Tudo ao mesmo tempo agora

Uma das regras de composição na fotografia recomenda que o fotógrafo evite incluir muitos elementos na mesma imagem. Segundo este conceito, ele deve buscar um tema de maior interesse e destacá-lo em sua foto. A inserção de muitos itens disputando a atenção do observador pode conferir um aspecto desagradável, de confusão excessiva.

Mas, e quando o fotógrafo se depara com uma cena onde tem várias coisas interessantes acontecendo ao mesmo tempo?

Foi exatamente isto que aconteceu comigo no ano passado, quando acompanhava um grupo de fotógrafos suíços na Lagoa Misteriosa, próximo a Bonito (Mato Grosso do Sul), um passeio de ecoturismo em uma das cavernas inundadas mais profundas do Brasil (são mais de 220 metros de coluna d’água!).

Como no local há uma equipe própria de profissionais de mergulho que acompanha os visitantes, eu preferi deixar os fotógrafos mais à vontade e fiquei aguardando-os no deque onde se inicia a atividade. De pé, com a câmera na mão e água até a altura do peito, passei a observar sem compromisso os arredores, me divertindo com os lambaris curiosos que ficam rodeando as pessoas.

Foi então que, em um clima de relaxamento mental e filosofando sobre o mundo, comecei a notar o tanto de situações aparentemente desconexas que aconteciam simultaneamente no entorno.

Alguns metros abaixo da superfície, meus clientes mergulhavam e tiravam suas fotos. Às minhas costas, visitantes ansiosos em cima do deque ouviam atentamente as orientações de seu instrutor antes de entrarem na água. Ao meu redor, os lambaris nadavam de um lado para outro, aparentemente alheios ao agito. Nas árvores, passarinhos cantavam melodicamente.

Enquanto eu imaginava como eternizar isto em uma foto, vi uma ave de grande porte ao longe sobrevoando a dolina, talvez nos observando lá do alto. O traçado de seu voo acompanhava caprichosamente o espaço por entre a copa das árvores que me permitia visualizar o céu.

A ave foi a “cereja do bolo” que faltava para eu captar tanta ação e diversidade em uma só imagem, contrariando a tal regra de composição que mencionei no início. Afinal, “as regras foram feitas para serem quebradas” – e na fotografia não é diferente.

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora