2017, o ano dos bilionários! 82% da riqueza está nas mãos de 1% das pessoas mais ricas

O mundo, agora, tem 2.043 bilionários. Ganhamos um bilionário dia sim, dia não, no ano passado. E o mais no sense: essa riqueza toda seria capaz de eliminar a pobreza extrema no planeta… mais de sete vezes! E a cada dez bilionários, apenas um é do sexo feminino.

No Brasil, agora temos 43 bilionários; ganhamos 12. Com um detalhe: apenas cinco, desse total, detêm o mesmo patrimônio que metade das pessoas mais pobres no país. Nos Estados Unidos, esse cenário também é surreal: apenas três pessoas detêm o mesmo que 160 milhões (!!!) de pobres.

Estes são alguns dos dados vergonhosos do mais recente relatório da Oxfam divulgado ontem, 22/1/2018 – RECOMPENSEM O TRABALHO, NÃO A RIQUEZA -, e resultam de entrevistas com mais de 120 mil pessoas em 10 países, em cinco continentes, e de uma série de estudos, entre eles os que foram produzidos pela ONU e OIT (Organização Internacional do Trabalho), pelo Fórum Econômico, Mundial, o Banco Mundial e o Credit Suisse (com seu World Inequality Report 2017), pela consultoria McKinsey e ainda o ranking da revista Forbes.

Trata-se de um retrato cruel e fiel da desigualdade social e da concentração de renda que revela, ainda, que 82% da riqueza produzida em 2017 está nas mãos de apenas 1% das pessoas mais ricas. Para os 50% mais pobres, NADA!

E claro que as mulheres também não estão nada bem retratadas nesse documento. Ele toca numa das grandes feridas do capitalismo, que sustenta a economia no mundo: a falta de remuneração do trabalho doméstico realizado pelas mulheres. Segundo a ONU, se fossem pagas pelos cuidados que empreendem em casa – cuidar dos filhos, lavar, passar, cozinhar, gerir sua economia etc etc -, elas receberiam cerca de 10 trilhões de dólares.

Só pra não deixar de comentar, uma outra grande ferida do capitalismo é a falta de valoração dos serviços ambientais, aqueles prestados a cada segundo pela natureza. Que o diga o economista Pavan Sukhdev. Mas essa é uma outra história.

Extrato social e gênero não foram os únicos recortes do relatório. A Geografia também ganhou espaço e revelou dados contundentes. Contou, por exemplo, que, os juros recebidos pelo nigeriano mais rico com aplicações de sua fortuna em um ano tirariam dois milhões (!!!) de pessoas da pobreza extrema.

Contou também que um executivo americano pode receber, em apenas um dia, o mesmo que um trabalhador médio… em um ano de trabalho! Por aqui, quem recebe salário mínimo (23% dos brasileiros) precisa trabalhar 19 anos seguidos para ‘ganhar’ o mesmo que alguém que pertence àquela parcela dos 0,1% mais ricos e recebe em um mês. Por isso é que tínhamos 31 bilionários em 2016, e agora temos 43!

De acordo com o relatório da Oxfam, há práticas – que ficaram suprimidas em alguns períodos em determinados países de governos socialistas, mas que voltaram à pauta como no Brasil, depois do golpe -, que só servem para aumentar a desigualdade, como redução de custos trabalhistas, salários e direitos dos trabalhadores. Por aqui, a redução dos custos trabalhistas, com na polêmica reforma do governo Temer, é um exemplo. Há países onde a adoção de um salário mínimo é fato e os sindicatos ainda são fortes e conseguem manter negociações coletivas, mas, em geral, mesmo nestes casos, esse salário não é suficiente para manter a sobrevivência em padrões aceitáveis.

Hoje, ter emprego não significa driblar a pobreza. De acordo com a OIT, no ano de 2016, existia cerca de 40 milhões de pessoas escravizadas no mundo, sendo que quatro milhões eram crianças! Como pode existir isso, ainda? Como destaca o relatório da Oxfam, “o trabalho insalubre e mal remunerado de muitos garante a riqueza extrema de poucos”.

Heranças, um caso à parte
Agora, outro tema polêmico do relatório: herança. A maior parte das grandes fortunas – cerca de 1/3 – não tem origem no esforço, mas nas famílias, no montante que deixam para seus herdeiros. E do jeito que vai, nos próximos 20 anos, a riqueza deixada por cerca de 500 dos mais ricos do planeta será de mais de dois trilhões de dólares.

Só que a grande questão das heranças, em geral, é que estão relacionadas à evasão fiscal. Isso significa que – por meio de uma rede poderosa de paraísos fiscais; lembra dos Panamá Papers? – os ricaços escondem quase mais de 7,5 trilhões de dólares!

Calculou quanto se deve de imposto, aqui? O que se perde e o que daria pra fazer com esse dinheiro? Traduzindo: 1% das pessoas mais ricas do mundo sonega cerca de 200 bilhões de dólares em impostos, o que significa que os países em desenvolvimento perdem, pelo menos, 170 bilhões de dólares a cada ano. Os sonegadores podem ser tanto pessoas físicas quanto jurídicas, todos super-ricos.

Há solução para tanta desigualdade?
Sim, existem! Entre elas está o aumento da tributação das grandes fortunas, de acordo com o desenho dos entrevistados ouvidos para este relatório. O Fundo Monetário Internacional (FMI) defendeu essa medida, recentemente, mas no nosso país, as leis não permitem que a proposta seja colocada em prática.

A elite é poupada de pagar impostos sobre lucros e dividendos de suas empresas. Por outro lado, as pessoas mais pobres e de classe média são cada vez mais taxadas. Que justiça é essa?

E a Oxfam finaliza: “Os governos devem criar uma sociedade mais igualitária, priorizando trabalhadores e pequenos produtores de alimentos e não os super-ricos e poderosos”. Sonho?

Foto: Gigieffe/Pixabay

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.