8 fotógrafos revelam a beleza e a sabedoria de suas comunidades no Brasil, Equador, Colômbia, Guatemala e Indonésia

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“A comunidade é um refúgio onde nos sentimos seguros e amados. Tem sua sabedoria coletiva, linguagem e instrumentos que podem nos proteger e encorajar a ser uma pessoa com virtude”, diz o fotógrafo javanês Michael Eko, ao falar de uma aldeia em West Kalimantan, província da Indonésia.

Sua frase talvez defina bem a intenção de duas organizações – Wildscreen e If Not Us Then Who -, que se uniram em novembro para apresentar uma exposição fotográfica em um evento paralelo à Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, a COP26, em Glasgow, na Escócia.

Com o apoio financeiro de Jessica e Adam Sweidan, elas selecionaram imagens de artistas locais e indígenas do Brasil, Equador, da Colômbia, Guatemala e Indonésia, que definissem o espírito de Comunidade, para homenageá-las.

“As comunidades indígenas estão em uma luta constante para proteger as terras ancestrais e as florestas das quais têm profundo conhecimento e empatia. Eles são guardiões e protetores desses ecossistemas vitais. Suas histórias são um componente essencial para a sobrevivência de nosso planeta”. 

Além de promover a visibilidade desses povos, sua intenção era apoiar os povos indígenas, que estiveram muito representados na conferência – só do Brasil foram mais de 40 lideranças -, mas ainda não fizeram parte da tomada de decisões da Cúpula de Líderes (a jovem Txai Suruí foi a única representante brasileira que discursou na abertura).

“Os povos indígenas estão liderando a luta contra o clima e, durante essa pandemia sem precedentes, precisam do nosso apoio mais do que nunca. É por isso que os lucros de nossas vendas de impressos estão indo diretamente para os artistas que contribuíram com trabalhos para esta exposição”.

As vendas das imagens aconteceram até 28 de novembro e a exposição circulou por hospitais da cidade. Agora, vamos a elas!

EDGAR NANAYKÕ XAKRIABÁ

Edgar pertence ao povo indígena Xakriabá, de Minas Gerais. É mestre em Antropologia pela Universidade Federal de Minas Gerais e profissional independente na área de etnofotografia, que descreve como “um meio de registrar aspectos da cultura – a vida de um povo”. Para ele, “a fotografia é uma nova‘ ferramenta ’de luta, permitindo que o outro veja, com outro olhar, o que é um povo indígena”.

A chama da luta

Em protesto contra os erros cometidos pelo governo Bolsonaro, ele diz: “Como se costuma dizer na aldeia (comunidade), está comendo da mesma panela. Ou seja, o que nos constitui como comunidade é um conjunto de relações sociais e culturais onde estamos e nos tornamos parentes. Nesse sentido, somos indígenas justamente porque fazemos parte de uma comunidade, de um povo onde o senso comum de luta e resistência nos torna um e ao mesmo tempo diversos”.

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A luta pelo território é também uma luta pela água

O povo Xakriabá se banha nas águas do rio São Francisco, que faz parte de seu território ancestral e atualmente integra uma área recuperada.

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Wapte Wawi

A pintura corporal Xakriabá.

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GENILSON GUAJAJARA

Genilson é da etnia Guajajara, do Maranhão. Fotógrafo e comunicador, é formado em cinema indígena pelo projeto Vídeos nas Aldeias (VNA), do cineasta indigenista Vincent Carelli. “Utilizo a fotografia para mostrar o cotidiano da minha aldeia e a luta do meu povo para garantir o bem-estar do nosso território. O nosso território é sagrado para nós e a fotografia ajuda as pessoas a estarem mais próximas da nossa realidade, para que entendam o nosso modo de vida e a ter mais respeito pelo meio ambiente”.

Brigada de Voluntários

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PRISCILA TAPAJOWARA

Priscila (também conhecida como Adrielle Priscila da Silva Tavares) é do povo Tapajó, na Amazônia. Foi a primeira indígena a se formar na Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação, tendo cursado produção audiovisual. Desde então, atua como diretora de cinema, documentarista desde 2013 e comunicadora na Mídia Índia. Para esta série, ela fotografou mulheres e homens Munduruku dançando e cantando em um ritual na aldeia Katõ, na região amazônica.

Guerreiros Munduruku

IRATI DOJURA

Irati é da Colômbia e comenta a fotografia de duas irmãs da aldeia Chidima Chocó, que pertencem à etnia Embera Eyabida: “A irmã mais nova beija com emoção a irmã mais nova, que tem apenas alguns meses. É ela quem a banha no rio todos os dias, é ela que enxuga as suas doces lágrimas na água salgada, tornando a água doce também. O instante genuíno, evidência de amor, irmandade, tudo dissolvido na água limpa e transparente que a inocência traz consigo desde a infância.

Beijo doce, água salgada

ELIZABETH SWANSON ANDI

De Napu Kichwa, Amazônia equatoriana, Elizabeth declara: “Filhos da Amazônia – não sei o que seu futuro reserva, nunca poderia ter adivinhado o meu. Não sei se você terá todas as estrelas ao seu alcance ou se o céu ficará cheio de poluição. Não sei se você conseguirá beber do riacho próximo, nadar no rio ou se será contaminado por derramamentos de óleo. Não sei se você vai conseguir ouvir o canto da selva ao cair da noite, como sempre. Espero que nunca fique em silêncio. Esse é o meu desejo para você”.

Nasceu na Resistência

Catar piolhos é uma linguagem do amor

“Fazia alguns meses que Nemi e eu nos víamos. Quando cheguei à sua comunidade no rio Nushino de canoa, eu a peguei espiando atrás da base de uma árvore. Assim que me sentei, ela correu até mim e começou a mexer no meu cabelo. Eu já sabia que isso era reciprocidade, isso era amor. Muitas vezes as pessoas associam os piolhos com ser ‘sujo’, mas eu sei que é simplesmente um reflexo da nossa proximidade e intimidade com a terra e uns com os outros”.

MORENA PÉREZ JOACHIN

“Este é um relato etnográfico da tradição oral e das crenças da mitologia maia em torno do Lago Atitlán, na Guatemala. É uma reflexão sobre espiritualidade e justiça ambiental em uma comunidade maia da etnia Tzutijil. Morena Pérez Joachin é fotojornalista e documentarista independente que trabalha com temas relacionados aos movimentos indígenas, meio ambiente e migração. Sobre o significado de comunidade, os artistas dizem: “Entre tempestades e nascentes, floresce uma comunidade”.

Qateeya: Nossa Mãe Água

MICHAEL EKO

“Sou fotógrafo de documentários. Desde 2010, sigo comunidades indígenas e de linha de frente na região asiática, adaptando-se às mudanças socioeconômicas, culturais e climáticas atuais”, conta Michael, javanês da Indonésia.

Rio Mendalam, West Kalimantan

Na imagem, registrada em fevereiro de 2010, um agricultor separa manualmente o arroz de sua casca usando os pés. Os indígenas Dayak Kayan nunca usam máquinas para fazer a colheita, pois acreditam que o arroz tem alma e espírito. Acredita-se que a violação desse tabu pode levar a uma quebra de safra na próxima temporada de plantio.

Flores no rio Kapuas, West Kalimantan

“O foco do meu trabalho é mostrar como a história da colonização em relação à globalização contemporânea e a crise climática trouxe um grande impacto para as comunidades locais e seu mundo natural. A comunidade é um refúgio onde nos sentimos seguros e amados. Tem sua sabedoria coletiva, linguagem e instrumentos que podem nos proteger e encorajar a ser uma pessoa com virtude”.

JESUS REINEL TORRES CELEDON

Jesus é um indígena do povo Arhuaco, da Sierra Nevada de Santa Marta, Colômbia, que trabalha como guia profissional para um projeto de regeneração florestal. A foto abaixo foi tirada em um Kankurwa, um lugar onde os Arhuacos se reúnem para tomar decisões.

Encontro com a Comunidade Seyarukwingumu 

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.