Refugiados usam aromas e sabores da culinária de seus países para recomeçar vida no Brasil

Algumas das experiências mais inesquecíveis na vida do ser humano nascem em uma cozinha. Basta fechar os olhos e lembrar do cheiro e sabor de alguns pratos da infância. Receitas especiais preparadas por familiares…

Cozinheira de mão cheia, Muna Darweesh, na foto que abre este post, aprendeu muitas de suas receitas com a mãe. Todavia, em 2013, precisou abandonar seu país, a Síria. Não havia mais condições de viver em sua terra natal, destruída por uma guerra que já dura anos. A refugiada chegou na capital paulista ao lado do marido e quatro filhos. “Em São Paulo, adoro o mercado Municipal, pois ele me lembra um antigo mercado sírio e me traz lindas lembranças”.

Para ajudar no sustento da família, Muna decidiu usar seu talento culinário. Prepara quibes, charuto de uva e repolho, esfihas, tabule, homus, babaganush e tantas outras delícias da gastronomia síria. Sua empresa, a Muna – Sabores & Memórias Árabes faz delivery de comida no centro da cidade e vende doces típicos para a comunidade muçulmana da região.

Muna faz parte da equipe da ONG Migraflix. Criada pelo imigrante argentino Jonathan Berezovsky, em 2015, a organização tem como objetivo integrar refugiados e imigrantes na sociedade, mas também, garantir que eles se sustentem economicamente no Brasil. Para isso, atua não só em São Paulo, mas no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

E como faz isso? De maneira genial! Usa o talento, histórias e experiências destes “novos brasileiros” em workshops de culinária, música, arte e dança, serviços de catering e palestras motivacionais.

Com o logo “Viva o mundo em sua cidade”, a Migraflix convida as pessoas a experimentar novas culturas através de aulas com imigrantes e refugiados. Assim como Muna, responsável pelo workshop de “Quitutes Sírios”, o colombiano Genaro Centelha, a marroquina Basma Sahki, o peruano Victor Lopez e a africana Olga Yavo também fazem parte do time da ONG. São contratados para ensinar receitas de seus países e, compartilhar suas experiências (conheça todas suas história aqui) .

Genaro Centelha dá aulas de gastronomia colombiana

A Migraflix hoje empodera mais de 100 refugiados e imigrantes de 26 países em atividades como, por exemplo, aulas de tango com os argentinos Emilia Andrada e Benjamín Galian e dança com a colombiana Margarita Hernandez.

O casal argentino chegou ao Brasil em 2014

No ano passado, o trabalho desenvolvido pela organização recebeu dois prêmios: o Global Business and Interfaith Peace Award, da fundação americana Religious Freedom & Business Foundation, e outro concedido pelo Pacto Global Nações Unidas.

Olga Yavo ensina receitas e tradições da Costa do Marfim

Capacitação e empreendedorismo

A novidade mais recente é que a Migraflix está lançando uma nova iniciativa: o Raízes na Cozinha. Durante pouco mais de três meses, imigrantes e refugiados terão aulas de técnicas de culinária, administração e marketing digital para poder abrir seus próprios negócios na internet.

O curso está sendo oferecido graças a uma parceria da ONG com a UberEATS, Facebook, Escola de Gastronomia Wilma Kovesi , Buzina Food Truck, Consulado da Mulher e a Agência da ONU para Refugiados.

Lançamento do Raízes da Cozinha

Abaixo segue a palestra do criador do Migraflix, Jonathan Berezovsky, para o TEDx, em São Paulo:

Fotos: divulgação Migraflix

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.