se quisermos inspirar mais e mais pessoas a se importarem com ela tanto quanto nós nos importamos. É um caminho longo, que pede apoio mútuo, reflexão, união e que não tem fórmulas certas. Certo mesmo é que devemos começar a inspirar as pessoas à ação mostrando a Amazônia com viés mais positivo. Por isso, esta reflexão sobre o nome da canoada. Até mesmo porque admiro demais o trabalho do ISA. Espero que esta nossa troca seja de alguma valia para vocês. Um forte abraço, Karina

Patricia Galante de Sá
7 anos atrás

Karina, concordo 100%. Já diziam o cineasta Louis Fox e a indigenista Atossa Soltani (ex-Amazon Watch), que precisamos mudar a narrativa vigente, mas não pelo lado da mensagem negativa, que desempodera e imobiliza. A abordagem precisa ser de esperança, de possibilidades, de reação e união coletivas, deixando espaço para que algo ainda possa ser feito. Temos que regenerar as narrativas com urgência, pois palavras têm muito poder para forjar comportamentos e ideias. E buscar um novo glossário onde desenvolvimento não seja mais sinônimo de crescimento, e sim de evolução; onde as noções de ocidente/oriente, direita/esquerda, civilizado/selvagem sejam re-ssignificadas, pois estão para lá de caducas e inadequadas para descrever a complexidade e as nuances da realidade.

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