Sucessos e desafios do Chile rumo a uma matriz energética limpa e sustentável

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*Por Marli Kuhnen, de Santiago

Para todos os países do mundo, fazer a transição da matriz energética atual para fontes sustentáveis é um imenso desafio. No Chile, essa situação também não é diferente, contudo, questões econômicas têm menos peso no país do que no resto do mundo. Isso porque, segundo o jornal El Mercurio, os preços da produção de energia renovável conseguem competir com os da convencional.

Foi o que ocorreu na última licitação do setor, ocorrida em outubro de 2015, em que, na maioria das propostas, os valores apresentados pelas empresas de energia renovável foram menores do que os de companhias tradicionais. O valor médio fechado foi de 79,5 U$/Mwh, o menor dos últimos oito anos. No próximo mês, uma nova licitação para o setor está prevista, o que poderá confirmar se a tendência de preço baixo das empresas de energia sustentável será mantida.

Entre os anos de 2011 e 2015, as energias solar e éolica quintuplicaram sua capacidade instalada, passando de 540Mw para 2963Mw, de acordo com a publicação Diario Financiero. Por esse motivo, o Chile alcançou o quarto posto do Índice de Países Atrativos para Energias Renováveis, elaborado pela Consultoria EY, perdendo apenas para Estados Unidos, China e Índia.

Para impulsionar ainda mais o setor, o governo federal criou um projeto de lei, conhecido como 20/20, que coloca como meta que até o ano 2020, 20% de toda a energia consumida no país seja de fonte renovável.

A meta pode ser ambiciosa se considerarmos o grande obstáculo que as empresas produtoras de energia renovável chilenas estão encontrando: a fragmentação do sistema de distribuição. Atualmente há em operação dois grandes sistemas transmissores de energia: SING (Sistema de Interconexão do Grande Norte) e o SIC (Sistema de Interconexão Central, SIC) que trabalham isoladamente.

Recentemente foi noticiado na mídia internacional que o Chile estava doando energia solar produzida no deserto do Atacama para a população. De fato, a produção excessiva do Norte atende e sobra para a região, contudo, não pode ser direcionada para suprir a demanda do Centro e do Sul porque não há rede de transmissão de energia ligando os dois sistemas que hoje atendem o país.

Isso tem provocado uma incerteza nos investidores, e está pondo em risco a continuação do crescimento atual. Contudo, até 2017, o governo afirma que colocará em funcionamento 3000 quilômetros de linhas de transmissão, conectando os dois sistemas, o que seria a principal solução do problema de infraestrutura do setor.

Energia que vem do mar

Apostando em outra fonte de energia renovável, o Chile inaugurou no último dia 17/96, o Centro de Investigação e Inovação de Energia Marítima (MERIC na sigla em espanhol), no balneário “Las Cruces”, região central do país. A organização criada pela parceria da Universidade Católica do Chile com um dos líderes mundiais de construção naval, a empresa francesa DCNS, pretende transformar o país em uma referência de inovação deste tipo de energia.

Com 6000 quilômetros de costa, o Chile recebe fortes correntes marítimas, ocasionadas pelos ventos da região Antártica, o que pode ser uma verdadeira mina de ouro para o setor.

Para o ministro de Energia, Máximo Pacheco, citado pela Associação Chilena de Energias Renováveis, “se pudéssemos captar apenas 5% do potencial de energia das costas chilenas, obteríamos praticamente a capacidade instalada no Sistema de Interconexão Central, que abastece  a região mais populosa do país”.

O grande potencial de fornecimento de energia marítima pode colocar o Chile entre os grandes produtores mundiais de energia sustentável. Enquanto isso não acontece, as energias solar e éolica predominam entre as renováveis, mas também contam com a ajuda da energia gerada pela biomassa, que obtém gás de aterros sanitários e já participa no fornecimento de gás de rua de Santiago e Valparaiso.

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A grande aposta do Chile agora é na energia marítima


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Fotos: Codelco/Creative Commons/Flickr (abertura) e valdecillima/Creative Commons/Flickr (ondas do mar)

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Marli Kuhnen

Jornalista formada pela Cásper Líbero, em São Paulo, e jardinista formada pela Natureza. Tem uma empresa de jardinagem e meio ambiente no interior de P. Além disso, escreve o Blog Jardim Sustentável. Atualmente mora em Santiago, no Chile, de onde colabora para o Conexão Planeta.