Um mês depois de vazamento, mineradora norueguesa reconhece despejo ilegal de resíduos tóxicos

Vazamento de mineradora contamina rio no Pará

Só ontem (19/03), praticamente um mês após o vazamento da mineradora norueguesa Hydro Alunorte, que contaminou o rio Pará, em Barcarena, e colocou em risco a saúde de moradores da região é que a empresa admitiu sua culpa.

Em comunicado à imprensa, no site da empresa, o presidente e CEO da Hydro, Svein Richard Brandtzæg, assume os atos ilegais cometidos pela mineradora. “Nós descartamos água de chuva e da superfície da refinaria não tratadas no rio Pará. Isso é completamente inaceitável e contraria o que a Hydro acredita. Em nome da companhia, pessoalmente peço desculpas às comunidades, às autoridades e à sociedade. Isso ressalta a importância de uma revisão completa da Alunorte, incluindo interfaces da operação com áreas adjacentes e a situação de licenciamento da planta para verificar o cumprimento integral das licenças. Precisamos do entendimento total para que possamos implementar as ações necessárias “.

Ainda segundo o comunicado, toda a água de chuva e da superfície da área da refinaria deveria ter sido conduzida para uma estação de tratamento de efluentes industriais da planta, mas ao invés disso, foram despejados em outro canal.

No sábado dia 17/02, moradores do município de Barcarena, a 100 km de Belém, perceberam o aumento súbito do rio que atravessa a cidade. Apesar do volume excepcional de chuva , o alagamento estava fora do normal. Além disso, os relatos eram de mudança na cor da água, que ficou vermelha e barrenta.

Como próximo à Barcarena está localizada a Hydro Alunorte, a população ficou receosa de que estaria acontecendo ali a mesma tragédia que ocorreu em Mariana, Minas Gerais, em novembro de 2015, quando dejetos da mineradora Samarco destruíram o município de Bento Rodrigues, deixando 19 pessoas mortas, tirando a vida de animais e contaminando a bacia do Rio Doce.

Pois um laudo divulgado, em 22/02, pelo Instituto Evandro Chagas (IEC),que foi acionado pelo Ministério Público do Estado do Pará e Ministério Público Federal para fazer inspeções no local, confirmou que houve vazamento das barragens de rejeitos de bauxita (matéria-prima para a fabricação do alumínio) da mineradora norueguesa e que a água foi contaminada com chumbo, sódio, nitrato e alumínio, em índices nocivos para a saúde humana.

Em uma segunda inspeção mais tarde, foi constatado ainda a existência de uma tubulação clandestina, que serviu para escoar os resíduos tóxicos para áreas próximas da refinaria, entre elas, zonas de mangue e matas.

Novamente, há pouco mais de uma semana, como noticiamos aqui, http://conexaoplaneta.com.br/blog/descoberto-novo-duto-ilegal-da-mineradora-norueguesa-no-para/ , representantes do Ministério Público Federal e equipes do Instituto Evandro Chagas, o Centro de Perícias Renato Chaves e o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama) descobriram um novo canal irregular de despejo de minério da Hydro Alunorte.

A mineradora, que tem como acionista majoritário e controlador o governo da Noruega, já foi multada pelo Ibama em R$20 milhões – R$ 10 milhões por “realizar atividade potencialmente poluidora sem licença válida da autoridade ambiental competente e R$ 10 milhões por operar tubulação de drenagem clandestina”, que serviu para escoar resíduos tóxicos para áreas próximas da refinaria, entre elas, zonas de mangue e matas.

O Tribunal de Justiça do Pará também proibiu o funcionamento de uma das bacias da mineradora e determinou a redução em 50% da produção da empresa. Além disso, estipulou multa de R$ 1 milhão por dia, caso a Hydro Alunorte desrespeite a decisão.

Vale lembrar, que em 2009, a mineradora já havia sido multada por crime ambiental pelo Ibama. Na época, a empresa foi responsabilizada pelo vazamento de resíduos industriais em córregos de Barcarena, quando peixes morreram e moradores que vivem às margens do rio ficaram sem água potável.

Segundo denúncias do Ministério Público Federal do Pará, a empresa até hoje não pagou as multas estipuladas pelo Ibama em R$ 17 milhões, referentes ao transbordamento de 2009.

Além de assumir a culpa – o que deveria ter sido feito assim que ocorreu o acidente -, é preciso agora que a mineradora norueguesa, que se diz “a maior empresa de alumínio da América do Sul” disponibilize publicamente cópias do pagamento das multas recebidas.

Impunidade, omissão e mentira. O que os brasileiros questionam é se na Noruega a mineradora agiria da mesma maneira que faz no Pará. Será?

Foto: divulgação Instituto Evandro Chagas

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.