Tinha tudo para ser feio…
A primeira imagem que vem à nossa cabeça quando pensamos em impacto ambiental são cenas feias e desoladoras: florestas devastadas, rios poluídos, animais mortos, terras erodidas. Comigo não foi diferente quando ouvi falar pela primeira vez sobre os Arrombados do Taquari, fenômeno decorrente do assoreamento do leito de um dos principais rios do Pantanal.
Outrora navegável, a partir da década de 1970, o entulhamento do seu curso natural com sedimentos vindos do planalto próximo às suas nascentes reduziu sua profundidade a tal ponto que, em determinados locais, hoje pode-se atravessar a pé, com água abaixo dos joelhos.
A água, que seguia o ciclo regular das cheias na planície pantaneira, foi forçada a buscar outros caminhos para escoar, arrombando assim as margens do Taquari e espalhando-se pelos arredores. Grandes áreas tornaram-se permanentemente alagadas, causando enormes prejuízos aos fazendeiros que, em pouco tempo, perderam praticamente todo seu patrimônio e história de vida tragados pelas águas.
Em 2014, fui convidado a conhecer e fotografar a região, e então, veio a grande surpresa: na estação das secas pantaneiras, estas áreas tornam-se um oásis para a fauna terrestre, já que oferecem água em abundância o ano todo, enquanto outras partes estão secando.
E, além dos bichos da terra, o alagamento dos campos criou um ecossistema subaquático com águas cristalinas de rara beleza, onde pode-se mergulhar com jacarés, piranhas, arraias e cardumes de outros peixes variados, em meio a algas com tons coloridos, que vão do verde ao vermelho. Um paraíso para fotógrafos e cinegrafistas subaquáticos em busca de experiências exclusivas e imagens ainda pouco exploradas.
Alguns dos proprietários tão afetados pelo impacto enxergaram aí a oportunidade para recuperar, ao menos em parte, o prejuízo que o assoreamento do rio lhes trouxe, através de atividades específicas de turismo de natureza. E assim passaram a explorar de forma positiva os resultados de um desastre ambiental que nos traz lições e sentimentos ambíguos, de enxergar tanta beleza onde muitos só conseguem sentir tristeza por seu passado submerso, onde hoje os fotógrafos se encantam com o que veio depois.
Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora