Projeto Gaveta promove a economia colaborativa com feiras de trocas, palestras e workshops


Quando organizaram o primeiro bazar de trocas entre as amigas, em 2013, Giovanna Nader e Raquel Lino não poderiam imaginar que estavam criando a semente de um dos projetos mais bacanas de consumo sustentável de moda no país. A ideia era dar novos usos a peças antigas ou quase sem uso, paradas em seus armários – e também ajudar uma amiga consumista a ‘enxugar’ o closet e criar um guarda roupa mais prático. Mas não lhes agradava a ideia de fazer um bazar tradicional em que tudo tem preço como numa loja. Elas queriam ir além e disseminar a prática da troca – ou clothing swap -, tão comum na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália.

A organização do encontro foi tão perfeita – as duas fizeram uma seleção hiper criteriosa das peças recolhidas e surpreenderam as amigas -, que a ideia ganhou nome e não parou mais de gerar parcerias e novos projetos.

Hoje, quatro anos depois, as duas jovens empreendedoras chegam à sétima edição do Projeto Gaveta – que acontecerá dia 25/6 em Sorocaba, SP – com uma boa e linda história pra contar. E já anunciam a oitava em setembro, no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo.


Até agora foram seis bazares de trocas (quatro em São Paulo e dois no Rio – um deles em parceria com o movimento Fashion Revolution), envolvendo 600 participantes e com mais de 22 mil peças trocadas. Além disso, elas realizaram palestras, oficinas, workshops e participaram de exposições, sempre sob a tônica do consumo consciente e colaborativo, portanto, sustentável.

Mas como é que a troca funciona no Gaveta? O sistema criado por elas é muito simples, na verdade. Quem adere, deve tirar do armário o que não usa mais e levar ao local indicado. Lá, Giovanna e Raquel realizam uma espécie de curadoria de moda para selecionar as peças para o encontro de acordo com três critérios: atualidade, conservação e, por último, o apelo fashion. A cada peça aprovada é atribuído um valor e ela se transforma em Moeda Gaveta. Camiseta vale uma moeda, calça vale duas moedas e assim por diante. Sem complicação.

E, em 2015 e 2016, as sócias abriram-se para duas novas experiências: o Gaveta na Rua e o Gaveta na Empresa.

O primeiro projeto – pelo qual eu me apaixonei – surgiu a partir do desejo das duas sócias de ter contato com as pessoas que recebiam as peças que não atendiam os critérios de seleção do bazar e eram doadas à instituições de caridade. Assim, em 2015, se aproximaram de dois movimentos paulistanos muito lindos – o SP invisível e o The Street Store – que atuam junto a moradores de rua de São Paulo, para realizar seu sonho: organizaram uma ‘loja’ ao ar livre, no Elevado Juscelino Kubitscheck, mais conhecido como Minhocão, que fica fechado para os carros no domingo. Foi uma alegria pra todos!


“Nos conectamos com pessoas que, muitas vezes, não enxergamos e que estão, ali, na rua, todos os dias, precisando de atenção, carinho, um olhar”, contaram. Com um detalhe: a iniciativa oferece a essas pessoas o direito de escolher, sensação tão ausente na condição em que vivem e que é marcada por doações apenas.

É o que você pode ver (no final deste post) no delicado mini documentário realizado pelo Coletivo Tripé nesse dia especial. É emocionante ver a reação dos moradores de rua e o poder de transformação que uma roupa ou um acessório bacana pode fazer na vida de quem não tem mais nada ou muito pouco. E ainda tem o sonho de mudar de vida, arrumar um emprego e sair da rua.

O segundo projeto – Gaveta na Empresa – foi idealizado a partir da demanda de uma corporação e elas curtiram tanto essa nova modalidade de troca que a introduziram em seu portfólio. Com ele, Giovanna e Raquel organizam eventos exclusivos de trocas de roupas entre os funcionários de qualquer empresa, o que ainda possibilita a interação entre áreas e atividades diversas.

Por uma economia mais colaborativa e compartilhada

As palestras e oficinas são atividades que complementam a missão da dupla de espalhar os conceitos do consumo consciente já que orientam os participantes dos bazares a descobrirem seu estilo, levando em conta que moda não é pra ser seguida, mas uma forma de expressão pessoal, o reflexo de quem se é verdadeiramente. “Ao entender nosso estilo, consumimos menos e, consequentemente, adotamos um guarda-roupa prático e funcional”, explica Giovanna.

Nos workshops, elas aprofundam o aprendizado, apresentando o cenário do mercado de moda que respeita a sustentabilidade e revelando dicas sobre como deixar o armário mais enxuto, além de apresentar técnicas de customização, que ajudam a valorizar o que se tem. Dessa maneira, fica mais fácil orientar o cliente do bazar a desapegar do que não usa mais, a saber escolher o que realmente deve ser descartado e a consumir menos e melhor. “Ao aplicar o desapego como forma de investigação desse processo, provocamos a mudança de consciência e de comportamento em relação à moda e ao consumo”, completa Raquel.

Com o Projeto Gaveta e parceiros, Giovanna e Raquel desejam contribuir cada vez mais para a prática do consumo mais responsável, ou seja, comprometido com as questões sociais e ambientais, e também disseminar o conceito da economia colaborativa ou compartilhada, que facilita o acesso a bens e serviços, sem a necessidade de se adquirir um produto ou usar dinheiro.

Não tenho a menor dúvida de que seu desejo está sendo atendido. Elas estão ajudando a enriquecer o movimento pela moda sustentável que se espalha pelo mundo e, aqui, tem dado bons passos. Que suas ideias irradiem e cresçam em novos empreendimentos!

Agora, fique com o delicioso documentário que mostra como foi o Gaveta na Rua:

Fotos: Divulgação

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.