Sistema imune reage ao consumo de fast food de maneira similar a uma infecção bacteriana

Sistema imune reage ao consumo de fast food de maneira similar a uma infecção bacteriana

É melhor pensar duas vezes antes de se entupir de hamburgers, nuggets, batatas fritas, pizzas, cachorro quente e milk shakes. Uma equipe de cientistas da Universidade de Bonn, na Alemanha, em conjunto com colegas da Holanda, Noruega e Estados Unidos, fez uma pesquisa sobre a alimentação preferida dos americanos, e infelizmente, em muitos outros países atualmente, incluindo o Brasil -, e obteve um resultado alarmante.

Durante um mês, um grupo de ratos foi alimentado somente com uma dieta com altas doses de gorduras saturadas e açúcares e baixa em fibras, ou seja, a base do fast food. Como consequência, os animais desenvolveram uma resposta inflamatória em seu sistema imune, como se tivessem tido uma infecção provocada por uma bactéria perigosa.

A constatação dos pesquisadores é que o corpo dos ratos reagiu de maneira agressiva à ingestão de comidas gordurosas e com muito açúcar. O que surpreendeu ainda mais os cientistas foi perceber que, mesmo após o retorno à dieta normal dos roedores, baseada em cereais, o sistema imune dos mesmos demorou muito tempo para voltar ao normal. Isso significa que os prejuízos à saúde decorrentes de uma dieta pobre em alimentos saudáveis pode ter um impacto de longo tempo no organismo.

“A dieta de fast food levou a um aumento inesperado no número de certas células imunes no sangue dos camundongos, especialmente granulócitos e monócitos”, explicou Anette Christ, da Universidade de Bonn.

Mesmo depois de quatro semanas, quando a alimentação com cereais foi reintroduzida, muitos dos genes afetados continuaram a se comportar de maneira alterada.

“Apenas recentemente foi descoberto que o sistema imune inato (aquele nascido com o indivíduo) tem uma forma de memória “, afirmou Eicke Latz, diretor do Institute for Innate Immunity da Universidade de Bonn. “Após uma infecção, as defesas do corpo permanecem em um tipo de estado de alerta, para que possam responder mais rapidamente a um novo ataque”. Este comportamento é chamado pelos cientistas de “treinamento imune inato”. Nos camundongos, este processo não foi desencadeado por uma bactéria, mas por uma dieta não saudável.

Ainda segundo o estudo, que será publicado na revista Cell, essas respostas inflamatórias causadas pelo consumo de fast food nos ratos podem acelerar o desenvolvimento de doenças vasculares e diabetes tipo 2 .

“Estas descobertas têm uma importante relevância social”, acredita Latz. “A base de uma dieta saudável precisa se tornar muito mais valorizada na educação atual. Somente dessa maneira poderemos conscientizar as crianças bem cedo contra a tentação da indústria da comida. Crianças devem ter escolha sobre o que vão comer todos os dias. Devemos capacitá-las a fazer decisões conscientes sobre seus hábitos alimentares”.

Pesquisas demonstram que nossas escolhas na mesa podem determinar o quão longe viveremos. Nos últimos séculos, a expectativa de vida do ser humano aumentou muito nos países ocidentais. Entretanto, nas décadas mais recentes, esta tendência está sendo revertida e especialistas afirmam que pessoas nascidas hoje viverão menos tempo que seus pais. Péssimos hábitos alimentares e sedentarismo seriam os responsáveis pelos anos a menos.

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Foto:  Niklas Rhöse on Unsplash

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.