Passarinhaço: que tal protestar pela conservação das aves brasileiras?

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O Brasil abriga impressionantes 1.999 espécies de aves, segundo o Comitê Brasileiro de Registro Ornitológicos. Estes belos seres emplumados ocupam todos os nossos biomas ao longo de milhares de quilômetros, florestas, montanhas, praias, além de praças e parques em pequenas e grandes cidades.

Essas centenas de aves brasileiras não apenas alegram o dia a dia dos seres humanos como também cumprem inúmeras funções ecológicas. Cientistas já provaram, por exemplo, que a ausência de determinadas espécies dispersoras de sementes no bioma da Mata Atlântica, pode levar a um efeito cascata que desencadearia o colapso do ecossistema e a perda de dezenas de serviços imprescindíveis para a sobrevivência de nossas cidades (falei sobre isso, aqui, no blog).

Infelizmente, nosso país tem uma das maiores biodiversidades em aves do mundo e é, também, o primeiro em espécies classificadas como ameaçadas ou em risco de extinção. De acordo com dados  do ICMBio, cerca de 233 espécies de aves podem desaparecer para sempre se ações imediatas para sua conservação não forem adotadas.

Vale lembrar que muitas destas aves são endêmicas do país, ou seja, exclusivas do Brasil, não ocorrem em nenhum outro local do mundo.

Embora dezenas de voluntários, cientistas e instituições se dediquem a salvar estes animais, a verdade é que todo este esforço não tem sido suficiente e, a cada ano, o número de aves extintas aumenta, vítimas do desmatamento e do tráfico ilegal de animais.

O problema é ainda maior porque a grande maioria da população brasileira desconhece  a existência destas espécies e também não sabe que estas aves correm risco de extinção.

Por este motivo, o Instituto Passarinhar, idealizou uma campanha revolucionária para disseminar informações sobre as espécies ameaçadas e engajar a sociedade civil na luta pela sua conservação: Passarinhaço.

Trata-se de um protesto em prol das aves brasileiras ameaçadas. O objetivo maior da campanha é informar e chamar a atenção de todos – cidadãos, autoridades, gestores, empresários e tomadores de decisão – para a urgência da implementação de projetos visando proteger estas aves.

O protesto desta semana é a favor da conservação do mutum-de-bico-vermelho (Crax blumenbachii, na foto que abre este post e também na imagem acima), criticamente ameaçado de extinção.

As belas aves do vídeo abaixo, registradas pelo genial ambientalista Ciro Albano, podem pesar até 3 quilos e medir entre 80 e 93 cm de comprimento. Os machos possuem plumagem escura e bico vermelho, já as fêmeas têm a barriga marrom.

Como participar do #Passarinhaço

É muito simples e não precisa nem sair de casa. Basta baixar o som do canto da ave em risco de extinção aqui ou na página do Facebook do Instituto Passarinhar e, no dia e hora programado, tocar este som por 25 minutos aí mesmo na sua janela.

A cada protesto, uma nova ave brasileira ameaçada de extinção será homenageada. O primeiro Passarinhaço aconteceu em 27/3, às 10h15. Fique de olho para acompanhar o próximo.

É muito importante que você registre o seu protesto, por isso, compartilhe sua participação nas redes sociais com a hashtag #passarinhaço e envie fotos para nossa página no Facebook ou simplesmente preencha, de forma anônima, o formulário de participação ou no site.

Com o seu registro, você colocará seu protesto no mapa virtual do Passarinhaço e nos ajudará a contabilizar o número de pessoas engajadas em todo país. Veja, abaixo, mais detalhes sobre como participar:

passarinhaço

Fotos: Christine Steiner Bernardo
Som (gravação indicada no texto): Roney Souza

7 comentários em “Passarinhaço: que tal protestar pela conservação das aves brasileiras?

    • 9 de abril de 2016 em 11:32 AM
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      Caro Marcelino,
      Obrigado pela visita e pelo elogio ao programa do Instituto.

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  • 26 de março de 2016 em 7:52 PM
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    Pessoal, e quanto a interferência em outras aves?
    O estresse por ouvir sons de outras aves…

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    • 9 de abril de 2016 em 11:41 AM
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      Olá Cassiana,

      O desenvolvimento do programa Passarinhaço dentro do Instituto Passarinhar, considerou a possibilidade de impacto que o som poderia causar em outras aves.

      Foi realizado um estudo aprofundado sobre o tema, consultando a literatura científica internacional e, um projeto piloto, para escolher para o programa somente aves ameaçadas de extinção, que além de apresentarem ocorrência rara não são categorizadas como predadores, como por exemplo as aves de rapina.

      Desta forma, as aves que ouvirem o som nos locais dos protestos, não sofreram estresse, primeiro por não se trata de uma espécie que poderia predá-las e segundo, por não se tratar de um indivíduo competindo por espaço. Aves defendem o território da entrada de indivíduos da mesma espécie, mas convivem bem com indivíduos de espécies diferentes.

      Certamente algumas aves ficaram “curiosas” podendo inclusive se aproximar, mas não haverá risco de impacto nas populações de aves do local.

      Atenciosamente,
      Sandro

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  • 29 de março de 2016 em 1:13 PM
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    Parabéns pela iniciativa! Tô nessa!

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    • 9 de abril de 2016 em 11:41 AM
      Permalink

      Obrigado pela visita Fátima, um bom dia.

      Resposta

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Sandro Von Matter

Pesquisador em ecologia e conservação, se dedica a investigar questões sobre o topo das florestas tropicais e as fascinantes interações entre animais e plantas. Hoje, à frente do Instituto Passarinhar, é um dos pioneiros em ciência cidadã no Brasil, e desenvolve projetos em conservação da biodiversidade e restauração ecológica, criando soluções para tornar os centros urbanos mais verdes.