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Uma carta de amor à Amazônia

A Amazônia foi minha casa durante um ano. Morava em um hotel, no meio da floresta, isolado da civilização. A única maneira de chegar era de barco e os celulares não funcionavam nem por bem, nem por mal. A internet existia, mas era tão lenta que demorava mais de meia hora para checar um simples e-mail.

Meu trabalho era guiar grupos interessados em história natural e fazer passeios para a observação de animais selvagens. Acabei desenvolvendo uma relação especial com a floresta e me sentia em casa quando andava pela mata. Hoje, 5 de setembro, no Dia da Amazônia, gostaria de fazer uma homenagem compartilhando um pouco da minha experiência vivida nesse lugar maravilhoso. Para isso, recorri ao meu diário, que atualizava ao final de todas as noites, e selecionei o texto que escrevi, naquela época, 2010, no meu último dia por lá:

Esta parte da minha vida se chama Amazônia, e envolve abrir mão de coisas importantes como família e amigos. Mas também inclui olhar pra mim e descobrir o que eu quero, aprender coisas novas a todo o momento, acordar sem saber como vai ser o dia, mas saber que o dia vai ser fantástico e, de quebra, conhecer um dos lugares mais extraordinários do planeta.

A Amazônia é uma terra de superlativos: É a maior floresta tropical do mundo, com mais de 40 mil espécies de plantas. Em nenhum lugar na Terra se encontram tantas aves, peixes de água doce ou borboletas diferentes. Esta é a casa de uma em cada dez espécies conhecidas pela ciência. Entre elas estão a onça-pintada, o maior felino das Américas; a surucucu, a maior víbora da Terra; a sucuri, a cobra mais pesada do mundo; a harpia, a maior ave de rapina da América do Sul. Veja fotos no final do post.

Viver na Amazônia é uma experiência única. Só estando aqui, dia após dia, enfrentando o sol causticante nos dias de seca e as chuvas intermináveis na temporada da cheia, acompanhando a mudança no comportamento dos animais que precisam se adaptar a essas diferentes estações, observando as aves migratórias chegando quando o alimento é abundante e indo embora quando o mesmo fica escasso, experimentando os frutos, gostosos ou não, que se desenvolvem nas diferentes épocas do ano, reparando no ciclo de vida das borboletas… Só assim é possível se ter uma vaga ideia do que é este lugar. Um lugar que aprendi a amar!

A Amazônia me ensinou como ser uma pessoa melhor. Aprendi muito sobre o ecossistema e sobre as relações entre os seres vivos e o meio ambiente. É impressionante como tudo isso é perfeito e frágil ao mesmo tempo.

Conheci pessoas inesquecíveis, gente com um coração do tamanho do mundo, que me faz acreditar que ainda existe esperança para a Terra. Aprendo muito todos os dias e não me canso de ver coisas que me fascinam. A Amazônia me proporcionou muito mais do que eu poderia sonhar e só tenho a agradecer por ter conhecido esta floresta. Mas, após um ano estou chegando ao meu limite, e está na hora de procurar novos ares.

Saio daqui com muito mais conhecimento, mas com a consciência de que ainda sabemos muito pouco sobre este lugar. E esse motivo, sozinho, entre tantos outros que existem por aí, já seria suficiente para preservá-lo. A Amazônia vai deixar saudades, mas estará sempre viva na minha memória e no meu coração.

Onça pintada

Harpia

Sucuri

Surucucu

Fotos: Fábio Mitsuka Paschoal. No destaque, Alta Floresta

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