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Animais mais velhos e sábios estão sendo mortos e com eles perde-se um conhecimento vital da natureza

Animais mais velhos e sábios estão sendo mortos e com eles perde-se um conhecimento vital da natureza

Algumas espécies na vida selvagem vivem até idades muito avançadas. Escrevi recentemente, por exemplo, sobre a albatroz Wisdom, considerada a mais velha do mundo, que aos 74 anos, acaba de colocar um ovo. Já nos oceanos, existem tubarões, como o da Groenlândia, que beiram os 400 anos. Apesar de por muito tempo ter se associado o envelhecimento com o declínio físico e mental, cientistas começaram a descobrir que, na vida selvagem, esse conceito pode ser incorreto e a presença de animais mais velhos em seus ecossistemas é vital para as futuras gerações.

Em um artigo científico publicado na revista Science, há poucas semanas, um grupo de pesquisadores internacionais alerta sobre como o planeta está perdendo seus animais mais velhos, maiores e experientes, e defende que a idade seja também levada em consideração tanto por estratégias de proteção, como reconhecida pela União Internacional de Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês) ao listar espécies ameaçadas de extinção.

“Para proteger indivíduos idosos e manter ou restaurar a estrutura etária das populações selvagens, propomos medidas de “conservação da longevidade”, afirma o pesquisador Keller Kopf, da Universidade Charles Darwin, da Austrália, em artigo no site The Conversation. “Novas políticas e ações decisivas são necessárias para proteger e restaurar os papéis e serviços ecológicos cruciais que os animais velhos, sábios e grandes fornecem.”

No texto, os cientistas fornecem vários exemplos de animais que, ao se tornarem mais idosos, desempenham papéis diferenciados em seus grupos. Entre os peixes e répteis, sabe-se que eles crescem exponencialmente em tamanho ao longo da vida, e isso lhes dá a capacidade de se reproduzir melhor e até, gerar mais filhotes.

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Todavia, na pesca, são exatamente esses indivíduos maiores que são abatidos e os juvenis preservados, em parte por causa da falta de entendimento da ciência no passado de como esses animais se desenvolviam.

Segundo uma análise apresentada no estudo, a pesca causou um declínio sistemático na abundância de peixes mais velhos, com uma redução entre 79 e 97% das populações oceânicas examinadas. O mesmo foi observado entre elefantes com idade mais avançada na África, mortos por causa de seus chifres ou como troféus de caça.

Com a idade, vem a sabedoria

Já entre as aves, revelam os pesquisadores, mães mais velhas conseguem garantir mais comida e melhor habitat para seus filhotes. E elas também costumam buscar parceiros com mais idade. “Esses machos comumente assumem papéis sociais cruciais, como liderar movimentos de longa distância como migração, e regular estruturas sociais, como reduzir comportamento agressivo. Esses comportamentos influenciam a tomada de decisões com consequências diretas para a sobrevivência do grupo e da prole“, revela Kopf.

Quando deixam de ter a capacidade de se reproduzir, fêmeas mais velhas, de espécies tão distintas como as elefantas e as orcas, se tornam avós que ajudam a guiar seus grupos e levá-los para locais onde haverá maior abundância de alimentos. Esse é um conhecimento passado de geração a geração – um processo chamado de transmissão cultural – e quando um desses animais mais velho morre, corre-se o risco de que essa memória coletiva se perca.

E não são apenas esses grandes animais, mais conhecidos pelos seres humanos, que estão em risco. Os pesquisadores citam ainda espécies como corais de águas profundas e esponjas antárticas, que podem viver por milhares de anos, e estão sendo colhidos, danificados por equipamentos de pesca e afetados pelas mudanças climáticas. Seres que levam muito tempo para crescer e atingir sua maturidade.

“Os animais velhos da Terra estão em declínio. Apesar disso, novas pesquisas revelam as contribuições vitais de indivíduos mais velhos para a transmissão cultural, dinâmica populacional e processos e serviços ecossistêmicos”, ressaltam os autores do artigo da Science. “A conservação da longevidade é fundamental para proteger os importantes papéis ecológicos fornecidos por eles.”

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Foto de abertura: Joaquín Rivero on Unsplash

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