Que tal um tênis feito com lixo plástico coletado nos oceanos?

tênis Adidas feito com fios de fibras de plástico

Eles estão por todos os lados: resíduos plásticos descartados nos oceanos do planeta. O volume já é tão grande, que há imensas ilhas de lixo e micropartículas plásticas boiando pelos mares dos cinco continentes. O impacto ambiental destes resíduos sobre a vida marinha é gigantesco.

Uma parceria entre a organização ambiental Parley for the Oceans e a Adidas mostra como é possível usar criatividade e tecnologia para dar um basta neste problema. Juntas, as duas lançaram um tênis fabricado com fios plásticos de redes de pesca, apreendidas na costa das Ilhas Maldivas, no Oceano Índico.

Lançado inicialmente somente como edição limitada, o tênis de corrida foi produzido com uma nova tecnologia, que permite que resíduos plásticos sejam transformados em fios de fibra.

Um protótipo do tênis já havia sido apresentado nas Nações Unidas, em junho do ano passado, durante o evento “Oceans. Climate. Life”, promovido pela Parley. Para promover a novidade, até o final de julho, internautas foram convidados a enviar vídeos sobre a poluição nos oceanos para ganhar um par de tênis. Infelizmente, só podem participar pessoas que morem na França, Rússia, Alemanha, Austrália, Indonésia, Filipinas, Estados Unidos, Reino Unido e Espanha. Desta vez, os brasileiros ficaram de fora.

A Parley for the Oceans é uma plataforma que une criadores, pensadores e líderes para chamar a atenção sobre a beleza e a fragilidade dos oceanos. A entidade apóia projetos que visem a preservação das águas do planeta.

Segundo a organização, o poder de mudança está nas mãos do consumidor – desde que ele tenha meios para fazer a escolha certa -, e o poder para redefinir os padrões de consumo está nas mãos de uma indústria criativa.

Ainda de acordo com a Parley, artistas, músicos, atores, cineastas, designers, jornalistas, arquitetos, cientistas e muitos outros profissionais têm as ferramentas necessárias para mudar a realidade em que vivemos e desenvolver modelos alternativos de negócios e produtos ecologicamente corretos para que possamos viver numa economia sustentável e viável.

Obviamente que a produção de um tênis feito com fibras de plástico não será a solução para o problema dos lixos nos oceanos. Todavia, ela é a prova que já temos tecnologia para uma grande mudança. E a economia criativa é o melhor caminho para chegarmos a ela.

Além disso, mesmo que pareçam inexpressivas, pequenas mudanças na maneira como o comércio lida com a questão ambiental fazem diferença. Desde o final do primeiro semestre de 2016, a Adidas assumiu o compromisso de não mais usar sacolas plásticas em suas lojas. Com isso, 14 mil delas, espalhadas em 91 países, passaram a distribuir somente sacolas de papel. A medida fez com que 70 milhões de sacolas de plástico deixassem de circular.

No final do ano passado, graças à influência da parceria com a Parley, a multinacional alemã anunciou também que estava deixando de usar micropartículas plásticas em seus produtos de higiene pessoal.  As minúsculas esferas de plástico, menores do que a ponta de um alfinete, praticamente invisíveis a olho nu, são adicionadas a cosméticos. Não biodegradáveis, passam pelo ralo, sistemas de esgoto e invariavelmente, acabam tendo como destino final o mar. Nos Estados Unidos, o uso delas foi proibido, como mostramos nesta outra notícia.

Se todas as companhias ao redor do mundo começarem a adotar políticas como estas e se aliarem a organizações especializadas na conservação ambiental, certamente um grande passo começa a ser dado.


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Foto: divulgação Adidas/Parley for the Oceans

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Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.