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Sorte


Tudo começa com uma ideia no avião, no café do manhã ou durante uma conversa no bar. Aquele assunto sobre o qual eu nunca tinha ouvido falar ou, pelo contrário, já havia pensado um dia e acabou ficando para trás…

Pelo menos é assim que começam, para mim, as grandes expedições e as grandes histórias. Bem longe do glamour imaginado pela maioria dos leitores, quando vê as imagens publicadas nas revistas e pensam em grandes reuniões de pauta com editores, cafezinho e tudo mais.

Depois de pensar mais um pouco no tema, perder algumas noites de sono e só falar disso em casa, inclusive com seu filho que, aparentemente não está entendendo nada, você pode ter certeza: ali começa um projeto.

Dado o primeiro passo – a escolha do tema -, iniciam-se diversas etapas que vão consumir dias, meses e, às vezes, até anos da vida de um fotógrafo: a pesquisa sobre o tema, a elaboração do projeto (que pode se tornar uma pauta de revista ou site, um livro ou um documentário) e a pré produção da viagem.

Serão milhares de e-mails trocados para tentar entender e definir melhor o assunto, horas ao telefone buscando autorizações e apoios para o trabalho, marcar passagens, para a logística, check lists, suprimentos e por aí vai.

Passado todo esse calvário, que geralmente consome dois terços do tempo destinado ao projeto, começa o frio na barriga para organizar o equipamento. O que fica? O que levo? Não existe regra, mas o tempo me mostra que, quanto mais leve e focado vou para o campo, melhores são os resultados.

No meu caso, mais leve significa escolher entre três ou quatro mochilas grandes de fotografia. Com duas, me viro sozinho, abusando um pouco da coluna. Já com três fica praticamente impossível não contar com a ajuda de um assistente. Isso sem falar das malas de roupas e de acessórios para o acampamento, primeiros socorros, escalada e o que mais for necessário para executar o trabalho.

Todos esses são quesitos que merecem atenção redobrada para que não falte nada, mas que, ao mesmo tempo, não ocupem todo o porta-malas da caminhonete.

Já estamos na metade do texto e eu ainda não falei de fotografia “em si”, correto? Errado. O processo de edição já começa com as escolhas que o fotógrafo faz antes de ir para campo: o recorte do assunto, o rumo das pesquisas, o roteiro e o equipamento escolhido. Resumir o ato fotográfico à essência do trabalho do fotógrafo é subestimar sua inteligência e capacidade de organização.

Fotografando profissionalmente há quase 20 anos, tenho aprendido a conter meu ímpeto de registrar o que aparece e me dedicar cada vez mais ao assunto que escolhi para aquela saída, para a viagem ou expedição.

Como documento vida selvagem, às vezes – em saídas junto com pesquisadores ou mesmo outros fotógrafos – causo estranhamento quando não saco meu equipamento para registrar outras possibilidades “interessantes”que aparecem pelo caminho. E acabo repetindo incansavelmente que meu foco está voltado única e exclusivamente para o assunto que me levou até ali.

E é esse foco que me faz realizar meu trabalho com confiança. Saber que estou imerso em uma história me dá a certeza de que fiz as escolhas corretas e dediquei o tempo necessário para aquele assunto. Sim, e é de todo esse envolvimento que vem a minha sorte.

A foto que escolhi para ilustrar este post é um exemplo disso. Depois de dezenas de viagens para o Pantanal, já havia visualizado essa imagem: o Tuiuiú com a bela piúva. Mas foi somente com a “sorte” de poder contar com esse lindo pôr-do-sol que a imagem que eu buscava se materializou.

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