#33DiasSemMachismo: campanha desafia brasileiros a acabar com o machismo diário

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Ainda vamos falar e ouvir muito sobre a barbárie cometida por 33 homens contra uma garota de 16 anos, numa favela do Rio de Janeiro. Vamos repetir, lembrar, nos indignar porque não podemos esquecer que isso aconteceu, porque os culpados não podem ficar impunes, porque precisamos compreender e transformar os motivos que ainda levam nossa sociedade – em pleno século 21! – a desvalorizar e subjugar as mulheres e tudo que se refere ao universo feminino, em qualquer espectro.

Com essa tragédia, as estatísticas sobre estupro no Brasil ganharam a mídia e decoramos um número contundente: a cada 11 minutos uma mulher é violentada. Como se seu corpo fosse público. E, depois do crime – quando tem coragem de denunciá-lo -, ela ainda sofre mais violência na polícia, na família, entre os amigos e outras pessoas que justificam a selvageria culpando-a. Vergonha.

Este é um sinal evidente de que a cultura do machismo está impregnada, em qualquer classe social ou econômica, em ambientes cultos ou absolutamente carentes de tudo. Manifesta-se até no almoço de domingo com a família por meio de piadas engraçadinhas. Está em todos os meios de comunicação, na publicidade, nas redes sociais, em qualquer conversa e até no conselho da mãe ou da vó zelosas e antiquadas. É cultural, mesmo.

E é por isso que a gente tem que começar a mudar isso já. Tomar atitude e não ficar só lamentando! Mas como é que se muda um mau hábito de forma eficiente? Alterando o padrão, aquilo que está posto, observando e fazendo diferente, de outro jeito. Dizem que é preciso ser firme e forte por 21 dias, se não a mudança não acontece, de fato.

33-dias-sem-machismo-logotipoLevando essa ideia em conta e o número de homens que participaram da selvageria no Rio de Janeiro, um grupo de amigos – todos empreendedores sociais – criou a campanha #33DiasSemMachismo, que nós do Conexão Planeta, apoiamos.

Lançada hoje, 1/6, na verdade é um desafio para todos – homens e mulheres, meninos e meninas: passar 33 dias observando e identificando suas atitudes machistas e trocando-as por empatia, compreensão e respeito.

É assim: durante 33 dias, a página do movimento no Facebook vai publicar um desafio para que todos experimentem passar um dia inteiro sem reproduzir, apoiar ou ser conivente com comportamentos que subjulguem as mulheres e fortaleçam a desigualdade de gênero. Mas quem aderir também pode sugerir desafios, praticá-los e compartilhar experiências. Sempre usando a hashtag #33DiasSemMachismo.

“Desafie-se diariamente a praticar a empatia, aprofunde-se em uma nova perspectiva e tire, de uma vez por todas, o machismo da sua vida”. Este é o convite do grupo que reúne as iniciativas Maria Lab, Instituto Think Twice Brasil*, Sementeira – Consultoria em Inovação Social, Raízes Desenvolvimento Sustentável e Casa Imaginária.

A violência contra a mulher no Brasil e no mundo

Agora, veja alguns números levantados pelo grupo durante a criação da campanha.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2015 aponta quase 48 mil estupros em 2014, o que significa que acontece um a cada 11 minutos. Este número já é assustador, mas é possível que a realidade seja muito maior já que grande parte das vítimas não denuncia o crime, por vergonha e medo.

E, como se essa estatística não bastasse para nos indignar, ainda somos um dos países que mais pratica o feminicídio ou homicídio de mulheres por violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação. Estamos em 5º. lugar, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia, Guatemala e Rússia. Desse ranking era melhor não participar.

E, pelo mundo, não é muito diferente daqui. Em 127 países não há leis para impedir relações sexuais forçadas entre os homens e suas esposas ou “estupro marital”. Na República Democrática do Congo, na Índia e na Suécia (!), os casos de violência sexual contra mulheres só crescem.

A ONU – Organização das Nações Unidas considera o estupro como crime contra humanidade desde a década de 90. Quando praticado sistematicamente é classificado como arma de guerra, o que é muito comum na África.

E o coletivo que criou o desafio #33DiasSemMachismo finaliza: “Esses dados indicam que, para discutir o estupro, é necessário abrir a pauta da equidade de gênero e reconhecer que a estrutura sociocultural que rege as relações humanas é repleta de práticas abusivas e opressoras dos direitos das mulheres. Isso acontece no Brasil e no mundo, já que infelizmente essa cultura não é exclusividade tupiniquim.

Revisitar nossas falas, nossas teorias e, principalmente, nossas ações é o primeiro passo para tomarmos consciência da sutileza do machismo em influenciar a forma como enxergamos e nos colocamos no mundo. Sem isso, não há projeto de educação, saúde ou segurança pública que se sustente”.

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*O Instituto Think Twice Brasil é um projeto maravilhoso de Gabriele Garcia e Felipe Brescancini. Os dois fizeram uma viagem incrível de 400 dias em busca de empatia na África e na Ásia. Voltaram transformados e com garra para transformar tudo pelo Brasil. Com seu novo instituto estão espalhando suas experiências pelo Brasil. Um de seus projetos – Mulheres pelo Mundo – virou blog aqui no Conexão Planeta, em maio.

Foto: Domínio Público/Pixabay

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.