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Pão de Açúcar, pão com salsicha, indulgência ou pé na jaca

Pão de Açúcar, pão com salsicha, indulgência ou pé na jaca

Quantas vezes fui ao Rio de Janeiro? Mais a trabalho do que a passeio. Queria tanto uma viagem de turista, pra abrir os braços sobre a Guanabara, que nem o imenso Cristo; passear pelo Jardim Botânico, estas coisas pra guardar nos olhos e nas fotografias.

Programamos um fim de semana e fomos ao Rio brincar de turista. Pão de Açúcar, domingo de sol, a vista é mesmo linda. Um sem fim de mar, as montanhas tão próximas. E nós, ali, olhando tudo de cima. Num lugar destes, numa hora destas, conversar é quase desnecessário, mas sempre tem uma vontade de puxar conversa fiada, que seja…

– Filho, sabia que se você nadar, nadar e nadar chega na África?

Ele riu. E seguiu interessado na paisagem.Também ri. Do meu lado, um senhor sorridente ouviu e fechou o riso na hora. Olhou intrigado para o mar esparramado ali embaixo.

– Chega mesmo? – ele teve a liberdade incontrolável de me perguntar.

Me olhou sério. E pude perceber no olhar uma curiosidade incrédula ainda. Aquele senhor estava sinceramente maravilhado com a possibilidade de ter a África além do mar.

– É verdade. Estamos deste lado do oceano. Do outro, é a África – respondi, respeitosamente.
– Ahhh…

E ficou contemplativo, misto de felicidade com espanto. Como alguém que tivesse alargado o horizonte visível. Mudei de ângulo, desci uma escada, fui olhar o lado de lá. Lindo igual. Meu filho gostando da altura, do vento

– Moça, moça… Já que a senhora é tão sabida… e se eu nadar daqui? Onde eu chego?

Até hoje, me lembro desta história, que me leva a “A Outra Noite”, de Rubem Braga. Lá, o autor, no táxi, comenta com o amigo que as estrelas e o luar continuavam no céu, em noite nublada. “sim, acima da nossa noite preta e enlamaçada e torpe havia uma outra – pura, perfeita e linda”. E o taxista ouve, se encanta e olha o céu, através das nuvens…

Naquela tarde, no Pão de Açúcar, não tinha nuvem.Tinha, sim, um mar no meio da admiração. Um continente através do mar. O outro mar.

**************

Ainda no Rio, tantas outras vezes em que fui a trabalho. E era do aeroporto para o trabalho, do trabalho para o aeroporto. O mar, eu via de dentro do táxi. Num destes fins de expediente, no saguão do aeroporto, à espera do voo, eu dividia com vários engravatados e mulheres empoleiradas em salto alto a sobriedade reservada a quem ousa trabalhar no Rio. Dentre estes viventes todos, o homem de terno, olhos atentos ao celular no balcão da cafeteria, seria a típica imagem de mais um executivo. E pronto.

Mas ali, à espera do voo, nenhum conhecido à vista, deu-se a plena permissão de pedir um… Toddynho. Compenetrado em se ocupar de não sei quê na pequena te la do smartphone, sugava pelo canudinho – calmamente e sem nenhuma culpa – o conteúdo da caixinha. Em casa, nem pensar, imagino eu. E ainda deve impor limites ao filho:

– Achocolatado, todo dia, não, meu filho. Deixa este pra levar amanhã, de lanchinho na escola.

Mas, aqui no aeroporto, seguia sorvendo o chocolate nem tão proibido assim.

Frente a esta imagem, me solidarizo:

– Por favor, um enroladinho de salsicha e uma coca com gelo.

Nenhum conhecido à vista. Espero séria e solenemente meu voo de volta pra casa.

***********

Hoje, não tem receita. Estamos perto de um feriado. Dia do trabalho. Relaxa. Se tiver festa de criança, coma doce, coma bolinha de queijo, aqueles frituras divinas de coqueteis. Se você for ou não for viajar, esbarre numa padaria. Peça a coxinha mais dourada, quentinha. Vá pro boteco, peça uma porção de mandioquinha frita, pão com mortadela. E tome refrigerante, se der vontade, cervejinha, se der vontade. Desça do salto, desengravate. Escolha a palavra que te define neste momento: indulgência pra ser fina(o) ou pé na jaca, sem pudor. Divirta-se no feriado. Um abraço.

Foto: reprodução Facebook Bondinho do Pão de Açúcar

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