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Quando culinária e reabilitação se tornam aliadas


reabilitação e gastronomia

É certamente uma experiência única. E uma ideia fantástica. Abrir as portas de instituições prisionais para que a sociedade possa mudar sua percepção sobre as pessoas que estão ali dentro. Mas não só isso: ter a chance de degustar pratos sofisticados, preparados com ingredientes locais, sazonais e sustentáveis.

Além disso tudo, e o mais importante, é dar uma segunda chance para quem um dia deixará a prisão. Voltará ao mundo real preparado e pronto para conseguir um emprego na área de gastronomia.

Com esta missão incrível, surgiu, em 2009, a Clink Charity, criada pelo chef Al Crisci, que já havia trabalhado em restaurantes renomados de Londres. “Meu único objetivo era diminuir o número de detentos que volta a cometer um crime depois de soltos da prisão”, diz.

Crisci, que cresceu em uma comunidade de imigrantes italianos da Inglaterra, perdeu dois amigos de infância que acabaram presos em uma penitenciária. Um deles cometeu suicídio e o outro morreu depois de uma overdose.

O primeiro restaurante experimental da Clink foi inaugurado em uma prisão de Surrey. Os detentos interessados em fazer parte do projeto passaram por um treinamento de horticultura, culinária e compostagem. “Toda a comida é feita artesanalmente, nada é industrial: pasta, molhos, recheios, sorvetes”, destaca. “Eu queria que eles fossem treinados no mais alto nível técnico e profissional porque quando saírem da prisão já enfrentarão barreiras suficientes”.

Treinamento na preparação de pratos

Desde então, outras três filiais do Clink foram abertas em presídios – em Brixton, Cardiff e Styal – , esta última para detentas mulheres, onde elas cultivam alimentos e ingredientes, que são levados para os demais restaurantes.

Além dos pratos preparados pelos “chefs prisioneiros”, todos os móveis e decoração dos restaurantes também são obra das mãos talentosas dos detentos. “É uma outra maneira de mostrar o potencial dessas pessoas”, destaca Crisci.

Um dos restaurantes Clink dentro de uma prisão

O projeto também lançou um serviço de catering para eventos, em que ex-condenados e pessoas de rua são treinadas como garçons.

O mais recente empreendimento é um café em Manchester, que serve como centro de aprendizagem, incluindo um curso de barista e de comunicação com o cliente.

Aperitivos do serviço de catering do Clink 

Ao longo da última década, 1.800 presos foram treinados. Só em 2017, a Clink Charity ensinou uma nova profissão a mais de 300 ex-detentos. Foram cerca de 250 mil horas de treinamento e 98 mil refeições servidas. E o resultado mais importante de todos: o projeto conseguiu reduzir em 49,6% a taxa de reincidência criminal entre ex-detentos.

O projeto do chef Al Crisci já recebeu mais de 60 prêmios. O Clink foi listado, inclusive, entre os dez melhores restaurantes da Inglaterra.

Sofisticação e qualidade: treinamento quer garantir um emprego aos detentos
assim que saírem da prisão

No Brasil, uma pesquisa realizada, em 2015, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revelou que um quarto dos presos volta a cometer crimes. Ou seja, de cada quatro ex-condenados, pelo menos um (24,4%) volta a reincidir criminalmente no prazo de cinco anos.

“Para o problema da reincidência, precisamos ter nossas mentes abertas, abrir nossos corações e pensar “fora da caixa”. Temos que tratar detentos e reabilitação de uma maneira diferente”, diz Crisci. “Detentos precisam deixar a prisão com qualificação e apoio. Todo mundo merece uma segunda oportunidade. Se fosse seu filho, seu marido, sua mãe, como você gostaria que ele fosse tratado na prisão? Como uma pessoa melhor que pudesse ser bem sucedida na vida? Eu sei que eu gostaria!”

Fotos: divulgação Clink 

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Sandra
Sandra
5 anos atrás

Louvável tudo o que se fizer para que detentos se reabilitem e isso acontece valorizando as qualidades que a maioria possui, porque os defeitos eles não esquecem que estão ali por causa deles. Enquanto resgatam seus equívocos, pagando suas dívidas, precisam focar na direção do trabalho, da arte, da cultura, da ocupação digna para que não se sintam piores do que são e se consigam enxergar como os melhores que podem e devem ser.

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