Poda: o lugar certo, na hora certa

tesoura de poda

Você já ouviu falar que devemos cortar nosso cabelo com certa frequência para que ele cresça mais forte e saudável? Bem, o mesmo acontece com as plantas. Mas nem sempre sabemos qual a hora certa para fazer isso. Em primeiro lugar, precisamos saber quais tipos de plantas precisam de poda e por quê.

Infelizmente, não existe uma resposta simples. Quando tratamos  de assuntos complexos, como as fases da vida das plantas, a biodiversidade e tantos climas diferentes num mesmo país, as respostas podem ser tão variadas quanto às situações, mas podemos partir do principio de que esse costume de podar, existe por causa da coexistência das plantas com os seres humanos. Afinal, na natureza a poda não existe, já que ela ocorre naturalmente sem a intervenção humana.

A poda natural acontece, por exemplo, quando animais recorrem às folhas para se alimentar ou então, a temperatura das estações do ano fazem seu papel: o frio do inverno ou o calor do verão delimitam o crescimento das plantas.

Durante o inverno, a dormência vegetativa ocorre naturalmente. A seiva se torna mais densa e o metabolismo desacelera pela mudança da temperatura e da luz. Consequentemente ocorre a queda das folhas e alguns ramos lenhosos pela ação dos ventos e das chuvas, ou como ocorre no Cerrado, pela estiagem e o longo período de seca que se estenderá até meados de setembro.

Mas em nossos jardins, podemos ter três tipos de poda:

  • Poda de formação 

Usada  para definir a forma de acordo com o padrão de cultivo, segundo os interesses econômicos. Ela dá a direção no crescimento de uma planta. Costuma-se fazer com frutíferas no principio do desenvolvimento, primeiro levando-as à uma altura padrão, evitando a formação de troncos múltiplos, e depois abrindo-as  numa copa bem dividida em duas ou três frentes para melhorar  a distribuição do sol no interior da árvore. Esta poda também favorece a produção e a colheita de frutos. Pode-se fazer  isso também com algumas trepadeiras para evitar galhos ladrões, fortalecendo assim os ramos principais e a produção de flores.

Em geral a poda de formação ocorre enquanto a planta ainda é jovem e durante o período de dormência vegetativa, o que nem sempre irá coincidir com o inverno.

Quando a poda é feita sistematicamente (repetidamente) para dar forma, como nos casos das cercas vivas, a porção que se corta será sempre verde, sem ramos lenhosos e isto, quando praticado corretamente, não prejudica a planta, mas cria uma forte demanda de nutrientes, que precisa ser sanada semestralmente com aplicação de adubo.

No caso das roseiras, no dia mais frio e longo do ano, pode-se cortar os ramos compridos que cresceram sem muitas folhas. Faça isso sempre acima da cicatriz da poda do ano anterior, onde a planta se subdivide em vários ramos. Observe os anéis de crescimento junto às gemas. Pode-as sempre acima das última bifurcação.

Como já ressaltei anteriormente, é  muito importante saber mais detalhes sobre o tipo de planta que se quer podar, pois para cada tipo, existem detalhes diferentes. É o caso dos pinheiros, que possuem seiva resinosa e não admitem podas nos troncos e ramos lenhosos, mas somente nas folhas mais novas. Uma vez cortados, os ramos lenhosos não voltarão a crescer. O mesmo ocorre com sebes feitas com Ficus Benjamina e Pingo de Ouro (Duranta Câmara). O corte de lenho representa muita perda de energia para a planta, portanto pense bem antes de se entusiasmar com a tesoura.

Outra recomendação importante é sempre ferver a tesoura de poda por cinco minutos ou higienizá-la com água sanitária para evitar a propagação de viroses de uma planta para a outra. Ao final da operação, a aplicação de um antisséptico nos ramos cortados favorecerá a cicatrização. Aplique um chá forte de canela com cravo e se a parte cortada for maior do que 2cm de diâmetro, o uso da pasta Bordaleza  é recomendável.

  • Poda reparadora

Este tipo de poda é efetuada para consertar estragos feitos pelas chuvas e ventos, como a queda de galhos e árvores. Ela requer análise e reflexão, pois pode ser como uma cirurgia: um ato entre entre a vida e a morte de uma árvore. Para saber se esta poda deve mesmo ser feita, primeiro observe o equilíbrio da planta. Se por acaso a parte afetada englobar  mais de 1/3 de seu total, poderá oferecer risco de queda pelo desbalanceamento da parte remanescente? Este risco poderá causar danos às casas, passeios ou transeuntes? Haverá possibilidade de rebrote no ramo cortado? Haverá espaço para estes novos rebrotes?

Caso o rompimento de um tronco seja de árvore ou arbusto, trepadeira ou herbácea (salvo frutíferas enxertadas e pinheiros) na base do tronco, expondo seu cerne, o corte pela base é o mais indicado. A possibilidade das raízes produzirem um novo ramo será grande e caberá depois aos donos do terreno, escolher quais destes ramos ficará para se desenvolver mais tarde, sendo necessário o desbaste de múltiplos ramos em detrimento de um.

Lamentavelmente, um acidente no jardim pode acarretar num grande desgosto e cabe ao proprietário ponderar se convém poupar a vida de uma árvore ou planta mutilada e desequilibrada, pois este pode oferecer ainda maiores riscos ao entorno. Lembre-se de observar cabos elétricos e conexões hidráulicas e ainda, que as raízes sejam iguais à projeção da copa. A consulta de um especialista será sempre bem vinda nesses casos e se a planta for parte da arborização urbana, caberá somente à prefeitura ou município efetuar tal serviço.

  • Poda de limpeza  ou revitalização

Esta é aquele tipo de poda que se faz quando passou muito tempo sem que o jardineiro ou o sol tenham entrado no jardim. É apenas a remoção de galhos velhos e secos, folhas murchas e talos secos, muito comuns de ocorrer numa casa nova, cujo jardim cresceu sem limites por várias temporadas, deixando ramos mortos e desordenados. Ela funciona como um corte de cabelos, trazendo nova luz ao interior das plantas e revitalizando-as.

Por último, um alerta: colheita não é poda!

Para cortar ramos de ervas, procure evitar cortar as partes lenhosas. Com o manjericão, faça cortes regularmente a cada semana, mas alterne entre os ramos, deixando sempre um espaço aberto para que novas folhas cresçam no espaço que ficar. Faça o mesmo para a colheita do orégano e do tomilho.

O lenho é a parte duradoura das ervas, onde elas guardam nutrientes oleosos para combater o stress hídrico (a falta de água). Somente deve-se cortar para fazer novas mudas. Tenha em mente que aquelas folhas que compramos no mercado são cultivadas em condições especiais para o corte, com luzes artificiais, irrigação temporizada em estufas, assim as folhas ficam mais tenras e se reproduzem mais rápido. Colhidas de um cultivo aberto sem esses requintes, as plantas serão mais secas e aromáticas.

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Foto; domínio público/pixabay

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Liliana Allodi

Geógrafa, paisagista, educadora ambiental e ilustradora científica. Começou a carreira em São Paulo como consultora paisagística. Durante 10 anos viveu no exterior (Austrália, Israel e USA) e neste último país, firmou suas habilidades para trabalhar com crianças. Atualmente dá aulas de horticultura para alunos do Ensino Fundamental, em Brasília. Também desenvolve projetos junto à Cia da Horta para centros de ensino, clubes e empresas.