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Uma questão de latitude

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Sou um fotógrafo tropical! Essa é uma afirmação que pode parecer meio despropositada. Mas há alguns anos eu descobri na prática as implicações desse fato para quem trabalha com natureza. Mesmo que, na teoria, essa informação já estivesse armazenada em algum lugar do meu cérebro, foi engraçado quando vivi uma situação extrema em que pude perceber uma grande desvantagem da nossa tropicalidade.

Na minha já extensa carreira fotografando a Amazônia, acostumei com o fato de que o momento da “luz mágica” – quando as cores e contrastes são mais bonitos, tanto no amanhecer quanto no entardecer – acontece por um período muito curto. Ou seja, se você não estiver no lugar certo e preparado antes daqueles cinco minutinhos de luz boa, sinto muito: só terá uma nova chance de fazer sua foto amanhã.

No início de 2013, participei de uma expedição de veleiro para fotografar a Península Antártica. Depois de três dias e meio resistindo bravamente aos enjoos da travessia da Passagem de Drake (contei sobre isso em outro post), finalmente amanhecemos entre os icebergs e primeiros picos nevados da Antártica. Naquele dia, ancoramos em uma enseada de Cuverville Island. E só a sensação de estar naquele lugar já havia compensado todos os perrengues da viagem.

Desembarcamos e passei a tarde na diversão de fotografar uma colônia de pinguins Gentoo e praticando um pouco a cansativa atividade de caminhar morro acima na neve, com a mochila de equipamento nas costas. Antes de ser servido o jantar, perto das 22h e ainda com dia claro, fomos reembarcados. Permanecemos no deck do veleiro, conversando e contemplando aquela paisagem inacreditável. Como de costume, havia deixado minha mochila com equipamento na cabine, para que não atrapalhasse a circulação nos espaços limitados da embarcação.

De repente, vi que os cumes das montanhas mais distantes começaram a ficar amarelados, o que significava que o sol estava se pondo. Desembestei enlouquecido para minha cabine para buscar meu equipamento. Voltei ofegante para o deck e, apressadamente, me pus a armar o tripé. Tudo pronto e configurado, comecei a fotografar aquela luz maravilhosa nos picos nevados! E fotografei, fotografei, fotografei… Parei um pouco, fui buscar uma cerveja, tomei, e fotografei, fotografei, fotografei. Parei de novo, chamaram para o jantar, entrei na cabine, jantei, conversei, voltei para o deck e fotografei, fotografei, fotografei.

Naquele primeiro entardecer na Antártica, aprendi que a luz maravilhosa do pôr do sol de verão no continente gelado dura quase duas horas. Diferente dos trópicos, onde o sol despenca verticalmente na direção do horizonte, próximo ao círculo polar ele desce em um ângulo suave, fazendo com que aquela luz, que é o sonho de todo fotógrafo de paisagens, dure o tempo necessário para fotografar sem correria.

Deu até para esperar o momento em que um pequeno iceberg se aproximou da popa do veleiro, permitindo uma composição ainda mais interessante para a foto. Nada de pressa, porque, no fim das contas, é tudo uma questão de latitude!

Agora, os dados técnicos da foto: 
– Câmera Nikon D800
– Objetiva Nikon AFS 28-70 f/2.8 + filtro graduado de densidade neutra
– Tempo de exposição: 1/15s
– Abertura: f/14
– ISO 400
– Tripé + disparador + bloqueio de espelho.

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