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Exonerado por Bolsonaro do Inpe, Ricardo Galvão estará na lista dos 10 Cientistas do Ano da Nature

Exonerado por Bolsonaro do Inpe, Ricardo Galvão estará na lista dos 10 Cientistas do Ano da Nature

A revista britânica Nature, fundada em 1869, é uma – se não – a mais respeitada e citada publicação científica do mundo. Anualmente, ela divulga a “Nature’s 10”, uma lista com os “10 Cientistas do Ano” – pessoas que realmente fizeram a diferença para a ciência nos últimos doze meses.

O anúncio oficial da lista só será feito na próxima terça-feira, 17/12, mas o físico brasileiro, ex-diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Ricardo Galvão, antecipou que está entre os dez nomes escolhidos para a edição de 2019.

Galvão contou ao jornal O Globo que foi entrevistado por jornalistas da revista há duas semanas, quando participava de um ciclo de palestras na Universidade Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos.

“Naturalmente, como brasileiro, me sinto triste pelo motivo da indicação ter sido o fato de o governo não ter cumprido suas obrigações com a preservação da Floresta Amazônica. Por outro lado, fico satisfeito, porque foi um momento difícil decidir o que fazer naquela ocasião, mas entendi que deveria demarcar uma posição firme. Não era apenas a questão do desmatamento, mas um ataque à ciência brasileira”, disse Galvão ao Globo.

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“A parte boa é que a reação não só da socidade brasileira, mas de toda a comunidade internacional, foi enorme. A preservação da Amazônia atraiu interesse do mundo todo e colocou o governo brasileiro em uma posição extremamente constrangedora”, afirma.

Ataques ao Inpe e a Galvão: tudo para esconder o desmatamento

Historicamente, o governo federal sempre levou em conta os índices de demastamento da Amazônia publicados pelo Inpe. Eles eram considerados os ‘oficiais’. Nunca antes foram contestados.

Todavia, desde que Jair Bolsonaro assumiu a presidência, o atual governo tem se mostrado desconfortável com as taxas de desmatamento (em franco crescimento) apontadas pelo instituto. Há algum tempo, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mencionou que estaria pensando em contratar empresas privadas para realizar o monitoramento da Amazônia. E não foi só ele. Diversos outros integrantes do governo tentam, de qualquer forma, desqualificar o trabalho do órgão.

A situação chegou a um nível tão constrangedor, que em julho, cientistas refutaram as declarações do governo contra o Inpe, em nota à sociedade e carta a Bolsonaro. No documento, mais de 50 integrantes da Coalizão Ciência e Sociedade defenderam o instituto, que é estratégico não só para o controle do desmatamento e a regulação das mudanças climáticas, mas também para a preservação da biodiversidade e a sustentabilidade da economia, incluindo o agronegócio.

Não bastasse tentar colocar em dúvida o sério trabalho realizado pelos cientistas do Inpe, a credibilidade de Ricardo Galvão, diretor do instituto, também foi posta em dúvida.

De maneira vil e baixa, Bolsonaro agrediu o profissional. “Se for somado o desmatamento que falam dos últimos 10 anos, a Amazônia já acabou. Eu entendo a necessidade de preservar, mas a psicose ambiental deixou de existir comigo”, disse o presidente. E ele foi além. “A questão do Inpe, eu tenho a convicção que os dados são mentirosos, e nós vamos chamar aqui o presidente do Inpe para conversar sobre isso, e ponto final nessa questão… Mandei ver quem está à frente do Inpe. Até parece que está a serviço de alguma ONG, o que é muito comum”.

Insultado com as afirmações, Galvão se defendeu e afirmou que não deixaria o cargo. “Tenho 71 anos, 48 anos de serviço público e ainda em ativa, não pedi minha aposentadoria. Nunca tive nenhum relacionamento com nenhuma ONG, nunca fui pago por fora, nunca recebi nada mais do que além do meu salário com o servidor público”.

O diretor falou ainda sobre o trabalho do instituto, muito respeitado não só no Brasil, como no exterior também. “Esses dados sobre desmatamento da Amazônia, feitos pelo Inpe, começaram já em meados da década de 70 e a partir de 1988 nós temos a maior série histórica de dados de desmatamento de florestas tropicais respeitada mundialmente”.

Em agosto, o diretor do Inpe foi exonerado de seu cargo após os ataques sistemáticos de Bolsonaro e Salles.

Com a inclusão do nome de Ricardo Galvão na “Nature’s 10”, a comunidade internacional mostra não apenas o apoio ao cientista, que não baixou a cabeça ao ocultar dados sobre o desmatamento e manter seu cargo a qualquer custo, mas também, envia uma mensagem clara ao governo brasileiro que a ciência não pode ser calada.

“Uma das razões que a Nature informou ter me escolhido é que, no momento em que se propagam questões obscurantistas, negacionistas e terraplanistas, tive a coragem de contrariar o governo mostrando a importância da ciência. Ela não pode de forma nenhuma ser atacada. Tenho sempre repetido que todo gestor público, todo líder de um país deveria ter consciência de que, quando se trata de questões científicas, não há autoridade acima da soberania da ciência”, revelou Galvão.

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Foto: Divulgação/Inpe

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