Fentanil é um analgésico para dores intensas que é 100 vezes mais potente que a morfina. Nos últimos anos, o opioide se tornou também uma droga utilizada ilegalmente em grande escala por usuários de diversos países, entre eles o Canadá e os Estados Unidos, que registram milhares de mortes, anualmente, por overdose.
Agora pesquisadores da Universidade Texas A&M-Corpus Christi (EUA), em parceria com a Administração Nacional Atmosférica e Oceânica (NOAA) e a consultoria Precision Toxicological Consultancy relatam a descoberta da presença de fentanil em golfinhos de vida livre.
A pesquisa foi feita com 89 golfinhos-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus) de três regiões diferentes do Golfo do México. Em 83 deles houve coleta de amostras por meio de biópsia de animal vivo e seis eram animais encontrados mortos. Desse total, 30 deles tinham algum tipo de medicamento farmacêutico na gordura de seu corpo e em 21 deles havia resíduos de fentanil, incluindo nos três já sem vida.
“Os medicamentos farmacêuticos são substâncias terapêuticas usadas na medicina humana e veterinária para diagnosticar, tratar, curar ou prevenir doenças”, diz Dara Orbach, professora assistente de Biologia Marinha da universidade e principal pesquisadora do estudo. “No entanto, o uso indevido de produtos farmacêuticos pode causar efeitos nocivos, incluindo resistência a antibióticos, dependência, overdose e mortalidade. Além disso, os produtos farmacêuticos se tornaram micropoluentes emergentes e são uma preocupação global crescente, pois sua presença foi relatada em ecossistemas de água doce, rios e oceanos em todo o mundo.”
Ainda de acordo com o estudo, amostras de tecido de golfinhos que vivem em áreas com altos riscos de ameaças, como derramamentos de óleo, tráfego de embarcações e proliferação de algas, apresentaram níveis mais altos de contaminação farmacêutica.
“Os golfinhos são frequentemente usados como bioindicadores da saúde do ecossistema em pesquisas de contaminantes devido à sua gordura rica em lipídios que pode armazenar essas substâncias e ser amostrada de forma minimamente invasiva em animais vivos”, explica Dara. “Nós encontramos um golfinho morto na Baía de Baffin, no sul do Texas, um ano após a maior apreensão de fentanil líquido na história dos EUA no condado adjacente. E os golfinhos do Mississippi representaram 40% de nossas detecções farmacêuticas totais, o que nos leva a acreditar que este é um problema de longa data no ambiente marinho.”
Os pesquisadores ressaltam ainda que os golfinhos ingerem muitos dos mesmos alimentos consumidos por nós, como peixes e camarões, o que soa o alerta para possíveis impactos na saúde humana.
“A exposição crônica a produtos farmacêuticos e seus efeitos cumulativos em mamíferos marinhos ainda não são totalmente compreendidos, mas sua presença em três populações de golfinhos no Golfo do México ressalta a necessidade de estudos em larga escala para avaliar a extensão e as fontes de contaminação”, alerta a professora da Texas A&M-Corpus Christi. “Nossa equipe de pesquisa enfatiza a necessidade de monitoramento proativo de contaminantes emergentes, especialmente em regiões com grandes populações humanas e grandes indústrias de pesca ou aquicultura.”
Esta não é a primeira vez que estudos desse tipo são feitos com golfinhos. Em 2019, cientistas da Universidade Florida Atlantic, também nos Estados Unidos, encontraram um aumento na resistência a antibióticos em organismos (vírus, bactérias, fungos, protozoários) presentes nas fezes, fluidos gástricos e narinas de animais que viviam na Indian River Lagoon.
Dos 733 agentes patogênicos analisados (organismos), coletados em 171 indivíduos, 88% deles se mostraram resistentes a pelo menos um tipo de antibiótico (leia mais aqui).
———————
Acompanhe o Conexão Planeta também pelo WhatsApp. Acesse este link, inscreva-se, ative o sininho e receba as novidades direto no celular
Leia também:
Rios próximos a fazendas de suínos no Paraná estão contaminados com bactérias resistentes a antibióticos, colocando a saúde humana em risco
Análise de dentes de ursos em áreas remotas da Escandinávia revela resistência a antibióticos
Foto de abertura: Jonas Von Werne on Unsplash