Seis coisas que você precisa saber para mobilizar pessoas


Hoje, quero falar aqui sobre seis tendências no uso de ferramentas para mobilização e engajamento muito eficazes e que tenho observado mais recentemente. São elas: o celular, fotos e vídeos no formato vertical, o vídeo, a transmissão ao vivo, a realidade virtual e as mensagens instantâneas. Vamos a elas!

1. Celular é a principal plataforma de comunicação

O celular no Brasil é o principal canal de acesso à internet e rapidamente se consolida como ferramenta de acesso à comunicação e entretenimento, reproduzindo uma tendência global. Isto significa uma mudança de paradigma em todos os sentidos, uma vez que torna a instantaneidade um fenômeno permanente, ubíquo e massificado.

Por sua extrema mobilidade e total conectividade, os celulares tornam-se extensões dos nossos sentidos táteis e cognitivos. São nossos olhos, ouvidos e bocas estendidos e nos conectam diretamente a nossas redes imediatas e, por processos de viralização, a redes mais distantes.

Com isso, é preciso pensar em conteúdos totalmente adaptados a este meio e que façam o melhor uso possível desta ferramenta. Se antes adaptavam-se recursos para o celular, cada mais estes recursos serão pensados primeiro para celular e depois levados para outros canais.

Um exemplo interessante é o da Global Forest Watch (GFW), que usa redes sociais, blogs, grupos de discussão e tecnologia móvel (específica de celulares) para registrar e monitorar o impacto da degradação ambiental em comunidades em várias partes do mundo. Usam de código aberto para que as pessoas criem seus próprios aplicativos móveis e baseados na web, de forma a democratizar o uso da ferramenta.

2. O retrato é a nova paisagem

Consequência direta do fenômeno anterior, o formato retrato (retângulo vertical) para fotos – e especialmente vídeos – vai se tornando padrão e suplantando o tradicional retângulo horizontal, ou paisagem, que era dominante desde a invenção do cinema. Isto traz mudanças de paradigma muito interessantes, porque grande parte da estrutura de transmissão de imagens está preparada para o formato vertical.

Ou pelo menos era assim, já que plataformas como Youtube, Fabebook, Snapchat já assumiram esta realidade e se adaptaram para receber este tipo de formato. Em 2015, a TV estatal norueguesa NRK lançou um projeto de documentário para a web totalmente filmado no formato vertical e pensado para uso no formato digital, especialmente celulares.

Isto requereu adaptações nas câmeras usadas na filmagem para gravar as imagens da forma como um celular “em pé” faria (veja a história aqui). O resultado foi considerado muito satisfatório, especialmente porque permitia fazer imagens mais completas das pessoas, capturando seu corpo todo e registrado seus gestos, o que normalmente não acontece com frequência ou facilidade no formato horizontal.

A novidade para os organizações sociais e ativistas é que isto facilita a participação das pessoas na produção de conteúdo, respeitando o modo como as pessoas estão acostumadas a assistir vídeo na internet. É um complemento perfeito para um mundo cada vez mais ligado pelo celular.

3. Vídeo, vídeo e mais vídeo

Uma terceira tendência, associada às duas anteriores, é a consolidação do vídeo como elemento fundamental de geração de conexões entre as pessoas. O vídeo é tão importante que plataformas como o Facebook ranqueiam, de forma diferenciada e mais positiva, posts que contenham vídeo. E, no caso do Facebook, estamos falando de vídeos de curta duração: um minuto como duração média máxima é o ideal.

O fato é que as pessoas têm pouca paciência para conteúdos de textos longos e preferem se concentrar em imagens em vídeo que lhes entretenham e informem. E o desafio vai ficando cada vez maior, já que existe uma tendência por vídeos de duração menor, como os de 15 segundos e, mais recentemente, os de seis segundos.

É impossível produzir mensagens coerentes, consistentes e engajadoras em apenas seis segundos? Pelo contrário, como mostra o vídeo abaixo que, em seis segundos, traz a essência do impacto potencial das mudanças climáticas na Califórnia (veja exemplos de outros vídeos, neste formato, aqui).

O impacto imediato de um vídeo como este é despertar a curiosidade e o interesse e estimular quem o viu a querer mais informação.

4. Todos somos broadcasters!

Broadcaster é um conceito das antigas, de um tempo em que poucas pessoas controlavam efetivamente os meios de produção e disseminação de notícias. Mas, hoje, este controle não existe mais e a capacidade de compartilhar histórias, imagens e opiniões está completamente distribuída.

Uma das consequências mais imediatas é que qualquer pessoa pode fazer suas transmissões ao vivo, seja para compartilhar momentos de um show ou para registrar e denunciar um ato de violência policial.

As transmissões ao vivo, de qualquer tema, crescem em quantidades exponenciais, como mostra o gráfico abaixo, quando as transmissões ao vivo das celebrações de Ano Novo em todo o mundo, via Facebook Live, alcançaram níveis nunca antes vistos e que são nada diante do que o futuro nos espera.

As organizações e indivíduos interessados envolvidos em causas e ações de mobilização contam, assim, com uma ferramenta de comunicação e mobilização extraordinário e de baixíssimo custo. E mesmo grandes empresas e a indústria mainstream estão se submetendo a esta nova realidade. Como prova o lançamento do novo trabalho dos Tribalistas (Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown), transmitido primeiro via FB live e que só depois foi para a TV aberta.

5. Realidade virtual sensorial

Hoje, aqueles óculos gigantes (como os da foto deste post), geralmente acompanhados de headphones, são cada vez mais comuns como plataforma para assistir aos filmes de realidade virtual. Várias ONGs têm usado este recurso para ajudar as pessoas a terem um contato mais profundo com temas difíceis de abordar diretamente, seja pela sua complexidade temática ou distanciamento geográfico.

O Unicef, por exemplo, criou uma página onde reúne vários exemplos de filmes em realidade virtual que levam os visitantes a compreender os projetos da organização de uma forma mais profunda e emotiva.

E é justamente a criação de vínculos emocionais que torna o uso de realidade virtual uma ferramenta poderosa. Ainda mais quando o ato de ver e ouvir a narração de um filme é complementado pela ativação de outras sensações corpóreas e cognitivas.

O Greenpeace recentemente apresentou em São Paulo seu projeto Experiência Munduruku, que levava os participantes a se sentir literalmente dentro de uma aldeia dessa etnia, em pleno Tapajós. Era possível sentir os cheiros da mata, as variações de calor e umidade, os movimentos. Tudo interligado às imagens e sons sendo vistos e ouvidos e embalados por um ambiente especialmente criado. As pessoas saiam da sessão muito emocionadas, algumas chorando e profundamente conectadas com a história dos Munduruku e sua luta para defender e demarcar seu território.

6. Mensagens mais diretas do que nunca

Mobilizar pessoas tem a ver com criar conexões diretas. E o mundo interconectado em que vivemos atualmente facilita enormemente este processo. Os reis neste quesito são os aplicativos que permitem a troca instantânea de mensagens e arquivos, como o WhatsApp e o Facebook Messenger.

Estes aplicativos já são usados, hoje, por cerca de 1,6 bilhão de pessoas em todo o mundo e as projeções para 2012 é de chegar a 2,5 bilhões. E o Brasil é um dos países aonde o uso destes serviços crescerá mais ao longo deste e dos próximos anos (os outros são China, Índia, Indonésia e Estados Unidos).

Tais aplicativos de mensagem representam uma oportunidade única para gerar comunicação direta entre organizações e as pessoas e estimular que apoiadores de uma causa conversem entre si e repercutam esta conversação para sua próprias redes. Por exemplo, grupos de Whatsapp podem ser usados para manter os apoiadores de uma causa informados dos últimos acontecimentos, mobilizados para uma ação, estimulados a fazer um trabalho voluntário ou a fazer uma doação.

Um avanço mais complexo e fundamental neste setor é a tecnologia chatbots, robôs virtuais que se apoiam em regras pré-estabelecidas e/ou inteligência artificial para gerar interação imediata com as pessoas. Alguns. Inclusive, usam tecnologia de reprodução de voz para dar um aspecto ainda mais humano a esta interação. A vantagem desta tecnologia é que torna quase imediata a interação com as pessoas, o que tem o potencial de aumentar seu interesse no tema apresentado pelas organizações.

O Facebook aceita inclusão de chatbots no aplicativo messenger e várias ONGs estão começando a fazer uso desta ferramenta. Um exemplo Um exemplo é a Climate Reality Project, ONG criada por Al Gore em sua cruzada contra as mudanças climáticas. Qualquer pessoa pode usar a página de Facebook da organização para fazer perguntas ou sugestões, que são respondidas quase que imediatamente pelo chatbot. Uma ferramenta muito interessante para promover engajamento nas causas da entidade.

Foto: Eddie Kopp/Unsplash

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Renato Guimarães

Jornalista, com mestrado em relações internacionais, é especialista em temas ligados à mobilização e engajamento em causas de impacto social. Morou oito anos no Peru, de onde conheceu bastante da América Latina. Trabalhou em organizações como Oxfam GB, Purpose, Instituto Akatu e IFC/Banco Mundial. Foi sócio de duas consultorias – Gestão Origami e Together – e Diretor de Engajamento do Greenpeace Brasil. Atualmente, é Assessor Sênior do Social Good Brasil e VP de Engajamento da Together, agência focada em processos de mobilização para causas de impacto