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Santuário de Elefantes de luto: depois de viver três anos livre no Cerrado, Guida morre aos 44 anos

Quando Guida chegou ao Santuário dos Elefantes Brasil com Maia, na Chapada dos Guimarães, em outubro de 2016, estava muito debilitada, magra e cabisbaixa. Foi só andar um pouco pelo espaço de reabilitação pra se animar um pouco. Mas claro que os especialistas responsáveis pelo santuário sabiam que não ia ser nada fácil para ambas se recuperar de tantos anos de maus tratos e de clausura.

Como inúmeros bichos pelo mundo, Guida e Maia, as duas primeiras moradoras do santuário viveram encarceradas por mais de 40 anos no Brasil, em circos. Juntas. Em 2015, apenas, conquistaram o direito de ter um espaço maior, com algum cuidado. Em 2016, finalmente, foram liberadas pela justiça para poder usufruir do lindo espaço criado no Cerrado. A capacidade do santuário é de 50 indivíduos. Em janeiro deste ano foi a vez de Rana se juntar a elas. Ela vivia em Sergipe.

Rana: a nova moradora do Santuário dos Elefantes, na Chapada dos Guimarães

Contei sobre a história da criação do Santuário dos Elefantes no país – o primeiro da América Latina – aqui, no Conexão Planeta. Nas redes sociais, a notícia causou uma certa polêmica porque, alguns seguidores nossos alegavam que a regiao não era apropriada para animais ou que era um absurdo dedicar tanto espaço para bichos que nada têm a ver com o Brasil, e que elas deveriam ser enviadas para a África. A logística dessa viagem seria um absurdo e elas estavam muito debilitadas: certamente, morreriam a caminho. O melhor foi deixa-las por aqui, mesmo.

Mas, em junho deste ano, o santuário divulgou uma triste notícia: a morte inesperada de Guida. Na manhã do dia XXX, ela foi encontrada pela equipe de tratadores numa pequena trilha. Parecia empacada, incapaz de caminhar. Eles disseram que a trilha não é fácil, mas a elefanta estava super acostumada a andar por lá e já havia caminhado por terrenos muito mais desafiadores que aquele, provando que era uma grande desbravadora. Por isso, todos estranharam a situação.

De acordo com informações publicadas no site do santuário, a primeira providência tomada pelo grupo – liderado por Scott Blais, presidente, além de Kat Blais, vice-presidente e diretora de bem-estar animal e Laura Pailillo, veterinária – foi abrir mais o caminho para que ela pudesse descer com menos dificuldade até o pequeno riacho sazonal um pouco à frente. Mas Guida parecia muito fraca e tremia de exaustão. Seus músculos já não respondiam aos estímulos.

Então, eles a levantaram com uma retroescavadeira e a levaram até a margem do riacho. Durante o percurso, ela ainda ensaiou um ou dois passos, apoiando-se num monte de terra para descansar um pouco. Ela recebeu medicação para ajudar a anima-la, mas, depois de algum tempo, sua respiração se alterou, começou a oscilar e parou.

O motivo da morte de Guida ainda não foi revelado, mas é fato que a vida em cativeiro e os maus tratos deixaram sequelas e que, apesar de estar vivendo tranquila e feliz no santuário, todos sabiam que não seria por muito tempo.

Scott, que tem mais de trinta anos de experiência com elefantes, declarou: “Tragicamente, os danos cumulativos causados pela negligência implícita do cativeiro, podem criar impactos devastadores e inesperados na vida dos elefantes. Quando Guida chegou ao Santuário estava abaixo do peso esperado para sua compleição física e perdida num transe de reações repetitivas estereotipadas. Começamos a perceber sua transformação logo após algumas horas de sua chegada ao Santuário. Sua felicidade era incontestável”.

Quando morreu, os tratadores levaram Maia e Rana para ficarem perto dela e tomarem conhecimento de seu falecimento. Segundo eles, é comum que elefantes honrem a morte dos membros de sua família e se despeçam. No Instagram, o Santuário relatou alguns momentos, de forma carinhosa:

“Ontem foi um longo dia. Maia passou todo tempo que quis ao lado do corpo de Guida, vimos as pegadas por todas as partes. Também encontramos rastros da Rana do outro lado da cerca, bem próximos de onde Guida estava. Sabemos que ela se aproximou, mas não temos certeza do quanto.

Durante a manhã mantivemos Maia e Rana nos piquetes mais próximos ao galpão, para a necrópsia da Guida. A primeira vez que Maia viu Rana após o ocorrido ela parou, não a cheirou nem tocou com a tromba, apenas chegou pertinho e ficou parada ao seu lado por alguns minutos. Rana está sendo respeitosa e dando espaço a Maia, isso demonstra como ela aprendeu suas lições com Maia e Guida desde que chegou ao SEB.

Pouco tempo depois, Maia foi até Rana novamente e colocou a tromba dentro de sua boca. Rana permitiu toda a interação, sendo doce e gentil, mas sempre atenta aos sinais e às emoções de Maia. As duas parecem estar firmes, Maia está introspectiva, mas apesar dos pesares, passa bem.

Quando a necrópsia foi finalizada, abrimos novamente todos os portões entre os piquetes e agora Maia e Rana tem acesso ao local em que Guida está enterrada. Na foto vemos Maia ontem de manhã, velando o corpo da amiga. Assim como fez tantas vezes com ela viva, a protegendo enquanto Guida dormia pacificamente”.

Logo depois da morte de Guida, Scott relatou no site: “Este processo será particularmente difícil para Maia. As duas eram praticamente inseparáveis e celebravam suas vidas dentro do santuário, emitindo altos trombeteios de alegria. Maia precisará de tempo para se adaptar e não há dúvida de que ela e todos nós carregaremos, bem dentro dos nossos corações, a alegria pura e plena que Guida dividiu com todos os que tiveram a chance de conhecê-la”.

Mas, pelas imagens publicadas pelo Santuário no Instagram, depois de um tempo caminhando sozinha, Maia se aproximou de Rana e elas têm brincado juntas (foto abaixo).

Um registro como este, abaixo – com Guida, Maia e Rana juntas -, nunca mais poderá ser feito, mas esta é uma recordação preciosa que o santuário e nós guardamos.

Fotos: Divulgação

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José Americo Cabral Medeiros
José Americo Cabral Medeiros
4 anos atrás

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