205 milionários e bilionários de 13 países – nenhum do Brasil! – pedem a líderes políticos mundiais para pagar mais impostos

Estranhou o ator Mark Ruffalo na foto que ilustra este post? Ele está aqui porque é o rico mais pop entre os 205 que assinam a carta aberta lançada hoje no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, e dirigida aos líderes políticos dos países que participam do evento. Foi no encontro virtual e sugestivo ‘Forcem-nos a pagar mais impostos’.

Como resposta ao relatório da OxfamA “Sobrevivência” do mais rico – porque é preciso tributar os super-ricos agora para combater as desigualdades -, divulgado esta semana no Fórum e que propõe a tributação dos super-ricos para combater a desigualdade, os signatários pedem para que “a riqueza extrema” seja enfrentada com a taxação dos mais ricos, e relacionam a desigualdade à crise da democracia no mundo.

“Como milionários, nós sabemos que o atual sistema tributário não é justo. A maioria de nós pode dizer que, enquanto o mundo atravessou uma carga imensa de sofrimento nos últimos dois anos, nós, na verdade, vimos nossa fortuna crescer durante a pandemia — poucos ou nenhum de nós pode honestamente dizer que pagamos nossa parte justa em impostos”, justificaram no encontro.

Esta foi a primeira vez, em 30 anos, que a riqueza extrema e a pobreza extrema cresceram simultaneamente, diz o documento da Oxfam. O documento destaca que, com a pandemia da covid-19, a concentração de renda explodiu: 2/3 da riqueza gerada – US$ 26 trilhões – ficou nas mãos de 1% da população mundial.

O planeta ganhou um novo bilionário a cada 26 horas e a fortuna dos dez mais ricos dobrou de US$ 700 bilhões para US$ 1,5 trilhão, cerca de US$ 15 mil/segundo ou US$ 1,3 bilhão/dia. No Brasil, 55 pessoas detêm US$ 176 bilhões

É muito chocante. Você consegue imaginar esse montante e o que daria para fazer com ele?

Durante o encontro, um porta-voz do Fórum declarou que o pagamento de uma parcela justa em impostos faz parte dos princípios da organização, bem como uma taxa sobre a riqueza, como existe na Suíça. Este é um bom exemplo já que pouquíssimos países adotam esse tipo de imposto.

Para a Oxfam, entre outras ONGs, e o grupo Milionários Patriotas (que integra a iniciativa como conto mais adiante), aumentar os impostos da elite mundial tiraria bilhões de pessoas da pobreza.

Essa taxa poderia ser progressiva, começando em 2% para os que têm mais de US$ 5 milhões e em 5% para os bilionários, o que resultaria em cerca de US$ 2,52 trilhões, montante suficiente para tirar 2,3 bilhões de pessoas da pobreza e, ainda, garantir saúde e proteção social aos mais vulneráveis que vivem em países pobres

Esta talvez seja a única forma de recuperar a economia global após a pandemia e iniciar um processo justo de distribuição de renda.

Durante o evento, Abigail Disney, herdeira do império do entretenimento multimídia, e a investidora Nick Hanauer alertaram os participantes: “Vocês não vão encontrar a resposta para esse problema em um encontro privado. Vocês são parte do problema”. 

E os brasileiros? E os maiores bilionários do mundo?

Há franceses, britânicos, italianos, suecos, alemães, indianos e canadenses entre os signatários, mas nenhum brasileiro entre os signatários da carta dos super-ricos. Nem Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do país segundo levantamento recente da revista Forbes, que foi destaque nas manchetes desta semana devido ao escândalo das Lojas Americanas: um de seus grupos é o principal controlador da loja de varejo.

Também não aderiram à campanha os dez maiores bilionários do mundo:

1. Elon Musk, da montadora Tesla, de carros elétricos, e da Space-X, um excêntrico de extrema-direita que quer dominar o planeta e o espaço e já levou outros bilionários pra dar uma voltinha por lá, e ainda comprou o Twitter; sua fortuna está avaliada em US$ 231 bilhões; 
2. Bernard Arnault, um dos controladores do grupo LVMH, com 75 marcas de luxo (Dior, Givenchy, Louis Vuitton): US$ 167 bi;
3. Jeff Bezos, da gigante do varejo Amazon: US$ 164 bi; 
4. Bill Gates, da Microsoft: US$ 129 bi; 
5. e 6. Larry Page (US$ 127 bi) e Sergey Brin (US$ 122 bi), ambos do Google;
7. Steve Ballmer, também da Microsoft: US$ 120,7 bi; 
8. o megainvestidor Warren Buffet: US$ 114 bi;
9. Larry Ellison, da Oracle: US$ 100 bi; e
10. Mark Zuckerberg, do Facebook: US$ 89,6 bi.

Denominada Cost of Extreme Wealth (O Custo da Riqueza Extrema, em tradução livre), a iniciativa foi desenvolvida por quatro grupos de ricos conscientes: Milionários PatrióticosMilionários Patrióticos do Reino UnidoMilionários pela Humanidade (do qual faz parte Abigail Disney, que assina a carta)Tax Me Now. A seguir, leia o texto da carta, na íntegra.

A carta dos ricos aos líderes mundiais

Líderes políticos como os presidentes Joe Biden e Lula, dos EUA e do Brasil, e o primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, são conclamados na ilustração do site da campanha, assim como Elon Musk, o maior bilionário do mundo, que não aderiu à causa

Vivemos em uma era de extremos. O aumento da pobreza e o aumento da desigualdade de riqueza; o aumento do nacionalismo antidemocrático; o clima extremo e o declínio ecológico; as profundas vulnerabilidades em nossos sistemas sociais compartilhados; e a oportunidade cada vez menor para bilhões de pessoas comuns de ganharem um salário que lhes permita viver.

Os extremos são insustentáveis, frequentemente perigosos, e raramente tolerados por muito tempo.

Então, por que, nesta era de múltiplas crises, vocês continuam a tolerar a extrema riqueza?

A história das últimas cinco décadas é uma história de riqueza que não flui a não ser para cima. Nos últimos anos, esta tendência tem se acelerado muito. Nos dois primeiros anos da pandemia, os 10 homens mais ricos do mundo duplicaram sua riqueza, enquanto 99% das pessoas viram sua renda cair. Bilionários e milionários viram sua riqueza crescer em trilhões de dólares, enquanto o custo de simplesmente viver está agora paralisando as famílias comuns em todo o mundo.

A solução é clara para todos verem. Vocês, nossos representantes globais, têm que nos tributar, os ultrarricos, e têm que começar agora. A atual falta de ação é gravemente preocupante.

Uma reunião da “elite global” em Davos para discutir Cooperação em um mundo fragmentado é inútil se você não estiver desafiando a causa raiz da divisão. Defender a democracia e construir cooperação requer ação para construir economias mais justas agora mesmo – não é um problema que possa ser deixado para nossos filhos resolverem.

Agora é o momento de enfrentar a riqueza extrema; agora é o momento de tributar os ultrarricos.

Só há tanto estresse que qualquer sociedade pode suportar, só que, muitas vezes, mães e pais verão seus filhos passar fome enquanto os ultrarricos contemplam sua crescente riqueza. O custo da ação é muito mais barato do que o custo da inação – é hora de continuar com o trabalho.

Taxe os ultrarricos e faça-o agora. É uma economia simples, de senso comum. É um investimento em nosso bem comum e um futuro melhor que todos nós merecemos, e como milionários queremos fazer esse investimento.

O que – ou quem – está impedindo vocês?
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Foto: Reprodução do Facebook de Mark Ruffalo

Fontes: G1, Jamil Chade/UOL, Correio Brasiliense

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.