Pesquisadores laureados com o Prêmio Nobel fazem apelo a Temer, em carta, pela Ciência


Os retrocessos e cortes de verbas para o desenvolvimento da Ciência e sua manutenção no Brasil têm tirado o sono de pesquisadores brasileiros e provocado a academia e a comunidade científica pelo mundo.

Na semana passada, diretores de doze dos maiores museus de história natural do mundo enviaram carta de apoio ao Museu Goeldi, manifestando preocupação com a crise vivida pela instituição que se traduzirá em seu fechamento e ameaça à preservação de suas coleções científicas. Na sexta, 30/9, foi a vez de 23 laureados com o Prêmio Nobel de Física, Química e Medicina: eles enviaram carta a Michel Temer para falar de sua “grande preocupação com a situação da ciência e da tecnologia” no país, solicitando que este reveja a decisão de seu governo de aplicar novos cortes nos orçamentos “antes que seja tarde demais”. O governo disse que só se pronunciaria hoje a respeito da iniciativa.

A situação é realmente preocupante! Este ano, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação (MCTIC) reduziu o orçamento em 44%, o que resultou no montante de 3,2 bilhões, ou 1/3 da verba de 2013. Como se isso não bastasse, já anunciou novo corte para o ano que vem: mais 15,5%, o que deixaria o setor com apenas R$ 2,7 bilhões. São cerca de 8 mil reais a cada minuto!

E, por isso, o documento assinado pelo físico francês Claude Cohen-Tannoudji ressalta o óbvio tão necessário ser lembrado: que a medida “prejudicaria o Brasil por muitos anos, com o desmantelamento de grupos de pesquisa renomados internacionalmente, e uma evasão de cérebros que afetaria os melhores jovens cientistas”.

Os renomados cientistas reconhecem a crise econômica pela qual passa o Brasil, claro, mas não a responsabilizam pelas medidas. Eles lembram que países com visão de vanguarda, que passaram por situação semelhante, adotaram cortes entre 5% e 10% nesse setor, pois entendem que o futuro depende da Ciência. O que o governo Temer tem feito é colocar nosso futuro em seríssimo risco, inviabilizando a continuidade da pesquisa científica, com consequências irreversíveis.

O apelo internacional vem se somar ao da comunidade brasileira de pesquisadores, que têm se mobilizado e feito apelos diretos aos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Dyogo Oliveira, sem retorno. Quem sabe, assim, o governo Temer volta atrás. Está mais do que na hora de o Brasil considerar educação e ciência como investimentos no futuro, no desenvolvimento e na competitividade, e não como gastos.

‘Conhecimento Sem Cortes’ e Tesourômetro: de olho na redução de verbas


Com o apoio da SBPC – Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, entre outras instituições, cientistas, estudantes, professores, técnicos e pesquisadores lançaram, em junho, o movimento Conhecimento Sem Cortes, na Casa da Ciência, no Rio de Janeiro.

A iniciativa – criada para monitorar e denunciar cortes e buscar o apoio dos brasileiros para pressionar o governo federal a fim de garantir o funcionamento das instituições de ensino e de pesquisa e evitar seu sucateamento – reúne a Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (AdUFRJ), o Sindicato dos Institutos Federais do Rio de Janeiro (Sintifrj), a Associação dos Professores da Universidade Federal de Minas Gerais (Apubh) e a Associação dos Docentes da Universidade de Brasília (ADUnB).

“Os ambientes de ensino superior e de pesquisa científica são fundamentais na busca de soluções para combater a pobreza, a violência, melhorar a saúde e a educação da população e proporcionar maior eficiência e sustentabilidade socioambiental nos projetos que visam o crescimento do país e a diminuição das desigualdades”, diz o site da campanha, que mantém petição online, além do Tesourômetro do Conhecimento. Lançado em julho, ele revela, a cada segundo, o valor dos cortes do governo no orçamento das universidades públicas e da ciência e tecnologia.

Acompanhe as ações das duas iniciativas pelo Facebook e ajude a espalhar as hashtags #ConhecimentoSemCortes e #TesourômetroDoConhecimento.

A carta, na íntegra

Agora, leia a carta escrita por 23 cientistas laureados pelo Prêmio Nobel para Temer.

“Vossa excelência Presidente Michel Temer,

Nós, os assinados abaixo ganhadores do prêmio Nobel, estamos escrevendo para expressar nossa forte preocupação sobre a situação da Ciência e Tecnologia no Brasil. O orçamento para pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações sofreu um corte de 44% em 2017, e um novo corte de 15,5% é esperado para 2018. Isso vai prejudicar o país por muitos anos, com o desmantelamento de grupos internacionalmente renomados e uma ‘fuga de cérebros’ que irá afetar os melhores e jovens cientistas.

Enquanto em outros países a crise econômica levou, às vezes, a cortes orçamentários de 5% a 10% para a ciência, um corte de mais de 50% é impossível de ser acomodado, e irá comprometer seriamente o futuro do país.

Nós sabemos que a situação econômica do Brasil está muito complicada, mas pedimos que reconsidere sua decisão antes que seja tarde demais.”.

Nobel de Medicina

Harold Varmus (1989)
Jules Hoffman (2011)
Tim Hunt (2001)
Torsten Wiesel (1981)

Nobel de Química
Ada Yonath (2
009)
Dan Shechtmann (2011)
Jean-Marie Lehn (1987)
Johann Deisenhofer (1988)
Martin Chalfie (2008)
Robert Huber (1988)
Venkatraman Ramakrishnan (2009)
Yuan T. Lee (1986)

Nobel de Física
Albert Fert (2007)
Andre Geim (2010)
Arthur McDonald (2015)
Claude Cohen-Tannoudji (1977)
David Gross (2004)
Frederic Duncan M. Haldane (2016)
Jerome Friedman (1990)
Klaus von Klitzing (1985)
Robert B. Laughlin (1998)
Serge Haroche (2012)
Takaaki Kajita (2015)

Foto: Divulgação/Conhecimento Sem Cortes

Um comentário em “Pesquisadores laureados com o Prêmio Nobel fazem apelo a Temer, em carta, pela Ciência

  • 2 de outubro de 2017 em 2:57 PM
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    É MUITO TRISTE VER ESTES CORTES ACONTECENDO, ONDE DEVERIA TER AUMENTO. SÓ
    UM GOVERNO COMO O DO Sr. TEMER, SE DEPARA COM TAMANHA BESTEIRA . UM HOMEM
    QUE PARECE QUE NÃO TEM JUÍZO. JOGANDO OS RECURSOS DO PAÍS EM TROCA DE SUA
    POSIÇÃO DE PRESIDENTE. QUE DE PRESIDENTE SÓ TEM O NOME. ELE É REALMENTE UM
    DOS CORRUPTOS MAIS DESCARADO DO NOSSO PAÍS. SÓ NA CABEÇA DELE. QUE SE ACHA
    INOCENTE DOS ATOS PRATICADOS. INDECOROSAMENTE PARA O CARGO QUE OCUPA..
    A ÚNICA CERTEZA QUE TEMOS É QUE ELE VAI PAGAR PELOS ATOS COMETIDOS PERANTE
    DEUS. A ÚNICA JUSTIÇA QUE TARDA MAIS NÃO FALHA. O MUNDO INTEIRO VERÁS.

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Mônica Nunes

Jornalista com experiência em revistas e internet, escreveu sobre moda, luxo, saúde, educação financeira e sustentabilidade. Trabalhou durante 14 anos na Editora Abril. Foi editora na revista Claudia, no site feminino Paralela, e colaborou com Você S.A. e Capricho. Por oito anos, dirigiu o premiado site Planeta Sustentável, da mesma editora, considerado pela United Nations Foundation como o maior portal no tema. Integrou a Rede de Mulheres Líderes em Sustentabilidade e, em 2015, participou da conferência TEDxSãoPaulo.