O que descobrimos pelos caminhos de Várzea Queimada, no sertão do Piauí

Crédito: Diego Cagnato

Começamos 2016 com o pé direito. Melhor ainda, com o pé direito em Várzea Queimada, onde estivemos dos dias 13 a 17 de janeiro, durante a nossa primeira Expedição Garupa.

Pra quem não se lembra (contamos um pouco a respeito no post de novembro), a Expedição Garupa – Chapada do Araripe teve o objetivo de cocriar, junto à comunidade de artesãos de Várzea Queimada, no sertão piauiense, um modelo de turismo de comunitário para o lugar.

Nossa aventura começou em Nova Olinda, onde o grupo, formado por 31 participantes, visitou a Fundação Casa Grande, referência em turismo de base comunitária no Brasil. O projeto emocionou e inspirou os participantes para a continuação da viagem, que então seguiu para Várzea Queimada, a 230 quilômetros.

Na comunidade, os dias foram tomados por workshops e visitas às atrações, aos estabelecimentos comerciais e aos artesãos, que trabalham com palha de carnaúba e borracha de pneu de caminhão. O objetivo foi identificar as reais necessidades e o verdadeiro potencial do povoado como destino de viagem. Tivemos reuniões com os moradores todos os dias, contato intenso e necessário para que a comunidade revelasse suas dúvidas, expectativas e, principalmente, compartilhasse sugestões de modelos para o desenvolvimento do turismo no local.

Ao mesmo tempo, os integrantes da Fundação Casa Grande visitaram todas as residências que receberam hóspedes durante a Expedição, e passaram a sua experiência nesse tipo de trabalho – as pousadas domiciliares são um ponto alto do turismo em Nova Olinda. Conversamos com Júnior dos Santos, que trabalha na Fundação e fez parte da Expedição. Ele nos contou sobre o que achou da viagem e o que pensa a respeito do potencial de Várzea Queimada como destino turístico.

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Como foi a participação da Fundação Casa Grande na Expedição?

A Expedição nos tocou muito. Na hora em que soubemos dos parceiros (A Gente Transforma e Garupa), nós topamos porque queríamos mostrar que eles podem contar com a gente por aqui, que queremos discutir juntos esse formato de turismo. Tivemos muita abertura durante a Expedição – conseguimos ter acesso e conhecer todas as casas que estavam recebendo visitantes, por exemplo.

Há pontos em comum entre Várzea Queimada e a Fundação Casa Grande?

Sim, existem pontos importantes a serem levantados – o principal deles é em relação à espontaneidade das famílias em receber pela primeira vez. Vemos o visitante como mais uma pessoa que faz parte da família. Isso pra gente é muito gratificante, porque marca o nosso nicho. Claro que quando a ideia da pousada domiciliar foi proposta em Nova Olinda, algumas pessoas não aceitaram. Mas nós tivemos um grupo que se dispôs a receber pessoas na sua casa, compartilhar suas histórias, sua forma de vida. Em Várzea Queimada, eles começaram com um grupo grande, de 15, 20 famílias envolvidas. Ou seja, mesmo sem ter nenhuma estrutura – financeira ou física -, você sentia o desejo dos anfitriões em ter uma pessoa na casa deles. Isso é muito legal, e contribuiu pra permanência desse tipo de atividade turística.

Qual o potencial do turismo em Várzea Queimada?

Vai além do que a gente possa imaginar. Porque ela é uma comunidade que ensina muita coisa para o visitante, é uma oportunidade que a pessoa tem de conviver com os moradores do interior do Brasil e compartilhar suas histórias. Não se resume só nessa experiência de contato, mas é uma comunidade autêntica. Ela vai desde a formação dela, que vêm de duas, três famílias, e começa a surgir toda uma comunidade. Você sente que faz parte dessa família. E a prática que eles desenvolvem com palha da carnaúba e da borracha é algo único. Você vê, por onde você chega, que eles estão produzindo. O traço deles é muito autêntico, você só encontra em Várzea Queimada. E eles estão dentro da Chapada do Araripe, na fronteira do Piauí com Pernambuco. É incrível essa geografia, e temos que pensar em como fazer para integrar esse roteiro.

É grande o potencial de um roteiro integrando Nova Olinda e Várzea Queimada?

Muito grande, se pensarmos no sentido dessa continuidade, de que a gente tem uma atividade de turismo de base comunitária e eles também podem ter algo semelhante. Eles não têm a Casa Grande, mas têm a Toca (a Toca das Possibilidades, sede da associação dos artesãos). E eles têm pessoas dispostas a receber visitantes em suas casas. Pra gente, portanto, é só o início. Hoje, o nosso papel é ajudar na formação deles, contribuir em termos de organização, de parceria, de contato, de realizarmos atividades juntos. Nos sentimos mesmo sortudos em poder formar essa outra experiência turística no Brasil. Essa Expedição só aumentou o nosso terreiro. O terreiro da Fundação agora termina em Jaicós.

Fotos: Diego Cagnato/Garupa

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