Roupas que vestem a consciência

Quem usa roupas de puro algodão sabe que não há nada mais confortável para vestir. E quando essas roupas são de algodão orgânico e surgem impregnadas por trabalho justo, que envolve pessoas que descobriram um jeito diferente de produzir, cujos resultados são mais equânimes para todos, então o conforto é ainda maior. Ao menos pra mim.

Duas marcas desenvolvidas por cooperativas – a Justa Trama e a Natural Fashion – sobre as quais já falei aqui no blog, podem agora ser adquiridas na cidade de São Paulo, na Casa Orgânica, espécie de supermercado 100% orgânico e sustentável, que busca reunir uma diversidade de produtos orgânicos com qualidade certificada. É o caso desses produtos.

O algodão orgânico da Paraíba é a matéria prima para roupas, brinquedos e acessórios produzidos pela Natural Fashion. Criado no ano 2000, em Campina Grande, com o objetivo de fortalecer as empresas têxteis e de confecção locais, o Consórcio Natural Fashion encontrou no algodão colorido e orgânico um diferencial e, três anos depois, foi criada a Cooperativa de Produção Têxtil e Afins do Algodão do Estado da Paraíba (CoopNatural), que começou sua jornada com dez empresas de confecção e tecelagem e, hoje, conta com mais de 30 cooperados.

A CoopNatural organizou o plantio, articulada com a Rede Paraíba de Algodão Agroecológico, e certificou as áreas plantadas, em sua maioria assentamentos. Hoje, cerca de 25 municípios e núcleos agrícolas plantam e são apoiados pela cooperativa.

“Essa é a primeira vez, em 17 anos, que temos um ponto de venda fixo com estoque relevante na cidade de São Paulo. Em março, estivemos na capital paulista a convite da Unisol, para o Encontro Nacional de Economia Solidária e para o Encontro de Mulheres”, conta Maysa Gadelha, presidente da Natural Fashion. “A Casa Orgânica já havia feito um pedido, e fui conhecer pessoalmente nosso cliente, já que estavam inaugurando uma linda e grande loja para comercializar exclusivamente produtos orgânicos. Na visita, surgiu a ideia de colocarmos nosso estoque em São Paulo, pois o maior mercado do Brasil está ali e nosso clientes também ficam mais perto para economizar no frete”. E ela completa: “Mandamos a mercadoria com preço de atacado. Nas vendas de varejo, a Casa Orgânica fica com o lucro e no atacado damos comissão para a loja. Assim, os clientes têm um preço muito mais barato nas mercadorias e um estoque grande para escolher à vontade”.

Consórcio Natural Fashion está presente em 18 estados pelo Brasil e em vários outros países como Itália, Espanha, Noruega, Alemanha, Suíça e Holanda, para onde exporta suas peças.

Já a Justa Trama acaba de lançar uma nova coleção – Moda que envolve: costureiras, artesãs e sustentabilidade -, desenvolvida com o apoio do Projeto Empodera, parceria entre o Instituto Renner e a Onu Mulheres. As roupas são produzidas com algodão orgânico certificado e colorido com tingimento natural, que preserva totalmente o meio ambiente. O resultado desta parceria são roupas confortáveis, sustentáveis e para todos os estilos.

A cadeia produtiva da Justa Trama se inicia no plantio do algodão agroecológico e segue até a comercialização de roupas, que reúne cerca de 600​ trabalhadores e trabalhadoras em empreendimentos nas cinco regiões do Brasil – sendo 60% mulheres. São catadoras de sementes, agricultoras, fiadoras, tecedores, costureiras, artesãs e assentados que trabalham com base nos preceitos da economia solidária, equidade de gênero, inclusão social, sustentabilidade e comércio justo.

A Justa Trama define seu produto final como a roupa que veste a consciência. A nova coleção traz roupas que podem ser usadas no dia a dia, nas mais diversas situações. “Queremos que as pessoas pensem no que vestem. Pensem de onde vem a matéria prima. Pensem em quem faz. Porque diferente do que muitas vezes foi dito por aí – de que moda é para pessoas alienadas -, para nós, pensar um jeito diferente de se vestir é também um jeito de trabalhar a consciência. E a grande chamada do nosso projeto é a roupa que veste a consciência. Porque acreditamos que optar por uma roupa orgânica, que tem um cuidado especial com quem faz e com o meio ambiente, é ter consciência”, diz Nelsa Nespolo, integrante da Justa Trama.

A Cooperativa Central Justa Trama surgiu em 2004, com o desafio de produzir 60 mil bolsas para o Fórum Social Mundial, sediado em Porto Alegre no ano seguinte. Naquele momento, participaram do processo produtivo a Cooperativa Nova Esperança (CONES), de Nova Odessa/SP, e a Cooperativa de Trabalhadores da Fiação (Textilcooper), de Santo André/SP. As duas foram responsáveis pela fiação e pela tecelagem. A confecção das bolsas foi realizada pela Univens e pela Fio Nobre. E, devido ao volume de produção, se uniram ao grupo mais de 30 empreendimentos de economia solidária para dar conta do trabalho.

A experiência permitiu enxergar a viabilidade da cadeia. Desde então, depois de muitas mudanças em sua composição, a Justa Trama hoje é composta por empreendimentos que, por se localizarem em diferentes estados do Brasil, participam de uma rica troca de experiência e desenvolvimento.

Conforto é vestir tudo isso, certo?

Foto: Divulgação/Justa Trama

2 comentários em “Roupas que vestem a consciência

  • 6 de julho de 2017 em 4:48 PM
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    Oi Monica, excelente matéria sobre as roupas em algodão…é uma proposta maravilhosa que por certo evoluirá em vendas e propostas de usos…

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  • 7 de outubro de 2017 em 8:57 PM
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    Muito legal o POST, gostei muito da filosofia. As pessoas vestem algumas roupas e nem sabe de onde veio. E nessa matéria a Mônica falou tudo! Parabéns.

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Mônica Ribeiro

Jornalista e mestre em Antropologia. Atua nas áreas de meio ambiente, investimento social privado, governos locais, políticas públicas, economia solidária e negócios de impacto, linkando projetos e pessoas na comunicação para potencializar modos mais sustentáveis e diversos de estar no mundo.