Substância de alguns filtros solares pode contribuir para a morte de corais

Substância de alguns filtros solares pode contribuir para a morte de recife de corais

Nas últimas quatro décadas, o intervalo entre surtos recorrentes de branqueamento de corais tem ficado cada vez mais curto, o que torna impossível sua recuperação. Tema de um artigo recente na revista Science, o problema tem sido agravado, principalmente, pelo aumento da temperatura da água dos oceanos.

Quando o mar esquenta demais, as microalgas que vivem em simbiose com os corais e que dão cor aos recifes são expulsas do organismo desses animais marinhos. Sem elas, o coral passa fome e morre. Os recifes são um dos mais ricos habitats da biodiversidade marinha.

Em 2016, duas ondas de branqueamento tiverem um efeito trágico sobre os corais das Ilhas Maldivas e a Grand Barrreira, na Austrália. Neste último, o evento foi considerado o maior da história (leia mais aqui).

Pois agora, pesquisadores apontam uma nova ameaça aos recifes de corais: os filtros solares! Utilizados largamente pelos frequentadores de praias para se proteger contra o câncer de pele, alguns destes produtos têm em sua composição a oxibenzona (benzophenone-3), uma substância química que ajuda a barrar os raios ultravioletas, mas que torna os corais mais suscetíveis ao branqueamento.

“Este é um caso para a aplicação do princípio da precaução”, diz Gabriel Grimsditch, especialista em ecossistemas marinhos da ONU Meio Ambiente. “A oxibenzena nos protege contra queimaduras, mas também é um poluente, e precisamos saber o máximo possível sobre ela antes de liberá-la no ambiente”.

Grimsditch explica que “a oxibenzona faz parte da família de produtos químicos frequentemente adicionados aos plásticos — para evitar que se degradem com a luz — e às garrafas de bebidas para proteger seu conteúdo. Ela também preserva as cores e aromas de vários itens, incluindo sprays de cabelo, sabonetes e esmaltes de unha”.

Estima-se que todos os anos, aproximadamente 14 mil toneladas de protetor solar da pele de banhistas e mergulhadores acabam sendo levados para recifes de corais em todo o mundo.

Esta não é a primeira vez que um alerta sobre os efeitos da oxibenzona é feito no meio científico. Um artigo divulgado em 2015, pela publicação Environmental Contamination and Toxicology, já afirmava sobre as consequências negativas do uso da substância na vida marinha. Em um estudo feito no Havaí e nas Ilhas Virgens, os cientistas observaram os efeitos do composto sobre largas de coral. Exames de laboratórios demonstraram que elas ficaram deformadas e tiveram seu ciclo reprodutivo comprometido.

A oxibenzona é apontada ainda como tóxica para peixes, ouriços do mar e mamíferos marinhos.

Em alguns países, o uso da substância já é controlado. Nas reservas marinhas do México, por exemplo, é solicitado que os visitantes só usem protetores solares biodegradáveis. Alguns fabricantes de cosméticos deixaram de utilizar a oxibenzona e em seu lugar, usam óxido de zinco ou dióxido de titânio.

Então, neste verão, quando você for comprar o protetor solar na farmácia, que tal dar uma olhada primeiro no rótulo? Os recifes de corais agradecem!

*Com informações da ONU Meio Ambiente

Foto: The Ocean Agency / XL Catlin Seaview Survey / Richard Vevers

2 comentários em “Substância de alguns filtros solares pode contribuir para a morte de corais

  • 16 de janeiro de 2018 em 2:20 PM
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    Muito interessante. Acredito que pesquisar substituintes biodegráveis seja a solução mais coerente para essa situação. Temos centenas de fontes oleaginosas que apresentam em sua composição substâncias antioxidantes que poderíam, a princípio, produzir efeito similar. Fica a dica aos leitores que desenvolvem pesquisas com produtos naturais.

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.