Vá tomar banho! E leve uma esponjinha de curauá com você…

folha de bromélia curauá

Parecida com o pé de abacaxi, mas com folhas mais estreitas e de origem amazônica, uma bromélia chamada curauá (Ananas erectifolius) pode frequentar sua vida sem que você saiba. Suas fibras versáteis andam escondidas em peças internas de automóveis e compósitos usados na construção civil, incluindo vigas de concreto. Essa espécie natural do oeste do Pará já existe em plantações comerciais e também virou uma fonte extra de renda para agricultores familiares. Na indústria, é festejada por ter fibras longas e muito resistentes, porém macias e flexíveis.

As qualidades não passaram despercebidas da equipe de desenvolvimento de produtos da 3M, quando a empresa começou a avaliar as alternativas de matéria-prima para uma nova linha de esponjinhas de banho com fibras naturais, lá atrás, em 2007. Três anos depois, em 2010, o produto estava pronto para ser lançado. E foi bem recebido pelos consumidores, não só por ser suave ao toque, mas por seu bom desempenho no quesito sustentabilidade.

Segundo informa Camila Gallo, gerente da Divisão de Cuidados Pessoais da empresa, se comparada a outras esponjas disponíveis no mercado, na fabricação da esponjinha de curauá “o processo industrial consome 52% menos energia elétrica; a geração de resíduos sólidos é 32% menor; há um aumento de 40% na utilização de matéria-prima de fonte renovável e o uso de material reciclado é 200% maior”. Além disso, as caixas de transporte são fabricadas com material 100% reciclado e certificado pelo FSC (Conselho de Manejo Florestal).

Fácil de secar e com um cordão de algodão para pendurar na torneira do chuveiro, a esponjinha ainda é fabricada sem uso de solventes orgânicos voláteis. A fibra do curauá é misturada com um pouco de fibra sintética de garrafa PET. E a reciclagem de PET, como sabemos, tira esse plástico persistente do meio ambiente, que de outra forma levaria uns 450 anos para se decompor. A reciclagem contribui também para a geração de renda dos catadores urbanos.

esponja feita com fibra de bromélia

 A esponjá feita com fibras da folha da bromélia

O curauá usado na fábrica da 3M, localizada no município de Sumaré, no interior de São Paulo, vem de Santarém, Pará, de um fornecedor que se dedica à produção de mantas de fibra há 15 anos. Seu cultivo não causa desmatamento. Na verdade, o curauá pode ser plantado em pequenas roças familiares, consorciado com outras plantas de uso caseiro. Tem agricultores, inclusive, que instalaram pequenas plantações para a extração de bromelina, uma enzima de amplo uso nas indústrias farmacêutica e alimentícia.

A melhor parte da história é que a retirada da bromelina das folhas de curauá não interfere na qualidade da fibra utilizada para as mantas de peças automobilísticas ou de esponjinhas de banho. Os produtores podem vender os dois produtos e, assim, agregar valor à sua produção. A bromelina existe também nas folhas do abacaxi e de outras bromélias do mesmo gênero Ananas. Mas a extração é conflitante com a produção de frutos.

Então, está esperando o quê? Vá tomar um banho sustentável e natural! Mas sem gastar muita água, que a crise não acabou: espalha o sabonete com o curauá e só depois abre o chuveiro para enxaguar rapidinho…

Fotos: Liana John

5 comentários em “Vá tomar banho! E leve uma esponjinha de curauá com você…

  • 27 de agosto de 2015 em 4:30 PM
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    Excelente matéria, como de hábito. Parabéns!

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    • 2 de setembro de 2015 em 7:24 AM
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      Grata pela audiência qualificada, Ivan!

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  • 29 de agosto de 2015 em 8:23 PM
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    A porta-voz da Natureza volta, para enriquecer nossos conhecimentos. Quando via essa esponjinha nas prateleiras, passava batido, pensando que fosse uma das de sempre. Agora, seguirei a mestra. Esta aposenta a velha bucha? Seja-bem vinda, Liana, a Natureza agradece.

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    • 2 de setembro de 2015 em 7:23 AM
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      Experimente, Moacyr, você vai gostar! Obrigada por estar conosco!

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  • 17 de abril de 2017 em 6:01 PM
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    Onde posso conseguir tal produto?

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Liana John

Jornalista ambiental há mais de 30 anos, escreve sobre clima, ecossistemas, fauna e flora, recursos naturais e sustentabilidade para os principais jornais e revistas do país. Já recebeu diversos prêmios, entre eles, o Embrapa de Reportagem 2015 e o Reportagem sobre a Mata Atlântica 2013, ambos por matérias publicadas na National Geographic Brasil.