Podemos mesmo plantar florestas? Ou esta é apenas uma mentira conveniente

Post 25 - Blog Avoando (autor: Sandro Von Matter)

Vivemos numa era já reconhecida por diversos cientistas como um novo período geológico, o admirável Antropoceno em que, o impacto da civilização humana sobre o meio ambiente já ultrapassou todos os limites conhecidos, onde a comprovação da nossa influência sobre as alterações climáticas, o declínio de populações e a perda de espécies despertam, na maioria das pessoas, um desejo profundo por mudanças de atitude e implementação de ações voltadas à conservação ambiental.

Hoje, a simples ideia de recriar ambientes naturais, mesmo em pequena escala, passou a ser algo tão maravilhoso que, iniciativas com este foco, vêm cada vez mais engajando pessoas, entidades do terceiro setor, empresas, governo e instituições na implementação de projetos e programas voltados à reconstrução de ecossistemas degradados como, a restauração de florestas, em todo o mundo.

Mas seriam, todas as inciativas que vemos hoje, realmente significantes? Estariam estes projetos de fato recriando ambientes naturais complexos como florestas ou, infelizmente, seriam ações que ingenuamente – ou não – surfam na mais nova onda verde.

Para responder a essa pergunta, precisamos mergulhar numa breve viagem no tempo para, entender como foi definido o conceito do que deveria ser considerado internacionalmente uma floresta, como inúmeros conceitos foram modificados ao longo do tempo e qual o conceito atual para o termo que, felizmente, a cada dia está mais na moda.

Uma profunda revisão dos conceitos e definições do termo floresta foi publicada em 2010, em um artigo na revista Biotropica. Segundo os cientistas Francis Putz e Kenth Redford, dos Estados Unidos, as primeiras definições de floresta tinham como objetivo principal a manutenção de recursos florestais, como estoque de madeira para uso comercial, ainda numa época em que a distinção entre florestas naturais e plantadas não tinha a menor importância.

De fato, foi exatamente a preocupação acerca da escassez de produtos florestais, que emergiu logo após a Segunda Guerra Mundial, que alavancou a formulação deste primeiro conceito para que houvesse uma padronização sobre o termo. E este mesmo conceito foi adotado imediatamente pela FAO, o órgão das Nações Unidas para a Agricultura.

Já partir de 1960, a ascensão dos primeiros movimentos voltados a então chamada proteção ambiental, impulsionaram o surgimento de novas e mais complexas formas para se definir o conceito do que seria uma floresta, modificando totalmente metodologias voltadas a preservação destes ambientes.

Ao longo das próximas décadas, as definições do que poderia ser considerado uma floresta passaram a utilizar como referência estudos científicos e enfatizar as características únicas de cada ecossistema e sua distribuição ao longo das diversas ecoregiões do planeta.

Pouco tempo depois, um conceito revolucionário – a conservação – se incorporou aos objetivos do manejo florestal, integrando também o texto formulado pelas Nações Unidas na fundação da Convenção sobre a Diversidade Biológica, em inglês CBD (Convention on Biological Diversity).

A inclusão de todos estes novos elementos na formulação de um conceito de floresta só foi definitivamente adotada pela ONU, na elaboração de um dos documento oficiais da ECO 92 no Rio de Janeiro. Batizado com o nome de Princípios Florestais, a carta se tornou base para as atividades do Conselho de Manejo Florestal, o FSC (Forest Stewardship Council), criado em 1993.

Mais foi com o fortalecimento do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que havia sido criado em 1980, como resposta ao crescente aumento da preocupação mundial acerca das alterações climáticas no planeta, houve uma mudança radical sobre o termo, tanto no conceito em si como nas metodologias recomendadas para conservar e restaurar estes ambientes.

Tanto as maneiras de como os motivos para conservar ambientes florestais foram completamente atualizados com foco, agora, na redução das emissões dos gases de efeito estufa e dos efeitos do aquecimento global.

De fato, foi neste momento histórico que foram lançados, quase consecutivamente, o Fundo Forest Carbon Partnership Facility do Banco Mundial e, o Programa de REDD das Nações Unidas (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), as florestas passaram a ser consideradas como gigantescos estoques de carbono, essenciais para o equilíbrio do clima do planeta.

Segundo artigo publicado na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, em 2011, pelo pesquisador Sassan S. Saatchi e colaboradores, foi exatamente nesta ocasião que as métricas empregadas para o monitoramento da estabilidade de ambientes florestais passaram a ser baseadas na biomassa e na densidade de carbono.

Além disso, como publicado pelo pesquisador Sven Wunder, em 2007, na revista Conservation Biology, foi a partir da elaboração destas e de outras metodologias para quantificar e monetizar sequestro de carbono e outros serviços ecossistêmicos seguidos pela criação do Painel Intergovernamental em Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, pela ONU, em 2012,  que o conceito de floresta foi expandido para ecossistemas provedores de múltiplos serviços ecossistêmicos intimamente relacionados à sua biodiversidade.

Intimamente sim, porque – como foi demonstrado, em abril deste ano pelo cientista Anand M. Osuri, na revista Nature – impactos que levem à perda de espécies, em especial aquelas que desempenham papéis chave em florestas tropicais como grandes aves e mamíferos dispersores de sementes, podem afetar diretamente os processos de fixação e formação de estoques de carbono em florestas.

Levou décadas, para que o termo fosse definido como um conceito amplo onde florestas são sistemas altamente complexos, cujas propriedades e características emergem de uma enorme variedade de dinâmicas que ocorrem ao longo de milhares e milhares de anos e propiciam a auto-organização e o surgimento de intrincadas interações entre espécies, como é muito bem destacado pelo estudo científico publicado na revista Conservation Letters, em 2015, por uma equipe de cientistas liderada por Christian Messier.

Casal de tucanos-de-bico-verde (Ramphastos dicolorus) se alimentando de frutos de Palmito-Juçara (Euterpe edulis), uma das interações responsáveis pela resiliência da Mata Atlântica

De volta para o futuro, após nossa breve viagem no tempo, é possível perceber – e é importante ressaltar – que a construção de um conceito para definir o que deveria ser considerado por todos os países do globo uma floresta, não foi um movimento unilateral, exclusivamente político, e nem mesmo foi unicamente definido tendo como base pesquisas científicas mas, foi sim, o resultado de discussões democráticas ao longo de mais de 70 anos durante dezenas de Convenções das Nações Unidas.

Vamos agora voltar à polêmica pergunta que intitula este texto: é possível plantar florestas? Bem.., gostaria de responder esta pergunta com uma outra: é possível recriar as interações responsáveis pela resiliência de uma floresta? E, por último, os projetos de plantio que se auto intitulam como “florestas” – e que eu curiosamente chamo de “florestas de microondas” porque não se preocupam em restaurar a fauna e, as inúmeras interações entre espécies -, todos estes projetos chamados de florestas, estão de fato recriando florestas?

Sabe-se hoje que, para que florestas sejam florestas, é essencial que as árvores possam se reproduzir sem a nossa ajuda, gerando novas populações de indivíduos que, um dia, ocuparão os lugares das árvores adultas, através de uma dinâmica que deverá se repetir ao longo do tempo por gerações e gerações, conferindo resiliência a todo o ecossistema.

Para que esta dinâmica ocorra naturalmente, como já é comprovado desde 1982, quando os pesquisadores Henry Howe e Judith Smallwood publicaram a sua pesquisa sobre animais dispersores de sementes, a imensa maioria das espécies de árvores que habita as florestas tropicais, precisam de uma ajudinha para se reproduzir, precisam que espécies de animais que desempenham papéis chave, tais como, polinizadores e dispersores de sementes, estejam presentes no ambiente.

Quando, por exemplo, dispersores de sementes – espécies chave para florestas, como os belos tucanos e jacus na Mata Atlântica –  estão ausentes, as árvores que evoluíram para oferecer frutos saborosos em troca de uma carona estratégica para levar suas sementes a áreas mais favoráveis ao seu crescimento, simplesmente deixam de se reproduzir de forma eficaz, dando início a um feito cascata que pode levar a alterações tão profundas que podem transformar uma floresta saudável em um ambiente totalmente descaracterizado.

Quais alterações são essas? Inúmeros cientistas como Nuñez-Iturri e Howe já demonstraram as graves consequências da defaunação em florestas, como quando o declínio de grandes vertebrados responsáveis pela dispersão de sementes resulta numa redução de até 60% na abundância de espécies de árvores em uma floresta tropical.

Estudo recente publicado por Matthew G. Bettsa, Adam S. Hadleya, e John Kressb no ano passado, na revista Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America (PNAS), descobriu que a Heliconia tortuosa, umas das espécies de planta consideradas chave para a estabilidade de florestas tropicais da América Central e do Sul, possui um sistema de polinização tão especializado que sua reprodução depende em 80,1% da ação de apenas duas espécies de beija-flores para se reproduzir (uma delas pode ser observada no vídeo abaixo).

O que aconteceria com a floresta se estes animais desaparecessem? É mais do que claro que, sem a conservação das interações entre espécies, como as que ocorrem entre plantas e animais, que evoluíram lado a lado ao longo de milhões de anos e dependem umas das outras para reproduzir, para sobreviver, uma floresta deixa de ser uma floresta, perde sua resiliência e é privada dos mecanismos responsáveis pelo seu funcionamento.

Após décadas de discussão e graças ao trabalho de cientistas geniais que dedicaram suas vidas para desvendar os incríveis mistérios por trás do funcionamento e resiliência das florestas, hoje, é amplamente aceito que florestas são muito, muito mais que um conjunto de árvores: elas são um emaranhado de interações entre espécies tão, mas tão complexo, que os cientistas ainda não estão nem perto de rastrear todas as conexões que existem entre as milhares, ou melhor, milhões de espécies que, habitam as florestas.

Todas estas interações são fundamentais para a sobrevivência das espécies que vivem nestes ambientes. Quando uma floresta perde as complexas interações que a sustenta, torna-se um ambiente formado por peças desconexas, como um notebook arremessado contra a parede, que se transforma em um amontoado com todas as peças ainda lá mas, com todas as conexões destruídas.

Então, se as florestas em essência são gigantescas e complexas teias de interações entre espécies e, mais, são tão frágeis que podem desmoronar na ausência de algumas das interações chaves para sua resiliência, como é possível falar em plantar florestas, sem falar em recriar estas interações?

Além de tudo, algumas destas interações são tão difíceis de se investigar quanto são quase impossíveis de se restaurar. Por este motivo é praticamente impossível considerar um plantio de espécies nativas como uma floresta. Plantios e mesmo ações de restauração florestal, principalmente em áreas isoladas ou distantes de áreas naturais, são uma tentativa inicial de construir um jardim semelhante a uma floresta.

É muito importante entender que, mesmo projetos de restauração florestal considerados eficientes, não atuam simplesmente criando florestas, mas, sim, implementando projetos de plantio de árvores nativas que podem, ou não, após anos serem colonizados por espécies de animais vindas de florestas naturais próximas a esta área. Aliás, não é à toa que o maior desafio desta ciência é a difícil, quase impossível, tarefa de restabelecer a biodiversidade, a estrutura e as complexas relações ecológicas de um bioma.

Assim, seria imoral e antiético batizar projetos que realizam o plantio – sem focar em ações de longo prazo, dedicando décadas para restabelecer interações ecológicas – com o nome de florestas. Não porque projetos de plantio não são importantes – e o são! -, mas porque distorcem o entendimento da opinião pública sobre o conceito de floresta, sobre a capacidade da humanidade de recriar florestas e, principalmente, sobre a importância de conservar as florestas nativas que ainda existem.

Quando isso ocorre, principalmente em um país onde o acesso à informação é limitado e onde a academia pouco se comunica com a imprensa, tanto a opinião pública como tomadores de decisão, formadores de opinião e, até mesmo, a mídia, passam a acreditar e a replicar o perigoso e implausível discurso de que florestas podem ser recriadas com facilidade e eficiência num estalar de dedos.

Possivelmente, você leitor, já consegue imaginar quais as consequências para a conservação da natureza da disseminação deste discurso por todas as camadas da sociedade, não?

Uma das mais nefastas consequências é a banalização de um conceito extremamente complexo, que levou quase um século para ser construído, e que realmente explica o que é uma floresta. Quando este termo é banalizado de uma maneira totalmente equivocada, a sociedade passa a acreditar cegamente em informações distorcidas e, deixa de acreditar em uma verdade absoluta: de que as nossas florestas são únicas e insubstituíveis.

Em um primeiro momento, pode não parecer, mas quando apoiadores, gestores e idealizadores de projetos permitem que suas iniciativas sejam chamadas de florestas, sem esclarecer o verdadeiro caráter de suas ações, estão agindo de forma irresponsável e indiretamente apoiando a destruição de áreas naturais por empreendimentos e grupos politicos que alegam que essas áreas podem facilmente ser recriadas através do plantio em larga escala de espécies nativas.

Então, voltando mais uma vez ao título deste post, ao menos neste século, a resposta é não! Não é possível plantar florestas, não é possível recriar milhares, milhões de interações responsáveis pelo funcionamento destes ambientes. E esta não é apenas a minha resposta, mas, sim, a conclusão de estudos científicos que se dedicaram a investigar o funcionamento de alguns dos mais complexos habitats do mundo.

Mas é possível conservar e proteger as nossas florestas enquanto ainda há tempo e nunca é demais lembrar que florestas não são somente um conjunto de árvores, florestas são biodiversidade, sem animais estes ambientes jamais seriam gigantescos estoques de carbono, essenciais para o equilíbrio do clima do planeta.

Quer entender como a ausência de animais impacta o estoque de carbono nas florestas tropicais do mundo? Acesse o gráfico interativo gerado pela equipe de pesquisadores liderada por Anand M. Osuri, para o estudo Contrasting effects of defaunation on aboveground carbon storage across the global tropics.

Florestas do Parque Nacional da Serra do Itajaí, unidade de conservação brasileira de proteção integral da natureza, Santa Catarina

8 comentários em “Podemos mesmo plantar florestas? Ou esta é apenas uma mentira conveniente

  • 24 de agosto de 2016 em 10:12 AM
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    Foi uma das surpresas, ao começar o estudo de biologia, o fato de nem toda floresta ser uma floresta. Descobri logo os vazios verdes em meus primeiros trabalhos de campo. Mas acho que é possível sim plantar florestas. Não como eram antes. Isso nunca serão, até porque mesmo as primárias já não o são – mudam constantemente. Sempre se fala nos dispersores de sementes etc. mas impossível é recriar o ambiente (na minha opinião) justamente pelos seres minúsculos e mais desprezados, como os insetos. Onde se lê sobre projetos de refaunação com insetos? Sendo eles tão essenciais ao caminho para se criar uma floresta tal qual dita aqui. Ainda assim, reservas como a REGUA mostram que aos poucos conseguimos criar sim florestas – as novas florestas, as que podem cohabitar conosco e apresentam uma fauna e flora compatíveis com as do passado, mas claramente diferentes. Florestas que atraiam de volta os animais e sejam capazes de serem repovoadas por aqueles que estão distantes demais. Florestas que abriguem também a convivência humana, necessária para a preservação e expansão da consciência ambiental. Florestas vivas.

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  • 24 de agosto de 2016 em 10:56 PM
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    O caminho temporal e racional, descrito por Sandro Von Matter, para a lenta e justa construção do conceito de floresta, acende um pouco a chama do otimismo e da esperança, ao ver-se que já possível dizer que existe uma história da luta pela preservação da natureza. Sofremos apenas, e aí mais duramente, quando constatamos que, certamente, por trás da banalização do conceito florestal, como disse Sandro, exista uma comunidade de mal intencionados e aproveitadores da fé pública que, camuflados por estes subterfúgios, e desejos de verem prevalecer seus interesses econômicos nefastos, estejam a produzir mais malefícios para a conservação da natureza. Embora os inegáveis esforços de proteção implementados por alguns setores, a cerca da sobrevivência das nossas depauperadas florestas, e em vista dos evidentes riscos que elas correm, só se pode concluir que há muito mais a se temer do que propriamente de se comemorar.

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  • 25 de agosto de 2016 em 2:13 PM
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    Parabéns pelo texto Sandro. Algumas implicações interessantes a considerar na avaliação do que efetivamente são florestas seria a comparação da dinâmica de florestas primárias e “florestas” secundárias. Fiquei curioso em saber se estudos com amostragem satisfatória já foram conduzidos em regiões neotropicais. Posso mencionar a floresta (?) da Tijuca, iniciativa de D. Pedro II, visando particularmente a recuperação de mananciais no Rio de Janeiro como exemplo. Seria hoje esse ambiente uma fração da floresta atlântica original do local? Que fração, após mais de 150 anos do início do plantio? Outro aspecto se refere ao conceito de redundância ecológica. Se em termos práticos é inviável recompor todas as interações (tomando-se por base as interações existentes em um momento x de uma floresta primária), de que forma a “construção” de interações “básicas” poderia tornar essa “floresta” funcionalmente mais próxima da floresta primária? Seriam os corredores ecológicos formas de potencializar essa reestruturação e nesse sentido, muito mais prioritários que manter ou criar fragmentos de floresta genética e ecologicamente inviáveis? São apenas alguns questionamentos de um ecólogo.

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  • 25 de agosto de 2016 em 9:29 PM
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    Sandro Von Matter usa uma didática paciente e detalhista, recorrendo a diversas situações passadas que buscaram uma definição do que é uma floresta, para explicitar o drama da malversação que representam muitos dos esforços de conservação que vem sendo realizados no mundo e no Brasil. A falta de noção de prioridade para a definição de estratégias de conservação da biodiversidade em diferentes sítios é fato recorrente. E provavelmente preponderante. Há de se reconhecer que o esforço representado pelo plantio de árvores, seja lá como for, exerce fascínio tão enebriante quanto superficial, na maioria das pessoas. Um verdadeiro ópio que satisfaz tão plenamente que não permite que a intervenção que realmente precisa ser feita, tenha chances de acontecer. A crítica é muito pertinente. E representa um alento para com a evolução de esforços distintos de restauração de áreas degradadas, que precisam ser submetidos a uma condição de crivo em relação à sua efetividade. Mas o apoio propiciado por esse ensaio é ainda maior ao explicitar a importância de remanescentes ainda não destruídos pela saga madeireira e pela degradação. Em última instância, desdenha de iniciativas como por exemplo, as indicações de compensação por áreas desmatadas que insinuam ser suficiente “restaurar” uma área de igual tamanho. Ou falácias que ainda preconizam o manejo florestal de áreas nativas como “solução para a conservação das florestas”. Por incrível que pareça, no Paraná, onde destruímos quase por completo a Florestas com Araucária, em boa parte a partir de planos de manejo aprovados e licenciados pelo poder público, essa tese sem sentido ainda é sustentada dentro de instâncias de governo e por indivíduos da academia. Impressionante o poder de aliciamento dos políticos madeireiros, mesmo num momento em que a matéria prima que dizimaram praticamente já não mais existe. E que complicado explicar o óbvio, até dentro da academia. Mas também em muitos outros nichos de inteligência mal direcionada. Parabéns pela aula oferecida para quem quiser assimilar a realidade e a complexidade da desafio de conservar a natureza.

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  • 26 de agosto de 2016 em 9:31 AM
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    Muito oportuno seu artigo neste momento em que estão devastando o que resta da Mata Atlântica, sobretudo em Santa Catarina, exterminando para sempre milhares de espécies de animais e plantas e ninguém está se importando com esta tragédia. A devastação é o lucrativo negócios de muitas pessoas desonestas que criam ONGs para surfar na ignorância das pessoas com propostas de plantar mudinhas de árvores como se esta complexidade de milhares de espécies de animais e plantas e demais seres vivos dos ecossistemas da Mata Atlântica ressurgissem ou ressuscitasssem depois. Pior: diante de tanto desmatamento e escassez de recursos para combatê-lo, são destinadas (desperdiçadas) verbas públicas e de estatais, como a Petrobras, para alimentar esta ignorância de plantar árvores. A falta de lógica desta malandragem que muitos não percebem é que os terrenos são propriedades privadas e que os donos se arriscaram de levar uma multa e serem processados por ter desmatado (para valorizar o imóvel) por que permitiriam depois estas ONGs plantarem árvores nativas com dinheiro público? Outra questão é que após alguns meses as mudas são sufocadas pela vegetação rasteira, cipós, bambuzais etc. As ONGs precisariam dar manutenção por pelo menos 50 anos para poderem verificar se o projeto deu certo e não apenas plantar a as mudinhas e dizer que recuperaram a área. Já no século 19 havia denúncia de desvio de recursos públicos para plantar árvores para “recuperar” a Floresta da Tijuca no Rio de Janeiro. Documentos apontam que houve superfaturamento no preço das mudas. Anos mais tarde conclui-se que a recuperação da Floresta da Tijuca se deu de forma natural (sementes dispersadas pela fauna e vento das matas nativas do entorno). De fato, constam em documentos que foram plantadas ali até mudas (superfaturadas) de erva-mate, araucárias, imbuia e centenas de outras espécies exóticas.

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  • 28 de agosto de 2016 em 1:38 PM
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    Na minha visão permacultural, é possível sim restaurar uma floresta. Lógicamente o tamanho da floresta e o tempo depende do tamanho do território. A Zona 5 da Permacultura, é o caso, desde que não haja interferência humana e que deixe a sucessão acontecer.

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  • 2 de setembro de 2016 em 6:10 PM
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    Excelente matéria! As técnicas de restauração florestal através da nucleação (ver Bechara et al., 2016; Biodivers Conserv) almejam um caminho alternativo ao plantio de árvores em área total.

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  • 9 de setembro de 2018 em 8:02 PM
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    Como falar em preservar florestas se milhares de brasileiros saem dos bancos do ensino fundamental sem saber o que significa xilema e floema ? A quem interessa a preservação de florestas se olham para elas como se fosse um amontoado de paus, folhas, insetos e bichos que incomodam ? No google a definição de floresta é “uma área com alta densidade de árvores” . A primeira leva de humanos constituída pelos índios, modificou a floresta primária principalmente a Mata Atlântica, a segunda leva, constituída pelos europeus acentuou o desmatamento; a tecnologia nas mãos dos políticos representados pelos grandes latifúndios criadores de pastos para o gado, seguidos pelos plantadores de soja principalmente, encaram a floresta como algo inútil e que atrapalha seus negócios. Um sobrevoo ao nosso país fronteiriço, o Uruguai, mostra que o conceito de mata ciliar é uma piada. Infelizmente vamos perder uma diversidade vegetal, de insetos e animais sem precedentes. A Mata Atlântica hoje é a floresta da Amazônia de amanhã.

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Sandro Von Matter

Pesquisador em ecologia e conservação, se dedica a investigar questões sobre o topo das florestas tropicais e as fascinantes interações entre animais e plantas. Hoje, à frente do Instituto Passarinhar, é um dos pioneiros em ciência cidadã no Brasil, e desenvolve projetos em conservação da biodiversidade e restauração ecológica, criando soluções para tornar os centros urbanos mais verdes.