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A vida frente à exploração dos recursos naturais

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Texto publicado originalmente no catálogo da 5a. Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental

Por qualquer medida que se use, seja gastos domésticos, número de consumidores ou extração de matérias-primas e recursos naturais, o consumo de bens e serviços tem aumentado constantemente nos países industrializados e está crescendo rapidamente em muitos países em desenvolvimento. Os mais de 2 bilhões de pessoas que formam globalmente a “classe de consumidores” assumiram um estilo de vida que se tornou comum na América do Norte, na Europa, no Japão e em diversos grupos sociais de vários países do mundo no século XX e que vem se globalizando no século XXI.

Mesmo para a classe global de consumidores “afortunados”, este estilo de vida impinge altos custos pessoais: a obesidade, o gasto de tempo e o nível elevado de estresse associado ao trabalho necessário para satisfazer o alto consumo; o tempo gasto para limpar, atualizar, armazenar ou manter suas posses, as formas pelas quais o consumo substitui o convívio com a família e os amigos etc. Para as sociedades, o sistema econômico que possibilitou – para alguns – um nível elevado de consumo, apresenta várias mazelas como a desigualdade, o crime, a depressão, as doenças associadas à poluição do ar, das águas e dos solos e várias outras doenças sociais.

Os filmes da 5a Mostra Ecofalante que falam sobre a exploração dos recursos naturais têm em comum a abordagem de algumas das mazelas vividas por aqueles que participam diretamente da exploração da natureza para a manutenção dos elevados níveis globais de consumo.

No documentário CONFLITO INTERNO (Black Harvest), a discórdia entre habitantes de uma comunidade tradicional da Wild Coast da África do Sul é provocada pelos interesses associados a uma mineradora australiana e a um governo desenvolvimentista. A empresa quer explorar as reservas de titânio existentes nas terras da comunidade por meio de um projeto que envolve a construção de uma estrada que supostamente facilitaria o acesso a hospitais e outras facilidades, enriquecendo a todos. Porém, poucos moradores mostram-se dispostos a engolir as promessas por recearem perder suas terras e seu modo de vida, além das suspeitas provocadas pelo grupo favorável ao projeto, visto como “os bandidos da vila”.

TERRA BRANCA nos faz vislumbrar, através do olhar infantil, o que é a vida das famílias de trabalhadores no centro da exploração das reservas de óleo e gás de folhelho que se estende pelos estados norte-americanos da Dakota do Norte e Montana, além de parte do Canadá. Desde 2006, a produção de petróleo e gás natural naquela região teve tal crescimento que alterou a geopolítica do petróleo e as emissões de gases de efeito estufa dos EUA. A promessa de emprego levou milhares de homens, mulheres e crianças para lá, gerando uma especulação imobiliária capaz de elevar os aluguéis aos níveis mais altos dos EUA e dando origem ao fenômeno dos homens-acampamento, que vivem em trailers e casas improvisadas para os trabalhadores temporários da indústria.

COLHEITA NEGRA apresenta uma outra faceta da vida na Dakota do Norte nestes tempos de boom da exploração do gás e do óleo de folhelho. Dois “caubóis” envelhecidos, com histórias de vida opostas, vivem suas perdas. Um, nascido na região, vive a perda de seu modo de vida tradicional e sente-se invadido por monstros metálicos. Outro, recém-chegado com seu cão, a bordo de um velho Subaru, atrás de emprego e de uma vida melhor, sente saudades da vida e da filha que precisou deixar para trás, a centenas de quilômetros de distância. O futuro de ambos é incerto.


DEPOIS DO DESASTRE 
mostra que o furacão Katrina, que devastou a costa da Louisiana, EUA, há mais de 10 anos, e a explosão, cinco anos mais tarde, da plataforma de exploração marítima de petróleo Deepwater Horizon, de propriedade da BP (British Petroleum), responsável pelo derramamento de mais de 200 milhões de litros de petróleo no Golfo do México, não são hoje os piores problemas enfrentados pela costa do estado. Acontece que a área está desaparecendo rapidamente, tanto tragada pela elevação do nível do mar, quanto perdida pelos canais construídos para a exploração de gás natural e petróleo. Além de acompanhar a batalha dos que tiveram familiares mortos e modos de vida destruídos pelo acidente com a plataforma, o documentário mostra ainda o paradoxo provocado pelas atividades das petroleiras que ameaçam seus próprios ativos ao destruir grande parte da costa da Luisiana para facilitar suas atividades.

Muitas outras histórias como estas serão vividas se continuarmos buscando estender o nível de consumo dos abastados globais a toda a humanidade, já que, assim, será inevitável uma exploração ainda maior de recursos naturais. Parece ser o caso de abandonarmos esta economia baseada no desejo de acumulação indefinida de bens e buscarmos, ao invés disso, uma melhor qualidade de vida para todos, com dano social e ambiental mínimo.

Parte deste trabalho tem sido desenvolvido por organizações de defesa dos consumidores e por alguns economistas e ambientalistas, que têm proposto opções criativas de atendimento às necessidades das pessoas que, ao mesmo tempo, buscam amortecer os custos sociais e ambientais associados ao consumo de massa. Além de buscarem um novo equilíbrio entre excesso de consumo e exclusão, estas opções colocam uma maior ênfase na oferta de bens e serviços públicos e serviços de tecnologia de informação ao invés de bens de consumo, focando em bens de consumo com altos níveis de conteúdo reciclado e na criação de possibilidades de escolha genuínas pelos cidadãos.

Contudo, é necessário também que os governos reforcem – e não flexibilizem – o licenciamento e o controle das atividades de exploração de recursos naturais e encontrem mecanismos de cálculo e incorporação das chamadas “externalidades” ambientais e sociais aos preços destes recursos.

Foto: Reprodução

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