Sucuri tem língua azul!

sucuri tem língual azul

Fotografar animais silvestres normalmente demanda, além de preparo e paciência, agilidade e sorte – o famoso “lugar certo na hora certa”. Basta um segundo e lá se foi uma chance única. Só que às vezes as situações na natureza conspiram a nosso favor e uma foto que parecia perdida torna-se possível. Como aconteceu na história de hoje.

Em 2012 fui contratado para fotografar 11 Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) de Mato Grosso do Sul, durante a produção do livro “Diamantes Verdes – Reservas Naturais de Mato Grosso do Sul”. Nosso cronograma de trabalho era apertado e a meta era obter registros gerais destas unidades de conservação, sem tempo para esperar situações promissoras.

Com este objetivo, eu e Mariza (coordenadora do projeto que me aturava durante as expedições) partimos para a RPPN Fazenda Cabeceira do Prata, famosa pelo passeio de ecoturismo do Recanto Ecológico Rio da Prata, com suas águas cristalinas repletas de vida aquática. Tínhamos apenas um dia para registrar tudo e, como eu já possuía um arquivo razoável de imagens subaquáticas que poderiam ser usadas, a prioridade foram fotos externas.

No meio da manhã, chegamos à Nascente do Rio Olho d’Água e comecei a fotografar um grupo de visitantes que se preparava para iniciar a atividade de flutuação. Foi quando um dos guias levanta rapidamente da água e me avisa ansioso: “SUCURI! SUCURI!”.

Eu estava vestido com roupa “de mato” (calça e camisa longas, botas e meias, chapéu, colete fotográfico) e apenas com o equipamento para fotos externas. O restante – roupa de neoprene, máscara de mergulho, câmera subaquática – estava no carro a mais de 100 metros dali, já que eles só seriam usados caso desse tempo. Eu já havia desistido: “não vai ser desta vez”, pensei. Mas o guia continuava insistindo: “pega sua câmera, ela tá indo devagar, vai que dá tempo!”.

Acabei me animando, fui ao carro trocar de roupa, montei a câmera dentro do equipamento subaquático, fiz os ajustes e corri de volta. E a sucuri caprichosamente esperou eu me preparar para só então começar a nadar novamente pelo meio do rio. O resultado está aí na foto que ilustra esta postagem!

Além do aspecto mais óbvio desta imagem, que registra um animal tão imponente em águas tão cristalinas, um detalhe sutil chama a atenção: a cor da língua da sucuri – aposto que você jamais imaginou que ela fosse azul…

Gosto de usar esta foto nos cursos e oficinas de fotografia que eu ministro, onde explico que um bom fotógrafo de natureza tem que estar atento a todos os detalhes. Neste caso, o destaque para a língua só foi possível porque eu me posicionei de forma que o corpo da própria sucuri sombreasse o fundo, aumentando o contraste entre este e sua língua. Se eu estivesse em outro ângulo, o fundo claro impediria tal efeito.

Foto: Daniel De Granville

4 comentários em “Sucuri tem língua azul!

  • 15 de março de 2016 em 8:23 AM
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    Parabéns, tua foto é maravilhosa, mas sou bicho do mato, e já tive oportunidade de ver sucuri fora da água. A língua não é azul, provavelmente o contraste com a água é que deu a impressão de ser azul.

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    • 16 de março de 2016 em 7:37 AM
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      Oi Luciana, tudo bem?
      Segundo o Daniel, a língua azul poderia ser sim um efeito óptico. Ainda de acordo com ele, a língua “estava” azul e foi o que mais chamou a atenção dele na foto. Ele nunca observou uma sucuri de perto em terra, a não ser dentro da água. Nas profundezas, o espectro azul é o último a desaparecer. Isso quer dizer que, debaixo d’água, quanto mais fundo se vai, mais “azuis” aparecem os objetos. Talvez, pela cor pálida da língua da sucuri, isto tenha intensificado o azul.
      Obrigada pelo comentário e por estar curtindo os posts do Conexão Planeta.
      Abraço,
      Suzana

      Resposta

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Daniel De Granville

Biólogo com pós-graduação em Jornalismo Científico, começou a carreira fotográfica na década de 90, quando vivia no Pantanal e trabalhava como guia para fotógrafos renomados de várias partes do mundo, o que estimulou seu interesse pela atividade. Já apresentou exposições, palestras e cursos na Alemanha, EUA, Argentina e diversas regiões do Brasil. Em 2015 foi o vencedor do I Concurso de Fotografia de Natureza do Brasil, da AFNATURA, e em 2021 ganhou o primeiro prêmio na categoria “Paisagem” do Concurso Global da The Nature Conservancy. Vive atualmente em Florianópolis, onde tem se dedicado ao ensino de fotografia e continua operando expedições em busca de vida selvagem Brasil afora