Carnaval é época de alegria, mas também serve para colocar na avenida a voz abafada do povo brasileiro. Foi por esta razão que este ano a Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense escolheu como samba enredo “Xingu, o clamor que vem da floresta”.
Além de reverenciar a cultura e as tradições dos povos indígenas do Xingu, a escola levou para a Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, na noite do domingo (26/12), fantasias e carros alegóricos que alertavam sobre o impacto ambiental na floresta e os efeitos da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no curso no rio Xingu.
A escola fez uma crítica aberta ao setor ruralista. O nome de algumas de suas alas eram “olhos da cobiça”, “doenças e pragas” e “fazendeiros e seus agrotóxicos”.
A escola levou para a avenida a opressão aos povos indígenas do Xingu
O público conheceu ainda no desfile da Imperatriz Leopoldinense algumas das tradições sagradas dos índios, revelando a conexão vital que eles têm com a natureza. O carro abre-alas “Templo Sagrado” mostrava o Kuarup, nome de uma madeira e de um ritual indígena. Entre seus destaques, estava o Pajé Sapain, de 102 anos, principal liderança do Xingu.
O carro abre-alas da Imperatriz Leopoldinense
Cobras, aves, peixes, onças e outros animais, que habitam a floresta da região, passaram pela avenida, nas fantasia dos passistas. A atriz Cris Vianna, com um lindo cocar laranja e amarelo, foi a Rainha da Bateria.
Cris Vianna, ao lado da bateria
Recentemente, mostramos aqui como as queimadas no Parque Indígena do Xingu tem aumentado assustadoramente devido à expansão do agronegócio. Segundo dados do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em 2008, foram registrados 93 incêndios florestais no parque. Oito anos depois, em 2016, eles chegaram a 147, um aumento de 58%. Em 2015, o número de incêndios foi ainda maior, 185 ocorrências.
O Parque Indígena do Xingu é uma área de 26 mil km2, localizada na região nordeste do Mato Grosso, na porção sul da Amazônia brasileira. Criado em 1961, o local foi a primeira terra indígena homologada pelo governo federal. Seu status de parque se deve, sobretudo, ao trabalho dos irmãos e sertanistas brasileiros Villas Bôas, que lutaram pela preservação da fauna e flora e também, o resguardo das culturas indígenas da região.
Vivem nele povos indígenas Aweti, Kalapalo, Kamaiurá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Nahukuá, Naruvotu, Trumai, Wauja e Yawalapiti.
Integrantes da Comissão de Frente
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Fotos: divulgação RioTur/Fotos Públicas