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92% dos brasileiros reconhece a existência do aquecimento global e, para 72%, “a culpa é nossa”, revela pesquisa

Em tempos de negacionismo climático disseminado na internet, esta é uma boa notícia! A grande maioria dos brasileiros (92%) sabe que o aquecimento global já está acontecendo e que é causado principalmente pela ação humana (77%).

Para 77%, proteger o meio ambiente é importante, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico.

Esses são alguns dos principais destaques da primeira edição da pesquisa Mudanças climáticas na percepção dos brasileiros, realizada pelo Ibope e lançada ontem, 4/2, pelo ITS (Instituto Tecnologia e Sociedade) e pela Universidade Yale, realizada para acompanhar a evolução da percepção sobre clima no Brasil. publicada no site Percepção Climática. Baixe o relatório na íntegra.

Os entrevistados também foram questionados sobre as queimadas na Amazônia: 74% discorda de que elas sejam necessárias para o crescimento da economia, e 84% concorda que elas prejudicam a imagem do país no exterior. A margem de erro é de 2 pontos percentuais, considerando nível de confiança de 95%.

O Ibope ouviu 2.600 pessoas por telefone, devido à pandemia do novo coronavírus, entre 24 de setembro e 16 de outubro. O questionário utilizado foi traduzido e adaptado da pesquisa nacional sobre percepção de clima dos Estados Unidos, aplicado pelo Yale Climate Change Communication.

A universidade americana considerou questões específicas da realidade brasileira. A pesquisa visa medir anualmente o conhecimento e a percepção dos brasileiros sobre a crise do clima, suas causas e suas consequências, e deve continuar a ser atualizada pelo ITS.

“O foco da administração Biden na mudança do clima terá impactos sobre as relações comerciais entre os dois países”, ressaltou Anthony Leiserowitz, do Yale Climate Change Comunication, durante o lançamento. “Há uma oportunidade enorme para a sociedade civil, jornalistas e empresas no Brasil de liderar nesse tema, porque ele importa para os brasileiros”.

Para Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, a pesquisa passa um recado muito claro: “o brasileiro se importa com o meio ambiente, se preocupa com a questão das mudanças climáticas. Inclusive, pessoas que têm pouco acesso à internet, em comparação com os que têm acesso ao mundo online, portanto que têm menos percepção e um conhecimento menor sobre essas questões, mesmo assim, temos que considerar importante. São números muito relevantes”. E completou:

“É óbvio que todos sabemos que esses resultados são muito contraditórios com o cenário no qual a gente vive hoje no Brasil, de negacionismo, o que, para alguns governantes é algo confortável porque, se você nega o problema, você não tem que agir sobre ele. O governo federal negou a existência das queimadas.  

Assim como no mundo dos negócios, essa importância ambiental que está sendo dada pela população, vai, em algum momento, invadir o mundo da politica. É isso que eu espero e é muito isso o que o resultado da pesquisa nos mostra. É o recado que os brasileiros dão nessa pesquisa”. 

Problema de agora e do futuro

Respondendo especificamente sobre aquecimento global, 78% o consideram muito importante conhecer a realidade, com destaque entre os mais jovens (86% entre 18 e 24 anos) e os mais escolarizados (87% com ensino superior).

Também é alta a percepção dos prejuízos que o aumento da temperatura do planeta trará no curto e longo prazos: 72% acreditam que o aquecimento global pode prejudicar muito a eles e a suas famílias, mas uma parcela ainda maior (88%) pensa que afetará bastante as gerações futuras.

Em contrapartida, apenas 25% admitiram saber muito sobre o tema. Esse conhecimento está bastante relacionado à escolaridade e ao acesso à Internet.

Na contramão do negacionismo que viceja nas redes sociais, a maioria dos entrevistados (71%) também considera que há concordância entre os cientistas sobre o tema. Tal proporção diminui entre os menos escolarizados e os mais à direita.

Os principais fatores associados ao aquecimento do planeta são aumento da poluição (19%), a destruição da camada de ozônio (16%), falta de água potável (15%), doenças respiratórias (12%) e derretimento do gelo nos polos (11%).

Só 9% faz ligação com problemas sociais (como fogo e desemprego), 7% com alteração da frequência das chuvas e 4% com aumento do nível do mar.

Estudo publicado em 2016 indicava que aumento do nível do mar ia acelerar
Foto: Ressaca em Santos, em abril de 2016 / Por Denys Sene/Reprodução You Tube

A respeito do meio ambiente, 61% disse estar muito preocupados. As mulheres e os mais à esquerda foram os que declararam maior preocupação (68% sexo feminino e 70% à esquerda).

Algumas providências em relação ao problema aparecem já incorporadas ao dia a dia do brasileiro: 74% indicaram que costumam separar o lixo para reciclar; 59% deixaram de comprar ou usar algum produto que prejudicasse o meio ambiente, mas apenas 11% afirmaram que utilizam energia solar em sua residência, ou outro tipo de energia que não é poluente.

A solução para as mudanças climáticas é vista mais como de ordem institucional e estaria em grande parte nas mãos de governos (35%), empresas e indústrias (32%). Em seguida, aparecem os próprios cidadãos (24%) e, por último, as organizações não governamentais (4%).

Prejuízo à imagem do Brasil

Incêndio no Pantanal em 2020 – Foto: Mayke Toscano / Secom-MT

Durante o período da pesquisa, as queimadas se alastraram pelo país, atingindo Pantanal, Amazônia e Cerrado. No Pantanal, os incêndios foram os piores da história. Os focos aumentaram 539% em 2019 e 124% nesse ano; na Amazônia, subiram 29% e 17% nos dois últimos anos.

Oito em cada dez brasileiros disse saber que a situação das queimadas no bioma amazônico piorou nesse período. E sete em cada dez sabe que a ignição começa pela ação humana.

Os responsáveis diretos pelo fogo na Amazônia seriam madeireiros (33%), seguidos por pecuaristas e criadores de animais (18%), agricultores (18%), políticos (11%) e garimpeiros (7%).

A maioria dos entrevistados (92%) concorda que as queimadas na região amazônica prejudicam a qualidade de vida da população e entende (90%) que ameaçam o clima e o meio ambiente do planeta. A solução para o problema estaria a cargo do governo (54%), dos cidadãos (21%), das empresas (15%) e das ONGs (6%).

Sobre a pesquisa

Números de telefones de fixos e celulares foram selecionados aleatoriamente para a realização das entrevistas. A amostra proporcional foi distribuída de forma a garantir a leitura independentemente dos resultados por região geográfica.

A amostra contabilizou 53% de mulheres e 47% de homens; 24% eram da classe AB, 47% da classe C, 29% da classe DE.

Quanto à escolaridade, 25% tinham até o Ensino Fundamental I, 19% o Fundamental II, 35% o Ensino Médio e 21% o Ensino Superior.

Sobre alinhamento político, 33% se declararam mais à direita, 25% de centro, 16% mais à esquerda. A maior parte (84%) era de usuários de internet.

Sobre cor ou raça, 42% se declararam pardos, 39% brancos, 12% pretos, 5% outras e 1% não responderam. As faixas etárias ficaram assim divididas: 15% de 18 a 24 anos; 20% de 25 a 34; 21% de 35 a 44; 17% de 15 a 54; 28% de 55 ou mais.

Os questionários foram distribuídos por região. sendo 44% aplicados no Sudeste; 26%, no Nordeste; 15%, no Sul; 8%, no Centro Oeste; e 8%, no Norte do país.

Quanto à condição dos municípios, 60% interior; 25% capitais; e 15% periferia.Fatores de ponderação foram calculados pelo Ibope para correção de cotas populacionais, com base em dados da PNAD-IBGE.

Lançamento virtual

A seguir, assista à íntegra do lançamento virtual da pesquisa sobre a percepção climática dos brasileiros, que contou com as presenças de Fabro Steibel, diretor executivo da ITS, Anthony Leiserowitz, diretor do Yale Program on Climate Change Communication, Rosi Rosendo, diretora de contas do Ibope inteligência, Marcelo Brito, cofacilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e Marcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima.

Nota do Conexão Planeta: Só pra recordar, veja as propostas dos candidatos à presidência sobre a agenda climática e ambiental, em 2018. As de Bolsonaro indicavam exatamente tudo que estamos vivendo.
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*Este texto foi originalmente publicado no site do Observatório do Clima, em 4/2/2021. E, para ser publicado aqui. no Conexão Planeta, passou por revisão e edição, que incluiu a introdução de depoimentos de Márcio Astrini e de Anthony Leiserowitz durante o lançamento da pesquisa (assista no vídeo, no final deste post), entre outras alterações
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Foto: Wilco Van Meppelen/Unsplash

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