Subir em árvore: um desafio cheio de aprendizado

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Um dia desses, enquanto caminhávamos em um parque, vimos uma família com duas crianças, com aparentemente 2 e 4 anos. A família parou em frente a uma árvore, o pai tomou uma das crianças no colo e colocou-o sobre um dos galhos. Os galhos começavam a sair do tronco a partir de uma altura elevada, aproximadamente nos ombros do pai. Ele teve que levantar bastante o garotinho para colocá-lo na árvore. Pediram para que o pequeno segurasse firme no galho onde se sentara. O pai, sem soltar o corpo da criança, tentava seguir os comandos da mãe para aparecer o menos possível na foto que ela tentava fazer.Todo esse esforço era apenas para tirar a foto, sem intenção de que a criança pudesse brincar e se divertir subindo na árvore. Muito menos para experimentar seu equilíbrio e sua interação com a árvore.

Ficamos refletindo sobre o porquê dessa necessidade de mostrar algo que não corresponde à realidade vivida. E do quanto aquela situação – subir na árvore – oferecia oportunidades para aquelas crianças se desenvolverem, mas que foram desperdiçadas. Imaginamos que possivelmente a intenção da foto era para postar em alguma rede social. Que mensagem está sendo transmitida para a criança nesse momento? De que “fingir uma situação” está ficando normal. De que o mais importante é parecer e não ser.

A doutora Emmi Pikler – médica húngara que desenvolveu uma abordagem de trabalho com as crianças de 0 a 3 anos pós 2ª Guerra Mundial – nos traz muitas contribuições sobre o desenvolvimento infantil e que nos inspiram para observar essa situação. Em sua abordagem, as crianças devem ter garantido o direito de se movimentar livremente, experimentar seu corpo e o espaço e, assim, refinar seus gestos, movimentos e posturas. O papel dos adultos é observar e perceber o processo das conquistas das crianças. A intervenção do adulto deve acontecer na organização do espaço e não diretamente sobre as crianças.

Nas escolas da floresta, a Ana Carol observou as crianças brincando livremente no espaço natural, experimentando seus movimentos e enfrentando desafios. O ambiente natural oferecia todos os desafios motores de que as crianças precisavam para se desenvolver de maneira saudável. Elas subiam em árvores com muita segurança de movimentos, demonstrando estarem confiantes e com controle da situação.

Os adultos estavam presentes e atentos, mas apenas observavam. Quando necessário, propunham que uma criança, que já dominava tal movimento, ajudasse a outra que estava em suas primeiras tentativas. As crianças subiam até onde conseguiam. Todas subiam. Umas até o galho mais alto, outras permaneciam nos galhos da base, passando de um para o outro.

Sem dúvida, as escolas da floresta inglesas se tornaram uma referência importante para nós. Com a viagem da Ana Carol até lá, confirmamos aquilo no qual já acreditávamos: as crianças precisam ter liberdade para experimentartempo para sentir que podem avançar e conquistar novos movimentos. Quando criança e natureza estão juntas, em conexão, o tempo que leva para cada conquista é consequência dessa relação. A criança confia e conhece seus limites.

A natureza é sábia e se mostra em múltiplas possibilidades. Arriscar é condição para o desenvolvimento da coragem, para o conhecimento e a capacidade de enfrentar limitações e potencialidades, para o aprendizado sobre o corpo e a mente, que deverá acompanhar a criança por toda sua jornada de vida.

Há pais e educadores que nos perguntam: “Com quantos anos uma criança pode começar a subir numa árvore?” Eis nossa resposta: “Quando elas estiverem prontas, uma para a outra”.

Melhor que postar fotos do filho no alto da árvore é permitir que ele experimente seus movimentos na árvore, interaja com ela e consiga chegar ao topo por si só.

Foto: Ana Carol Thomé

Um comentário em “Subir em árvore: um desafio cheio de aprendizado

  • 2 de agosto de 2017 em 9:03 PM
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    Que saudade qdo eu era criança e subia em árvore. Tive meu pé de Laranjeiras onde inventei um elevador de cordas para içar-me. Eu tinha 7 anos nesta época e já meditava sem saber o que era isso. Eu conversava com “minha” árvore, eu e ela éramos uma coisa só naqueles momentos especiais… Agradeço por poder proporcionar aos meus filhos uma educação em Escola Waldorf. Além de subir nelas, eles aprendem a plantá-las e respeitá-las.

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Ana Carolina Thomé e Rita Mendonça

Ana Carolina é pedagoga, especialista em psicomotricidade e educação lúdica, e trabalha com primeira infância. Rita é bióloga e socióloga, ministra cursos, vivências e palestras para aproximar crianças e adultos da natureza. Quando se conheceram, em 2014, criaram o projeto "Ser Criança é Natural" para desenvolver atividades com o público. Neste blog, mostram como transformar a convivência com os pequenos em momentos inesquecíveis.