Zumbis do capitalismo: grupo de artistas e ativistas faz performance por mais humanidade no G20


Cerca de mil homens e mulheres cobertos de argila cinzenta, sem ânimo, como se não tivessem vida, com olhar parado, focado no nada, andando pelas ruas e estações de metrô de Berlim e Hamburgo, sem direção – ou caídos no chão -, como zumbis, em estado de transe. Parecia uma cena do filme “A Noite dos Mortos Vivos”, mas era a performance Bem vindo ao inferno do coletivo 1000 Gestalten (que significa ‘mil figuras’), formado por ativistas e atores, realizada em 5/7 para provocar a cúpula do G20, que reúne os 20 maiores líderes mundiais.

O grupo foi criado em fevereiro deste ano em resposta ao avanço do capitalismo neoliberal (praticado pelos países do grupo) no mundo.

Ao chegarem na praça central, como num passe de mágica, começaram a acordar do transe e a despir a vestimenta enlameada dando lugar a corpos nus ou roupas muito coloridas, dando abraços, beijos e gritos entusiasmados de liberdade.

O pacífico protesto de esquerda – que durou duas horas – foi uma declaração poderosa para o mundo e os participantes do G20, entre eles Donald Trump. Foi um pedido para que todos lutem por humanidade e solidariedade nestes tempos sombrios.

“Queríamos pedir ao mundo que faça de Hamburgo um ponto focal de resistência contra antigas e novas autoridades capitalistas”, disseram os organizadores à imprensa. E Catalina Lopez completou, em fala à Reuters TV: “Nosso objetivo é cutucar as pessoas em seus corações, dando-lhes motivação para acompanhar, se libertar de suas conchas e participar da vida política novamente. Queríamos criar uma imagem forte porque acreditamos no poder das imagens”.

A encenação não poderia ser mais perfeita para representar uma sociedade que está impotente e sem voz. Vi no vídeo (que você pode assistir no final deste post) a inércia dos brasileiros diante das atrocidades políticas e econômicas que veem sendo praticadas para reduzir direitos humanos, Justiça e o bem comum. Insanidades e injustiças que vêm sendo cometidas contra trabalhadores, desempregados, aposentados, pobres, ‘minorias’ (que palavra horrorosa, mas não encontrei outra melhor), moradores de rua, sem teto, indígenas, povos tradicionais… e contra o planeta. Tudo pela ganância, pelo poder, para manter a riqueza das elites, para manter o velho e ultrapassado capitalismo, a qualquer custo.

Nada como a arte – com a qual essa onda quer acabar também – para manifestar a realidade, para provocar a reflexão, ajudar a transformar o olhar.

A manifestação do coletivo 1000 Gestalten faz parte de inúmeros protestos que ativistas planejavam realizar durante a realização do encontro do G20. Algumas não foram nada pacíficas: nas semanas anteriores, carros de polícia foram queimados e linhas de trem sabotadas.

Abaixo, algumas fotos e o vídeo da performance…


Fotos: Divulgação/1000 Gestalten

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.