Reflorestamento rural: preservação aliada ao aumento da produtividade no campo

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Já parou para pensar que a maior parte dos projetos de plantio de árvores ou está concentrado no que resta de nossas florestas ou na arborização urbana? Um imenso território brasileiro está praticamente alheio à geração dos mecanismos de melhoria ambiental: a área rural. Sim, a lavoura e os pastos podem contribuir e muito com a melhoria do clima e os agricultores tirar proveito econômico do reflorestamento.

Pipocam alguns projetos ligados à agroflorestas no Brasil, mas a grande maioria dos produtores ainda olha com receio para esses sistemas, pois veem isso como uma quebra de paradigma e muitos ainda se mostram despreparados para tais mudanças.

Por este motivo, um novo projeto de reflorestamento rural busca conciliar os interesses produtivos com os de preservação. Este é o ponto principal que defende a Associação para a Promoção do Retorno das Árvores (RdA). Segundo a entidade, é um erro dissociar o que se produz do que se preserva.

A RdA propõe conciliar o plantio de árvores em três faixas florestais entre as lavouras (ou sobre pastagens), trazendo para a agricultura diversos benefícios, entre eles, a quebra do vento e consequente melhor umidificação do cultivo, o que leva a uma transpiração regulada das plantas e um melhor processo de fotossíntese.

Desta forma, além de melhorar a umidade disponível na lavoura, as árvores geram muita matéria orgânica, que pode ser empregada na lavoura, garantindo a fertilidade natural para as mesmas.

Nas fazendas pastoris, as faixas florestais proporcionam sombra para os animais durante os períodos mais quentes do dia, gerando menos transpiração e mais conforto.

Por outro lado, o sistema devolve outros benefícios às faixas florestais: luz solar de dois lados, maximizando a fotossíntese e aumentando a produtividade, em até, três vezes mais do que a floresta em bloco.

Mas convencer o produtor rural a aderir à causa ambiental é uma árdua tarefa. Frequentemente, o agricultor associa o plantio de árvores com a perda de terreno para sua produção. E de fato, ele acaba plantando árvores apenas por determinação legal.

Essa resistência só pode ser vencida com o argumento de que além de trazer benefícios ambientais, plantar árvores pode gerar receita. A solução encontrada pela equipe da RdA é o plantio de espécies de madeira nobre, cujo lucro pode ser até quatro vezes maior que o obtido pelo plantio de eucaliptos, por exemplo.

A entidade defende que o cultivo de espécies madeireiras só deve ser feito associado a outras culturas, do contrário, isso esgotaria o solo e tiraria o produtor do campo, que acabaria arrendando sua terra para grandes empreendedores.

Ao invés disso, a RdA propõe um sistema que permita seu ganho periódico com os benefícios da melhoria da fertilidade do solo e da permanência da umidade da lavoura e ao final de 25 anos, um ganho econômico elevado com a venda da madeira. É o que a entidade chama de “poupança do agricultor”. Um hectare plantado de madeira nobre pode representar uma receita de até 500 mil reais na fase adulta.

Mas ao longo do processo de crescimento e amadurecimento da faixa florestal, o agricultor pode obter outras vantagens, como a colheita de frutas que podem fazer parte da mata, sem necessariamente aguardar o final do processo para ter algum resultado financeiro.

Obviamente, o maior ganho é o ambiental. Segundo Demis Lima, presidente da associação, “Os benefícios pela presença das árvores seriam retenção de água local, conforto fisiológico para as plantas, para os animais e para os seres humanos… Estamos plantando água”.

Claro que a primeira ideia de plantio florestal seria de árvores nativas. Porém, atualmente é praticamente impossível ao produtor pensar em explorar madeira nobre ou qualquer outra cultura arbórea da mata nativa. Qualquer tipo de manejo com a espécie cultivada só pode ser efetuado com muitas autorizações e medidas burocráticas, que acabam tornando o processo oneroso e lento.

Para Lima, a situação da legislação brasileira acabou “gerando uma dendrofobia” (medo de árvores) para o agricultor. Ao invés de ter incentivos do governo para o plantio de árvores, o agricultor tem medo. Não se trata propriamente de medo das árvores, mas das penalidades que pode sofrer caso queira cultivar espécies nativas.

Se plantar alguma árvore de origem brasileira, ele não poderá fazer uso comercial da madeira e tampouco, poderá remanejar mudas ou efetuar podas sem autorização expressa dos Órgãos de Meio Ambiente. Esse obstáculo poderia engessar o sistema proposto pela RdA.

A alternativa encontrada pela entidade foi o cultivo de madeiras nobres de espécies exóticas, que não tem nenhuma proibição legal de exploração e que ao longo de seu crescimento, traria ganhos ambientais e econômicos para a lavoura.

Por este motivo, a OSCIP depois de quase 8 anos de estudos, estabeleceu “o uso de madeiras estrangeiras (cerca de 15 espécies) que tem a função de crescimento lento, de dureza e valor comercial” como as árvores ideais para levar adiante o projeto.

Contudo, a entidade deixa claro, que essa medida visa apenas resolver o problema da legislação ambiental, mas que tem intenção futura de poder explorar espécies nacionais, contanto que haja viabilidade legal para isso.

Ainda de acordo com Demis, o intuito da RdA é de “fazer o agricultor brasileiro voltar a gostar de árvores”, oferecendo assessoria e apoio para a implantação de projetos para produtores rurais interessados. A entidade busca apoio financeiro em organizações internacionais para colocar os programas em prática e também oferece cursos de conscientização e práticas sustentáveis ambientais.

O caminho é longo para levar as árvores de volta ao meio rural, mas o homem do campo sofre com as marcas das mudanças climáticas no seu dia a dia. Também é ele o que mais entende a linguagem da natureza e talvez seja um grande meio para obter resultados realmente expressivos na reposição da mata. Oxalá tenhamos uma legislação mais voltada para incentivar isso!

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Fotos: divulgação Retorno das Árvores

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Marli Kuhnen

Jornalista formada pela Cásper Líbero, em São Paulo, e jardinista formada pela Natureza. Tem uma empresa de jardinagem e meio ambiente no interior de P. Além disso, escreve o Blog Jardim Sustentável. Atualmente mora em Santiago, no Chile, de onde colabora para o Conexão Planeta.