Há pouquíssimas fotos existentes do periquito-noturno (Pezoporus occidentalis), o que demonstra quão rara é essa ave da Austrália. Ele é mais conhecido por ilustrações, como a acima, feita no século XIX. Considerado em perigo crítico de extinção, ou seja, um estágio antes de desaparecer por completo da natureza, ele é muito difícil de ser avistado, justamente por ter hábitos noturnos, como seu nome popular indica.
Durante quase um século acreditou-se que o periquito-noturno já tivesse sido extinto. Todavia, em 2013 aproximadamente 20 indivíduos da espécie foram encontrados em áreas áridas de deserto, seu habitat natural, em Queensland e no oeste do país. E agora, pesquisadores australianos celebram a descoberta do que é considerada a maior população dessas aves já identificada até hoje.
O anúncio foi feito esta semana por um grupo de cientistas de várias instituições da Austrália, entre elas a University of Western Australia, em parceria com guardas-florestais da Ngururrpa Indigenous Protected Area, uma área protegida administrada por essa etnia indígena. Foi na região do Deserto de Great Sandy, localizado dentro da reserva, que se encontrou a população de cerca de 50 periquitos-noturnos.
Esses periquitos passam o dia dentro de túneis que eles cavam entre arbustos baixos (spinifex), vegetação comum nessas regiões desérticas. Eles ficam ali para se proteger das altas temperaturas, que podem beirar os 40oC. E só durante a noite é que saem desses abrigos para buscar alimentos.
Com a ajuda do conhecimento dos guardas-florestais, os pesquisadores australianos instalaram gravadores acústicos em 31 áreas próximas a esses arbustos para documentar os sons produzidos durante a noite, assim como armadilhas fotográficas para registrar as espécies presentes nesses locais.
“Queríamos detectar as vocalizações dos periquitos, que consistem em assobios, coaxos e sons semelhantes a sinos, e que são únicos para cada indivíduo”, explicaram os cientistas. Segundo o grupo, foram identificados chamados noturnos da espécie em 17 dos 31 locais analisados.
Foto: University of Queensland
Em um artigo científico na revista Wildlife Research, os pesquisadores não apenas relatam a importante descoberta, mas revelam que as principais ameaças à sobrevivência dessas raríssimas aves são os incêndios e gatos selvagens.
“Um programa de monitoramento de longo prazo para os periquitos-noturnos de Ngururrpa deve ser estabelecido para ajudar a entender melhor e proteger essa população de vital importância”, recomendam os autores do artigo. “E a natureza remota e selvagem dessa paisagem deve ser mantida, assim como minimizar a perturbação de pessoas e veículos.”
Foto: Ngururrpa Indigenous Protected Area
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Ilustração de abertura: Elizabeth Gould (1804–1841), Public domain, via Wikimedia Commons
