40% das espécies de insetos do planeta beiram a extinção. As causas?: pesticidas e perda de habitat

40% das espécies de insetos do planeta beiram a extinção. As causas?: pesticidas e perda de habitat

Quando se fala em extinção de animais, sempre nos veem à mente os grande da natureza: leões, elefantes, rinocerontes, ursos polares. Todavia, uma extinção silenciosa e de proporções ainda maiores acontece e tem sido pouco percebida pelo ser humano: a dos insetos.

No começo do ano, já havíamos divulgado aqui, no Conexão Planeta, um estudo que revelava o dramático declínio de insetos no planeta. O levantamento tomou por base cerca de 73 pesquisas, realizadas nos últimos treze anos, e que resultou em artigo publicado no periódico científico Biological Conservation. Segundo os cientistas, algumas espécies de abelhas, besouros e formigas estão em vias de desaparecer.

Agora, um novo estudo encomendado pela organização britânica South West Wildlife Trusts à Universidade de Sussex traz informações ainda mais alarmantes. Metade de todos os insetos pode ter sido perdida desde 1970 como resultado da destruição da natureza e do uso intensivo de pesticidas.

“Os insetos selvagens são rotineiramente expostos a coquetéis complexos de toxinas que podem causar morte ou desorientação e enfraquecer seus sistemas imunológico e digestivo”, afirma Dave Goulson, professor da Universidade de Sussex, responsável pelo estudo.

De acordo com o relatório, 40% das 1 milhão de espécies conhecidas de insetos estão em risco de extinção.

“Nos últimos 50 anos, reduzimos drasticamente a abundância de vida selvagem na Terra. Muitas espécies que antes eram comuns agora são escassas… Os insetos são de vital importância, como alimentos, polinizadores e recicladores, entre outras coisas. Talvez mais assustador, a maioria de nós não percebeu que alguma coisa mudou. Mesmo aqueles de nós que conseguem se lembrar da década de 1970 e se interessam pela natureza, não conseguem se lembrar com precisão de quantas borboletas ou abelhas havia quando éramos crianças”, escreveu o naturalista inglês David Attenborough, no sumário executivo do estudo.

Abaixo alguns dos dados apontados pela pesquisa:

– Aproximadamente 3/4 das lavouras cultivadas pelo homem dependem da polinização de insetos;

– Nos últimos 25 anos, o número de solicitação para registros de pesticidas dobrou no mundo;

– Uma análise com amostras de abelhas globais revelou que 75% delas apresentam vestígios de neonicotinóide, agrotóxico mais usado no mundo todo;

– Só no Reino Unido, 25 espécies de abelhas e vespas que polinizam flores foram extintas desde 1850 e houve um declínio de 46% das borboletas entre 1976 e 2017.

Goulson ressalta que se o declínio de insetos não for interrompido, os ecossistemas entrarão em colapso com profundas consequências para o bem-estar humano.

“Os insetos compõem a maior parte das espécies conhecidas na Terra e são essenciais para o funcionamento dos ecossistemas terrestres e de água doce, desempenhando papéis vitais como polinização, dispersão de sementes e ciclagem de nutrientes”, explica. “Eles também servem de alimento para numerosos animais maiores, incluindo pássaros, morcegos, peixes, anfíbios e lagartos. Se não dermos um basta à redução de nossos insetos, haverá profundas consequências para toda a vida na Terra”.

Ainda segundo Goulson, não são apenas as abelhas selvagens e outros polinizadores que estão ameaçados – essas tendências se refletem em muitas outras espécies de invertebrados.

Apesar de tudo, os pesquisadores acreditam que ainda há esperança para reverter a situação atual. No relatório, eles recomendam medidas coordenadas entre governos, autoridades locais, agricultores e sociedade.

“Quando eu criança, adorava a abundância de insetos maravilhosos e, como resultado, desenvolvi um amor ao longo da vida pela vida selvagem. Entristece-me que os jovens agora estejam perdendo isso”, diz Steve Garland, entomologista e presidente da Wildlife Trusts. “Eu realmente acredito que o declínio catastrófico de insetos pode ser revertido, ao se reduzir drasticamente o uso de produtos químicos no meio ambiente e criando fortes redes de recuperação da natureza para dar a eles espaço para viver e prosperar em segurança”.

*Com informações da Universidade de Sussex

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Foto: reprodução relatório South West Wildlife Trust

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.