Refugiados sírios na Turquia são explorados pelo mercado da moda

Refugiados sírios na Turquia são explorados pelo mercado da moda

Mais uma vez, a indústria da moda é acusada de práticas vergonhosas em sua cadeia de produção. Em uma reportagem exclusiva, feita na Turquia, a rede britânica BBC mostrou, ontem (24/12), que refugiados sírios, alguns deles menores de idade, estão trabalhando em fábricas de roupas de forma ilegal, em condições inaceitáveis.

Segundo a produção da BBC conseguiu apurar, a jornada de trabalho é de 12 horas e os refugiados recebem menos de uma libra por hora, o que é bem abaixo do salário mínimo na Turquia. Os sírios não têm nenhum contrato de trabalho e são pegos em ônibus pelas fábricas no começo da manhã e pagos na rua, ao final do dia. A reportagem revelou ainda que jovens menores de idade, com apenas 15 anos, fazem parte da mão-de-obra ilegal sendo usada nestes locais.

Entre as marcas denunciadas de terem suas roupas feitas nas fábricas turcas que estão explorando refugiados sírios estão Mark & Spencer (tradicionalíssima na Inglaterra) e ASOS, uma rede de varejo online.

Os jornalistas da rede britânica também viram refugiados trabalhando em uma fábrica de jeans, em que as etiquetas mostravam que as peças seriam comercializadas pelas redes Zara e Mango. Nestes lugares, os sírios passavam uma substância química no tecido sem ao menos usar máscaras de proteção.

Ao serem procuradas pela BBC para se pronunciar sobre a denúncia, as marcas afirmaram que fazem fiscalização frequente de seus fornecedores e que consideravam esse tipo de trabalho inaceitável.

A desculpa sim é simplesmente inaceitável. Grandes marcas da moda usam constantemente países pobres para produzir suas peças, desta maneira gastam bem menos com salários. A Turquia é um exemplo disso. Muita roupa vendida na Europa é fabricada naquele país. Todavia, só em 2016, chegaram lá 3 milhões de refugiados da Síria. E é exatamente esta gente que está sendo explorada.

Esta foi a segunda vez que a marca Mark & Spencer é acusada de usar trabalho em condições similares à escravidão. Assim como ela, Gap e Adidas também foram denunciadas de práticas abusivas em fábricas no Cambódia.

No ano passado, o relatório “Work faster or get out” (Trabalhe mais rápido ou vá embora, em tradução livre), feito pela Human Rights Watch, mostrou como é a situação no país asiático. Cerca de 90% dos trabalhadores são mulheres, que ficam sentadas durante 11 horas por dia e muitas vezes, não podem sequer ir ao banheiro. Mulheres grávidas e doentes são demitidas sumariamente.

Então, a próxima vez que você for comprar uma roupa, faça uma pesquisa antes. Se a loja estiver envolvida em alguma denúncia, não compre!

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Foto: domínio público/pixabay (meramente ilustrativa)

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.