Políticos da bancada ruralista são cúmplices da destruição da Amazônia, com apoio de multinacionais, denuncia Amazon Watch

Políticos da bancada ruralista são cúmplices da destruição da Amazônia, com apoio de multinacionais, denuncia ONG Amazon Watch

Cumplicidade na Destruição: Como os Consumidores e Financiadores do Norte Sustentam o Assalto à Amazônia Brasileira e seus Povos é o nome do relatório recém-divulgado pela organização internacional sem fins lucrativos Amazon Watch.

O documento é uma denúncia contundente contra seis políticos específicos, que, nos bastidores do Congresso Nacional, em Brasília, estariam agindo em favor de grandes empresas e instituições financeiras globais – além deles próprios -, ao perpetuar constantes ataques à Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, que fornece 20% do oxigênio do planeta e contem 10% de sua biodiversidade.

O relatório analisa minuciosamente as atividades dos seguintes deputados da bancada ruralista:  Adilton Sachetti (PRB/MT), Nelson Marquezelli (PTB/SP), Jorge Amanajás (PPS/AP), Dilceu Sperafico (PP/PR),  Alfredo Kaefer  (PP/PR) e Sidney Rosa (PSB/PA). Todos eles estão concorrendo à reeleição, com exceção de Sperafico, que nomeou um sucessor (confira todas as denúncias neste link, no relatório em inglês). 

Além disso, a Amazon Watch associa suas interferências políticas ao nome da Coca-Cola, Schweppes (do grupo Coca-Cola), Granini (sucos), Wiesenhof (frangos) e o maior fundo de investimentos do mundo, o norte-americano BlackRock. Segundo o relatório, eles também seriam cúmplices não só no desmatamento da Amazônia, mas do enfraquecimento de áreas de conservação ambiental e dos direitos agrários dos povos indígenas, devido à maneira como suas cadeias de suprimentos sustentam a agenda política dos deputados citados acima.

“Conduzimos este projeto de pesquisa para destacar a agenda destrutiva dos ruralistas e fornecer formas novas e eficazes de equilibrar seu comportamento imprudente, visando as relações econômicas globais que os sustentam”, afirma Christian Poirier, da Amazon Watch. “Enquanto nossos parceiros brasileiros resistem ao brutal ataque liderado pelos ruralistas à Amazônia e seus povos, nós nos solidarizamos e oferecemos ferramentas para apoiar seus esforços críticos.”

De acordo com o levantamento da ONG internacional, “Adilton Sachetti, deputado e senador do Mato Grosso, atuou para retirar os direitos à terra indígena da Constituição, enquanto sua produção de soja e algodão depende de laços estreitos com a família de Blairo, o “rei da soja” que se tornou ministro da Agricultura. O político de São Paulo e produtor de laranjas Nelson Marquezelli, por sua vez, pressionou para reduzir as proteções florestais e está ligado a práticas de trabalho escravo … Os resultados também ligam esses líderes às crescentes taxas de violência contra os defensores dos direitos humanos e ambientais e ao associado clima de impunidade, bem como casos bem documentados de corrupção”.

A Amazon Watch questiona a responsabilidade dos países importadores de commodities brasileiros e de empresas multinacionais na destruição da Amazônia. A organização alerta que são necessários critérios mais rígidos destas corporações e governos ao escolher parceiros e fornecedores locais, especialmente, ao evitar negócios com aqueles que já apresentam histórico criminal e têm ligação com o desmatamento. Também denuncia o interesse pessoal de integrantes da bancada ruralista brasileira que legislam em favor próprio para aumentar o lucro de suas fazendas e atividades agropecuárias.

A organização, com sede nos Estados Unidos, não exime a culpa dos consumidores e empresas do Hemisfério Norte que, no final das contas, geram a demanda que provoca a destruição da Floresta Amazônica.

“A Amazon Watch reconhece plenamente o papel desproporcional de nosso país nas mudanças climáticas se nos abusos dos direitos humanos”, diz Poirier. “Como parte disso, acreditamos que os consumidores do Norte devem reconhecer como suas escolhas podem permitir os repugnantes ataques ruralistas aos direitos indígenas à terra e às proteções ambientais que salvaguardam uma região insubstituível que é fundamental para nossa sobrevivência coletiva. Uma vez que entendamos o que está em jogo, a comunidade global deve responder ”.

Recentemente, mostramos aqui no Conexão Planeta, outra denúncia, feita em um artigo publicado na revista Nature Ecology & Evolution sobre como o dinheiro que financia o cultivo da soja e a pecuária no Brasil, e seu consequente desmatamento na Amazônia, vem de paraísos fiscais. Entre outubro de 2000 e agosto de 2011, 68% de todo capital estrangeiro de nove empresas do setor, operando na Amazônia, foi transferido através de um ou vários refúgios fiscais, algo em torno de US$ 18,4 bilhões. 

“O volume de dinheiro rastreado é possivelmente uma pequena fração do total escondido em paraísos fiscais que financiam este comportamento destrutivo contra o meio ambiente”, disse Beatrice Crona, uma das co-autoras do artigo.

E o que o governo brasileiro está fazendo para proteger suas riquezas naturais? Quando será possível que se entenda que a proteção ambiental do país vale muito mais do que abrir as portas de nossos recursos para empresas internacionais?

Leia também:
Desmatamento na Amazônia em julho é 27% maior do que mesmo período do ano passado
Dinheiro que financia soja, pecuária e consequente desmatamento na Amazônia vem de paraísos fiscais
Desmatamento na Amazônia está prestes a atingir limite irreversível
Governo anuncia que taxa de desmatamento caiu e Temer segue vendendo a Amazônia

Foto: USAID Biodiverstiy and Forestry/Creative Commons/Flickr

Deixe uma resposta

Suzana Camargo

Jornalista, já passou por rádio, TV, revista e internet. Foi editora de jornalismo da Rede Globo, em Curitiba, onde trabalhou durante 6 anos. Entre 2007 e 2011, morou na Suíça, de onde colaborou para publicações brasileiras, entre elas, Exame, Claudia, Elle, Superinteressante e Planeta Sustentável. Desde 2008 , escreve sobre temas como mudanças climáticas, energias renováveis e meio ambiente. Depois de dois anos e meio em Londres, vive agora em Washington D.C.