Quer sacola plástica? Então pague por ela!

sacola plástica

Sacolas plásticas são realmente convenientes e práticas. Não há como negar. Você está na rua, passou pela farmácia, comprou o remédio e lá vai para casa com ela. Parou para comprar mão na padaria? Mais uma sacola de plástico. E por aí vai, a conta só aumentando. O plástico é considerado uma importante inovação da humanidade. Realmente, a matéria-prima é muito útil e tornou mais fácil e menos pesada várias atividades do nosso dia a dia. Mas como em outros setores, parece que anda nos faltando bom senso.

A cada ano, a produção de plástico aumenta assustadoramente no mundo. Em 1964, eram 15 milhões de toneladas, em 2014, este número pulou para 311 milhões de toneladas. O que era então uma inovadora criação do homem, tornou-se um gigante problema ambiental para o planeta. Estima-se que 5 trilhões de partículas plásticas estejam boiando pelas águas dos oceanos, indo parar no estômago de animais marinhos e também, nos nossos, já que todo esse lixo está dentro do peixe que vai parar no nosso prato.

Além de conscientização e educação ambiental para combater o uso desnecessário e excessivo do plástico, governos de vários países têm feito sua parte para coibir a oferta gratuita de sacolas plásticas – são usadas aproximadamente 3 bilhões delas (isso mesmo, você leu certo!) por ano no mundo.  

Em alguns países, ter que pagar pela sacola no supermercado não é novidade. Já há alguns anos, Irlanda, Escócia, Dinamarca, Alemanha, Portugal e Hungria são lugares onde, se você quer a sacola plástica, é obrigado a pagar por ela. O que vem chamando a atenção, entretanto, é o número cada vez maior de países que estão implementando tal política.

Desde o primeiro dia deste ano, qualquer loja da Holanda está proibida de distribuir sacolas plásticas gratuitamente. Quem desobedece a lei, leva multa. O preço cobrado pela sacola não é alto, em torno de 0,20 euros. Pode parecer barato demais, um valor que não irá desestimular o consumidor a carregar sua sacola reutilizável. Mas a prática mostra que não é isso o que acontece. As pessoas se sentem incomodadas em pagar algo que até então era lhe oferecido gratuitamente e mudam seu comportamento, incorporando ao dia a dia o hábito de carregar reutilizável, ou simplesmente, quando o produto é pequeno, colocando-o dentro da bolsa ou mochila.

Na Inglaterra, a lei que determinou a cobrança das sacolas plásticas em estabelecimentos comerciais entrou em vigor em outubro de 2015, ou seja, acaba de completar seis meses. Lá, apenas lojas com mais de 250 funcionários são obrigadas a seguir a legislação, diferente da Holanda, onde a lei inclui o pequeno, médio e grande varejo. Mesmo assim, houve uma forte campanha contra a decisão do governo inglês. Falou-se até em “caos”: lojas e consumidores ficariam furiosos.

No país britânico, cobra-se no mínimo 5 pennies por cada sacola plástica, aproximadamente 30 centavos de real. E não vale somente em supermercados. A lei inclui lojas de roupas, livros, produtos cosméticos. Quando o consumidor chega no caixa, o atendente automaticamente pergunta se ele precisa de uma “5 p bag”.

E o caos alardeado pelos opositores à nova medida? Simplesmente não aconteceu! Claro!

O comércio na Inglaterrra registrou redução em 80% no uso de sacolas plásticas. Fantástico, não? A legislação britânica obriga que as redes de varejo façam um relatório anual mostrando estes números. O primeiro deles deverá ser entregue agora em maio.

sacola plástica Tesco

Dinheiro da venda de sacolas plásticas na rede britânica Tesco vai para caridade

E o que é feito com o que é arrecadado com a comercialização das sacolas plásticas? O governo inglês não impôs o destino deste dinheiro, mas espera – e estimula – o comércio varejista a doá-lo para instituições de caridade. A projeção é que nos próximos dez anos, sejam entregues a estas entidades cerca de 730 milhões de libras.

Uma das maiores redes de supermercado do país, a Tesco, resolveu envolver os clientes na iniciativa. Eles são convidados a votar nos projetos que receberão o dinheiro das sacolas. Até agora, 8 milhões de consumidores aceitaram a proposta e escolheram qual programa ambiental deve ser beneficiado (confira ao final deste texto o vídeo da rede Tesco que fala sobre a nova política e as mudanças trazidas com ela).

Sacolas plásticas no Brasil

Por aqui, a iniciativa de se cobrar pela distribuição de sacolas plásticas ainda está engatinhando.

Até agora, São Paulo é a única cidade do país a ter uma legislação sobre o tema. Mas não foi nada fácil fazer com que ela entrasse em vigor. Sancionada em 2011, a lei paulistana, que proíbe a distribuição de sacolas plásticas no comércio, ficou suspensa até 2014 devido a ações judiciais. Somente no ano passado, ela começou a valer.

Na capital paulista, supermercados, padarias e farmácias são obrigados a ter dois tipos de sacolas: verdes e cinzas, fabricadas com matéria-prima renovável. As primeiras são destinadas para o descarte de embalagens recicláveis – metal, papel, plástico e vidro. Já as cinzas servem para resíduos não-recicláveis: restos de comida, papel sujo, bitucas de cigarro, isopor, fraldas e absorventes, adesivos, gomas de mascar, entre outros.

Algumas redes de supermercados seguem a lei e cobram pelas sacolas, estimulando assim o cliente a levar a sua reutilizável para as compras. O problema, entretanto, é que diversas outras as oferecem gratuitamente, ou seja, estão fazendo um desserviço.

Empresários do setor varejista alegam que o preço das sacolas plásticas já está embutido nos produtos que compramos. Sério? Então a solução é tirar este custo de onde ele nunca deveria ter sido incluído. Já consumidores acostumados com a conveniência gratuita dizem que utilizam as sacolas para colocar o lixo em casa. Se eles pagarem por ela, certamente irão tentar reduzir a produção de resíduos e fazer maior esforço em prol da reciclagem.

Para quem usa sacolas reutilizáveis – sejam elas de pano ou daquele tipo de plástico reforçado, que dura anos a fio (as minhas eu já tenho há quase 10 anos e ainda estão firmes e fortes), é muito chocante ver consumidores fazendo compras no mercado e lotando seus carrinhos com pilhas e mais pilhas de sacola plástica.

Infelizmente, muitas vezes, a conscientização só acontece quando o bolso aperta. Por isso, quer usar a sacola de plástico? Então, você deveria pagar por ela. Porque atualmente, quem está pagando pela decisão de muitos é o meio ambiente, que não tem nada a ver essa história.

 

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Foto: domínio público/pixabay e divulgação Tesco

3 comentários em “Quer sacola plástica? Então pague por ela!

  • 20 de maio de 2016 em 3:31 PM
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    Suzana: até concordo com você em relação a quantidade de plástico das sacolas, mas e as demais embalagens, até porque quase tudo hoje possuem plásticos e também são
    descartadas no meio ambiente. E as empresas que utilizam não tem nada a ver com isto, porque a responsabilidade recai somente sobre o consumidor final. É bom lembrar que ele foi acostumado durante anos a usar a tal comodidade..

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    • 21 de maio de 2016 em 7:34 AM
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      Oi Fleury,
      Obrigada pelo contato. Sem dúvida, você tem razão. As demais embalagens também são excessivas. Algumas empresas já fazem um esforço para reduzir o tamanho delas. Mas quando é papelão ou papel, é bem mais fácil de ser reciclado. Além do que, ao ar livre, eles se decompõem muito mais rápido do que o plástico. O plástico demora milhares de ano para se decompor no meio ambiente. E o grande problema atual é que está sendo ingerido por animais. Com certeza as empresas têm responsabilidade, mas não é porque fomos acostumados anos e anos com uma comodidade que não podemos tentar mudar nossos hábitos, certo?
      Abraço,
      Suzana

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  • 5 de junho de 2018 em 6:08 PM
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    Não, obrigada, não quero sacola plástica nem de graça e nem pagando por ela, quero é que ela desapareça do Planeta, sendo substituída por qualquer outro material bio degradável que se desintegre sem resíduos em um mês no máximo porque já passou da hora de sumir com o plástico e isso vale também, bebês que me perdoem, para as famigeradas fraldas descartáveis que faz o Planeta espernear de medo e se contorcer de cólica.
    http://www.nationalgreencentre.org/fraldas-descartaveis-vilas-do-meio-ambiente/
    http://ecomaternidade.com.br/o-desagradavel-problema-das-fraldas-biodegradaveis/

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.